Dia 22 de Maio, Domingo, visitei o Aqueduto das Águas Livres numa visita guiada que começou em Odivelas e acabou em Campolide. A visita durou cinco horas.
O percurso faz parte do programa turístico Viagens na Minha Terra (mas não de Almeida Garret) realizado pelo gabinete de Turismo da Câmara Municipal de Odivelas.
É uma obra arquitectónica fascinante cuja construção, prevista para durar seis anos demorou cento e dois (desde 1732 até 1834, tendo assim, a marca de três monarcas: D. João V, D. José – ou melhor, Marquês de Pombal – e D. João VI).
Seja como for, o aqueduto atravessa Lisboa numa extensão de 58 km. Usava a àgua de sessenta nascentes unicamente com a lei da gravidade. Insiro aqui um pequeno aparte: a lei da gravidade foi sempre a única lei que deveras se cumpriu neste país de improviso.
Sabiam que o projecto do Aqueduto já vinha desde D. Sebastião? Sim, sim! Aquele fedelho, enfermo no corpo e no espírito, feito rei aos catorze anos que, ousado até aos limites da loucura, desembarcou em Arzila, juntamente com mais quinze mil infantes para se perderem no nevoeiro até hoje.
O D. Sebastião foi para Alcácer-Quibir
de lança na mão a investir a investir
com o cavalo atulhado de livros de história
e guitarras de fado para cantar vitória
O D. Sebastião já tinha hipotecado
toda a nação por dez reis de mel coado
para comprar soldados lanças armaduras
para comprar o "V" das vitórias futuras
O D. Sebastião era um belo pedante
foi mandar vir para uma terra distante
pôs-se a discursar: isto aqui é só meu
vamos lá trabalhar que quem manda sou eu
Mas o mouro é que conhecia o deserto
de trás para diante e de longe e de perto
o mouro é que sabia que o deserto queima e abrasa
o mouro é que jogava em casa
E o D. Sebastião levou tantas na pinha
que ao voltar cá (aí) encontrou a vizinha
espanhola sentada na cama deitada no trono
e o país mudado de dono
E o D. Sebastião acabou na moirama
um bebé chorão sem regaço nem mama
a beber a contar tim por tim tim
a explicar a morrer sim mas devagar
E apanhou tal dose do tal nevoeiro
que a tuberculose o mandou para o galheiro
fez-se um funeral com princesas e reis
e etcetera e tal, Viva Portugal
(de Sérgio Godinho em "Os Demónios de Alcácer Quibir")
E aqui vão as fotografias da visita ao Aqueduto.
A rainha Santa Isabel que – não me canso de dizer isto - segundo Agostinho da Silva mereceu o nome de santa só por ter aturado D. Dinis.
Santa Isabel de Coimbra
Rezando junto ao Mondego
Ao povo deste o teu pão
Milagre sempre em segredo.
Santa Isabel Rainha
Na rua indo a passear
Não era El-Rei que cantava
Mas seu coração a chorar
Minha Santa Isabel
Com rosas no vental
Teu manto escondia a paz
Santa de Portugal.
(poema de Eduardo Aroso)
O Aqueduto começa aqui.
Nos subterrâneos por onde passava a água. Aqui vou eu de mochila às costas. O fotógrafo foi o meu marido.
Situados ao longo das extensas galerias que se assemelham mais a alas de um convento do que propriamente a condutas de água surgem respiradouros, oferecendo um espectáculo natural de luz minimalista ou não estivéssemos nós, na época, na pista do Barroco.
Eu e a Leonilde a passear nos famosos trinta e cinco arcos de ogiva quebrada em Campolide. Eu sou aquela de camisola rosa.
A estrada vista da varanda do Aqueduto. Era daqui que o grande bandido Diogo Alves fazia voar algumas pessoas, depois de assaltá-las com a ajuda de mais quatro elementos tão bons como ele.
A mãe de água em Campolide
O grande responsável por grande parte da obra
No terramoto de 1755 que atingiu Lisboa, os famosos 35 arcos do Aqueduto sobreviveram sem uma beliscadura por uma unha negra. Situados na junção de duas placas do Cretácio Superior ficam muito perto de uma falha sísmica, a de Campo de Ourique. Por isso se diz que quando alguma coisa escapou por milagre “foi rés vés, Campo de Ourique”.
No fim da visita eu estava cansada. Descontraí-me com a esperança vã destes pombos a quererem entrar os dois em simultâneo no buraco da árvore.
E foi assim a visita. Aprendi que me fartei.
Leonor