Ex Improviso

Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Saturday, May 27, 2006

A história de Pancho Cacos

Como todos os mexicanos Paco é baixo, apresentando um tronco atarracado e umas pernas demasiado pequenas em relação ao tronco. Tez morena. Cabelo liso, preto, espetado. Todo ele herança azteca. Lembra o Cantiflas.
Soldado do exército do revolucionário Emiliano Zapata, tem uma contenda com o seu companheiro de causa nobre, a independência do México que vive subjugado pela presença espanhola.

Frente a frente num duelo de pistola (colt 48), Paco pergunta a Pancho, dando-lhe o derradeiro momento final da sua vida.

- Hombre, qual es tu nombre ?
- Pancho Billas. Aora te olvidaste?

Paco responde com um tiro certeiro no amigo, deitando-o por terra

- Entonces, aora tu nombre es Pancho Cacos.



Isto foi a única coisa que me lembrei de publicar hoje. Mais valia ficar quieta, eu sei.
Perdoem o meu espanhol. Todos os portugueses têm a mania que sabem falar espanhol mas não sabem. O Mixtu, se ler isto, vai jogar as mãos à cabeça.
Uma última nota: qualquer referência histórica mal feita é pura coincidência com a invenção. (Dan Brown faz o mesmo e vende milhões. Também quero.)


da Leonor

Saturday, May 20, 2006

Nem sempre há paciência


Este ano lectivo de 2005/2006 a escola não teve inscrições suficientes para fazer uma turma do 1º ano. Deste modo teve de distribuir os quinze alunos inscritos pelas três turmas existentes. Cada professora ficou com cinco alunos a juntar ao outro ano, no meu caso o 3º.

No intervalo da manhã, o André, um aluno do 1º ano, da sala de uma das minhas colegas, entra-me na sala, inseguro nos passos desde a porta à minha secretária.

Vejo-o a entrar pelo canto do olho mas não me manifesto com a sua presença. Deixo-o aproximar-se e ser o primeiro a comunicar. Porém, ele não diz nada. Levanto os olhos e reparo melhor num miúdo totalmente careca. O surto de piolhos começara na escola e só de o ver de cabeça rapada sinto comichão na minha.

- Sim… ? - digo eu.

- Professora – diz o André muito baixinho. Sonso, penso eu. Já o observei no recreio nos dias em que faço vigilância e de mansinho ele não tem nada. – O Luís Carlos trocou os meus marcadores todos.

- Ai sim!? Olha o malandro! E quando foi isso? - o Luís Carlos é um dos meus alunos igualmente do 1º ano.

- Foi agora.

- Agora? Então ele não está no recreio? E tu? Porque não estás no recreio também?

O André sentiu-se apanhado e não sabendo responder calou-se. Os miúdos não podem estar na sala se a professora não estiver também.

- Está bem! Fica descansado que eu falarei com o Luís. Agora vai lá para o recreio.

Retirou-se todo contente, convencido que o colega iria levar uma reprimenda de caixão à cova. Esqueci-me do assunto imediatamente. Queixas tenho eu a toda a hora e mais de metade delas entra-me por um ouvido e sai-me pelo outro.

Dois dias depois, o André aparece-me novamente mas a meio da aula. Aproveitando uma ida à casa de banho, passou pela sala do 3º ano. Dou aulas de porta aberta a vejo-o imediatamente parado na ombreira da porta.

- Sim… ?- pergunto. Desconfiei das suas intenções. Mas também podia ser um recado da minha colega. Acontece muitas vezes.

- Professora… - diz ele baixinho – o Henrique ficou com as minhas cartas…

- SUMA DAQUI! – disse eu num tom autoritário – mas você pensa que eu não tenho mais nada que fazer que aturar putos?

À primeira ordem, ele fugiu a correr. Creio que já não ouviu a última parte. Entretanto a minha turma já estava a rir “em todas as vogais do alfabeto” como diria Alice Vieira.


da Leonor

Saturday, May 13, 2006

Não pousar aqui

Desde que Leonor se lembre, os pombos sempre viveram ali, nas reentrâncias que o prédio de gaveto possuía por cima da porta da entrada. Mas recentemente, o senhor Simão decidiu tapar as referidas aberturas com o intuito de pôr os pombos a voar dali porque lhe sujavam os três degraus de mármore da dita porta. Curiosamente, os pombos começaram a viver ali, anos antes, postos pelo senhor Simão.

Na verdade, a entrada daquele prédio foi sempre uma espelunca e Leonor escorregou várias vezes nos excrementos dos pombos. O Gil e o Guilherme levaram com alguns em cima das t-shirts Mike Davis e outras marcas do género quando passavam na zona, deixando-os completamente desvairados – e quanto mais cara a camisola mais desvairada a fúria – sendo tal motivo para começarem aos pontapés nos animais que apanhavam ao jeito da biqueira.

- Oh Gil, pára com isso. Olha que os vizinhos da liga dos amigos dos animais processam-te - gritava a Leonor.

Quando o senhor Simão tapou as frestas, os pombos arranjaram poiso nos parapeitos vizinhos. O da Leonor foi um deles. Mas somente o parapeito da Leonor, note-se bem. As avezitas não engraçaram com os restantes parapeitos do prédio.
VP arranja uma vareta comprida de madeira para enxotá-las quando elas lá poisam. Mas os pombos têm o dia livre para cruzar os céus e as ruas, conhecem a liberdade do tempo que não há… os homens não. VP, nem sempre está lá para mandá-los embora e eles poisam no parapeito da Leonor. Sujam-lhe a roupa estendida. Sujam a roupa da dona Adélia, a vizinha que mora por baixo.

Ai dona Adélia, dona Adélia…
A dona Adélia sempre mostrou umas conclusões muito estranhas acerca por quem partilhava a vizinhança com ela. Ela sobe a escada, toca à campainha do andar de cima e VP abre-lhe a porta.

- Ó vizinho desculpe – diz a senhora no seu jeitinho dominado, supostamente, pelo efeito de algum valium – o seu pombo está a sujar-me a roupa.

- O meu pombo? – pergunta o VP admirado na medida em que nunca teve na sua casa algo que tivesse penas, nem sequer um espanador. Mas ele percebe imediatamente o que se passa e descansa a senhora. – deixe estar que eu vou já dar-lhe umas bordoadas.

Não se pode andar a bater nos pombos, por amor de deus. Decidiu-se colocar ali no parapeito um letreiro com os seguintes dizeres: é proibido o poiso de pombos e pardais.

- Não acredito! – disse a Ana quando soube do sucedido.


Da Leonor

Saturday, May 06, 2006

Sabes o que é a vida?

Sempre que faço anos o meu pai faz-me a mesma pergunta com o ar mais sério deste mundo, escondendo uma brincadeira cada vez mais antiga entre nós, à medida que os anos passam.

- Leonor, tu sabes o que é a vida?
- Se eu sei o que é a vida? – Ponho um sorriso. Alinho na brincadeira, ao mesmo tempo que penso no que é realmente a vida. – Não! Sinceramente… acho que não sei.
- E tu queres que eu te explique?
- Quero! – digo eu, esperando a explicação do costume, repetindo cada palavra no silêncio da minha mente por conhecê-las tão bem.
- A vida… - diz o meu pai, fazendo uma pausa longa propositada para dar a importância máxima que ele quer dar ao assunto falado ano após ano – a vida… são férias que a morte nos dá.

Desato a rir. É a sua forma de me dar os parabéns e dizer que a morte me deu mais um ano de férias. Mas fico a pensar no que é a vida...


da Leonor


(Agradeço do fundo do coração os parabéns que me deram aqui nos comentários)