De manhã começa o dia
No cacilheiro descanso, de corpo desconsolado a escorrer água. Os dez minutos da viagem depressa chegam ao fim e muito antes do barco atracar muita gente já se levantou para serem os primeiros a sairem. A camioneta e o metro não esperam.
Sou das últimas a sair. Detesto apertos. Aguento-me nos solavancos dados pelas ondas em passos estudados para não cair. À saída da estação fluvial, surpresa das surpresas. Todo o espaço que havia para alcançar a estação do comboio estava alagado com pelo menos vinte centímetros de água. São 8 horas da manhã.
Tenho mau acordar. Só começo a conviver pacificamente por volta das dez horas. Eu tinha acabado de sair da cama há uma hora e já começava a atravessar riachos de mochila às costas. Corri de um lado ao outro procurando uma brecha, à laia do Antigo Testamento quando Moisés foge com os judeus do Egipto. Mas não havia. Arrisquei. Atravessei uns cinco metros de água, horrorosamente gelada, encharcando as minhas sapatilhas keds, as minhas calças de ganga Miss Sixty até ao joelho . Felizmente não havia piranhas.
Sentei-me no comboio em direcção a Cascais. Fiz o resto da viagem até à escola, esperando, no mínimo, ver pela janela sardinhas voadoras. Mas não aconteceu mais nada. Foi-me dado tempo para disfrutar os meus pés encharcados até aos ossos.
Na volta, reparei na excelente estratégia arranjada para atravessar o lago: duas rampas de ferro apoiadas ao meio e às pontas por três armações de traves em madeira. No dia seguinte, as rampas continuavam lá, mas ligeiramente afastadas para o lado não fossem serem precisas nos tempos futuros.
Estamos na capital. O que diria Cesário Verde disto tudo, ele que gostava tanto de deambular por esta cidade.