Quatro dias num cruzeiro (Tânger)
Consolei em Tânger a minha expectativa de uma cidade marroquina. Muitas palmeiras, aldeamentos brancos, caóticos, muros rendilhados…
Parámos no Cabo Espartel, um lugar onde o Atlântico conversa com o Mediterrâneo. E pude admirá-lo através da gruta de Hércules. Tentei lembrar-me qual dos doze trabalhos teria ele realizado ali, mas… assim de repente, não estou a ver…
Centauros!?... Isso foi na Grécia, no Monte Pelion. Não tem nada a ver com Marrocos. As leituras reduzidas aos sumários dos tempos de estudante revelam-se nas ignorâncias em Geografia e em Mitologia.
Seja como for, no Cabo Espartel tive o contacto mais próximo com algo relativo ao deserto – o camelo. Camelo ou dromedário que eu nunca me lembro qual deles tem uma ou duas bossas. Mas o deserto não vi. Outras paragens. Vou morrer sem ver o deserto. E ao tempo em que escrevo o terceiro e penúltimo relato da viagem posso dizer que não andei perdida no deserto mas tenho Porto aqui tão perto.
Ó Infante sabe que a sua figura de homem feio, porém de olhar doce, vestido de preto sempre me fascinou? A sua ganância empurrou-o para as navegações, contudo, a sua grande ambição foi sempre a conquista das cidades mouras.
Chamam-lhe Henrique, o navegador … mas navegar, navegar, o Infante só navegou até Marrocos. A História tem histórias hilariantes.
A visita incluía uma visita a uma botica. A demonstração dos produtos feita pelo boticário foi divina. Ai de quem falasse, ai de quem o interrompesse. Quebrava-lhe o discurso decorado nas vírgulas em espanhol. Os seus dois empregados sempre atentos ao andamento da banha da cobra mostravam os produtos a todos os ouvintes sentados a toda a roda da farmácia. no fim todos tinham um saco para encher. Creio que fui a única que não comprei nada. Mas fiquei com a memória de uma grande exibição.
Por falar em cobras… não resisti. Mas que tive medo, tive. O VP viu na minha cara a enorme vontade de experimentar e empurrou-me palavrosamente, pressionando-me com fotos para o blog. E de repente lá estava eu, a sentir a cobra morna e macia, deslizando no meu pescoço suavemente, cada vez mais firme mas sempre, sempre deslizando muito suave. Um horror! Mas uma sensação única.
Regateei! Mas não consegui levar a minha avante. Mas os vendedores também não levaram a deles. Ou seja, ninguém levou nada. Decididamente, não tenho jeito para negócios.
Os jantares a bordo do navio eram momentos muito bons. O grupo reunia-se, conversava e ria.
Por fim, no outro dia regressaríamos.
Da Leonor