Ex Improviso

Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

My Photo
Name:
Location: Lisboa, Portugal

Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Sunday, May 08, 2005

O Grande Mudo do Universo



Aproxima-se o dia 13 de Maio, dia consagrado por Portugal às supostas aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos de Fátima, Lúcia, Jacinta e Francisco e eu aproveito a ocasião, não para discutir tal assunto, mas para falar do grande mudo do Universo. Ou seja, a perder-me com burocracias intermediárias quero falar com o presidente, faz favor.

Tal como a maior parte das coisas em Filosofia, a filosofia da religião é muito melhor como uma actividade destrutiva do que como uma actividade construtiva. Não obstante, a pergunta “O que é que não sabemos?” está mais do lado do saber do que do lado da ignorância. Mais fácil seria perguntar “O que sabemos?” ao que responderíamos “Nós sabemos cada vez mais”. E ponto final!

A aceleração da história é uma aceleração do saber. Desde o Paleolítico até aos dias de hoje, o que mudou foi o saber. Contudo, o que cresce em conhecimento também cresce em desconhecimento. Simultaneamente, ganhamos e perdemos a luta pelo saber porque há coisas que ainda não sabemos e que nunca viremos a saber. Há, portanto, e já que estou a vaguear pelos sumários da filosofia, uma ignorância por acidente e uma ignorância por essência.

Por outras palavras, sabemos o que existe dentro do espaço e do tempo mas não o que está à volta dele. Nada sabemos, por exemplo, sobre aquilo a que podemos chamar Deus.

Deus, o todo da trindade omni – presente, ciente e potente – o grande ubíquo, é também o grande invisível e intangível, aquele de que nada se sabe e nada se pode saber, permanecendo teimosamente calado. No entanto, Ele é o único a tudo saber.

Podemos fazer desaparecer o problema dizendo que não sabemos nada de Deus porque não há nada para saber. E do nada, nada se pode saber porque o nada não existe. Todavia, a nossa natureza indagatória não se satisfaz com a possibilidade demasiado simplista, quase leviana, e consideramos:
“Se deus é, ele organizou-se extraordinariamente para que tudo aconteça, como se ele não existisse e sem que dele nada possamos saber a não ser adivinhado pelos seus fenómenos."


Lactâncio, forneceu uma bela e elegante versão formal, não propriamente acerca da existência ou não existência de Deus, mas acerca do problema do mal… assim dado que o mal existe e tendo em conta os supostos atributos de Deus:

1) Deus sabe o que se passa, preocupa-se com isso, mas não pode fazer nada, ou
2) Preocupar-se-ia com isso, poderia fazer alguma coisa, mas não sabe o que se passa, ou
3) Sabe o que se passa e poderia fazer qualquer coisa, mas está-se nas tintas.
Leonor

19 Comments:

Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Leonor
Sim... mas a fé não se explica, talvez como o amor... e Deus é amor.
Um beijo para ajudar a resolver o mistério.
Daniel

12:09 AM  
Blogger saltapocinhas said...

Eu acho que isto atingiu um ponto que já nem Deus sabe o que fazer. Deve estar bem arrependido de ter feito o adão e a eva! ;-)

1:42 AM  
Blogger augustoM said...

Leonor adorava conversar sobre o assunto, mas o espaço é curto, sómento uma pequena ideia.
O saber é a tomada de consciência do que ignoramos.
Só sabemos o que existe dentro do espaço e do tempo, pois estes são criação da Humanidade, como tal tangível no mundo dos sentidos.
Mas que sabemos nós para lá do mundo dos sentidos? nada por ser intangível qualquer concepção que não caiba no âmbito destes.
Tenho diversos textos publicados dedicados ao assunto, depois digo quais são caso esteja interessada em ler.
Um abraço. Augusto

2:41 PM  
Blogger José Gomes said...

Leonor,
Para comentar o texto teria de me meter pelos caminhos que sigo desde há muitos anos, falar de extraterrestres, de civilizações perdidas... do que aconteceu em Fátima (segundo a minha opinião, claro!).

Este excerto da Balada de Neve de A. Gil, faz-me interrogar porque razão Deus castiga as criancinhas... mais não digo, fico a pensar com os meus botões:

"(...)
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
(...)

Um abraço, amiga.

7:33 PM  
Anonymous Anonymous said...

(de onde conheço eu essa imagem???)
kada vez existe mais gente que não acredita em Deus mas sim na Natureza (tal como Euzinha!).
Há quem acredite religiosamente em Deus!
Mas se ele "anda aí", existem muitas lacunas! Por exemplo porquê o Adão e Eva se afinal descendemos dos macacos?
Até porque não nos esqueçamos como o Cristianismo nasceu a ferros, lá se foram as relifiões pagãs todas ao ar , mais o macabro episódio da Inquisição.

Mas enfim esta a minha maneira de ver....
Para mim só existe uma Deusa, a Natureza.

7:34 PM  
Blogger isa xana said...

ora bem... Deus... se existe ou não existe e se existe porque e que não faz nada... não sei se Deus existe ou não, sinceramente não penso muito nisso... não gosto de religioes por isso nao o vejo por detrás de nenhuma, posso vê-lo na natureza isso sim... poderosa, cheia de vida... na Natureza sim consigo ver Deus, um deus diferente, uma deusa, a Mãe Natureza.
Creio que as pessoas precisam acreditar em algo superior, algo que as ampare nos momentos de dor, algo que lhes ajude no desespero da morte. É uma necessidade humana sentir-se amparadas. Eu prefiro acreditar que eu mesma me amparo, que a minha família me ampara, que meus amigos me amparam e não um deus que não vi nem tenho vontade de ver e que nem sei se existe nem sei se quero saber.
De Lactancio gostei da 3ª hipotese;)

bem, acho que ja falei de mais

beijito

8:31 PM  
Blogger augustoM said...

Só mais uma questão por causa da premissa de Lactâncio de que Deus existe.
Mas haverá mesmo um criador?
Um abraço. Augusto

9:22 PM  
Anonymous Anonymous said...

Excelente reflexão filosófia! Eu só sei que nada sei e já sei muito.Arte por um canudo 2

9:43 PM  
Blogger António said...

Interessantes elucubrações mais ou menos teológicas.
Se não são teológicas(que é o mais certo)esclarece-me.
E esclarece-me outra coisa, p.f.: és professora de Filosofia?
(como vês, sou muito educadinho; até pus p.f.).
Jinhos

12:11 AM  
Anonymous Anonymous said...

Sou ateu confesso e assumido.
Penso em questões do transcendente, mas de uma outra forma.
Beijo e grato pela visita

12:29 AM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor

Falando de uma forma simples, sem grandes filosofias


Não sei o que responder, se alguém me perguntar se acredito em Deus? E é bom que não seja a minha mãe a fazer essa pergunta!!! É claro que acredito em Deus, do jeito como acredito nas cores do crepúsculo, do mesmo modo, como acredito no perfume das rosas, do jeito como acredito na beleza de uma sonata, como acredito na alegria das crianças que brincam na rua, confiantes, do jeito como acredito na beleza do olhar que me contempla em silêncio. Tudo tão frágil, tão inexistente!!! Isto é um pouco do lado bom
da existência de Deus?...

E como se explica o lado mau!!!

Dizia o poeta Valéry: Que seria
de nós sem o socorro daquilo que não existe?

Será que temos que ficar por
isto mesmo?

Pensarmos na “sua” existência, como na do vento:

Não se vê, mas sente-se!

Pois respostas concretas penso que não temos, nem nunca vamos ter! Acredito na força da NATUREZA!

E o acreditar em Deus! está em cada um de nós...

Um grande beijo

1:26 AM  
Anonymous Anonymous said...

Como sou crente, conscientemente crente, a minha opinião é muito pouco "racional"... no meu entender "a teoria dos relativismos" nada me explicam e cada vez mais, me criam dúvidas, e a quem procura uma saída por aí.. Está escrito e bem, num dos comentários, que a Fé não se explica e que DEUS é amor, mas na minha opinião faltou dizer, apenas que á luz dessa verdade (para os crentes)se descobrem outras verdades que podem fazer da vida algo muito bom. Fazei como João Paulo II afirmou, "Abri, escancarai as vossas portas a Cristo, não tenhais medo..." Se o fizerem verão a importãncia desse acto! Fátima? Não sei se foi, mas é! A afirmação não é minha, é do Teólogo ortodoxo Maximien, é uma realidade insofismável, que nos faz acreditar que sempre FOI!
Ricky

10:25 AM  
Blogger M.P. said...

Este "post" é uma reflexão muito interessante sobre a existência (ou não) de Deus. Apenas deixo aqui o seguinte passado comigo há anos em Nuremberga quando visitava o Museu da cidade de que agora não me lembro o nome. E que já contei aqui na blogosfera. Uma Islamita (daquelas que seguem o Corão à risca!) fez-me uma pergunta a que eu não soube responder: "porquê tanto sangue, tanto martírio, tanta dor nas representações de religião cristã? (Ela falava de pintura que era aquilo que estavamos a apreciar). Realmente! Eu também me perguntei. Deus, que é Infinitamente Bom segundo a religião Católica, não deveria aceitar certos pagamentos de promessas como se vê em Fátima e noutros locais santos. Deus que é Infinitamente Bom deveria guiar os homens para o Bem mas os homens estão a auto-destruir-se.Será isso que Deus quererá? Que o Homem aprenda com a sua própria destruição havendo a catarse depois do Apocalipse? Isto seria uma listagem de perguntas sem fim e sei que acabaria precisamente onde tu começaste: será que deus existe? :)**

10:18 PM  
Blogger Leonor said...

Daniel
inexplicavelmente, a fé não se explica como o amor, pois...sentimentos axiomáticos.

Saltapocinhas
a Deus existir talvez não esteja arrependido orque como disse o Carlos ele deu a liberdade de escolha ao homem.

Augusto
para quem queria dizer apenas uma pequena ideia disseste tudo "Só sabemos o que existe dentro do espaço e do tempo" porque o qua não sabemos nem viremos a saber é o que está fora dele.

José
sou aficionada por outras possibilidades de vida noutros lugares que não nesta calhau à volta do sol.
poderias ter falado sobre isso.

Colibri
obrigada pela imagem. serviu em cheio para o que andava a escrever. olha, caiu do céu... rssssssssss

Isa
Deus, ou energia, ou seja lá o que for, aquilo que temos noção em nós desde pequenos como se fosse a mão do artista na nossa alma, para mim também passa pelas árvores e pelas flores, pelos trovões e pelos arcos -iris, pelos rios e pelas montanhas... porque é a unica coisa perfeita, matemática... dizem que deus é matemático...

Augusto
ficaste a pensar no assunto e ainda bem que voltaste.
se há um criador ou não é o que nós queremos saber.

carlos
como disseste, outra coisa importante que coloca Deus como o grande ausente: ele deu-nos a opção de escolher o nosso caminho. e a ver Deus como algo fisico que nos orienta, não creio que ele castigue por fazermos o mal e nos beneficie por fazermos o bem. ele deixa viver conforme escolhemos e pronto.

agostinho
mais sintético que isto é impossível. "mai nada" rssssssssss

Cokas
também sou professora. isto é incrivel

António
não sou professora de filosofia mas acho muita graça à disciplina. fala-se pelos cotovelos.e como é raro chegarmos a um consenso a conversa nunca mais acaba o que é optimo.

zezinho
ora ai está uma coisa que eu gostaria que me explicassem. de saber por um ateu porque é que é ateu.

Betty
não querendo ser ateia, agnóstica, óu outra coisa qualquer acredito no que disseste numa frase tão bonita e tão simplesrevelo-me sempre como religiosa

Ricky
deixa-me dizer-te... mas ser crente é bem capaz, na minha opinião ser a opção mais difícil. a entrega sem reservas é algo transcendente que eu não possuo e "deus" sabe disso.

Manuela
isso é tudo o que se quer saber. porquê o mal?
sim. Deus deu a liberdade de escolha. o homem ama e odeia. ele que escolha o melhor caminho


obrigado por terem comentado. foram grandes comentários. o que eu esperava.
abraço da leonor

11:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Leonor: Os meus sinceros parabéns porque este blog está muito bonito, tanto na apresentação como no conteúdo o qual também tem muito a ver com a profissão da autora ! Actualmente o Ensino está muito complicado, em muitos aspectos, e eu que o diga... O conteúdo deste blog é de louvar.
Um Abraço.

2:51 AM  
Blogger Gustavo Monteiro de Almeida said...

Havendo criação... talvez haja o seu criador, não?

11:35 PM  
Anonymous Anonymous said...

Excellent, love it!
bryan easler toyota

2:27 PM  
Anonymous Anonymous said...

Enjoyed a lot! » »

10:55 AM  
Anonymous Anonymous said...

That's a great story. Waiting for more. » »

4:36 PM  

Post a Comment

<< Home