Pensar o Corpo
Pensar o Corpo
(de Vergílio Ferreira in Pensar)
Pensar um corpo. A inserção nele do espírito que nele se incendeia. Pensar no "eu" que o personaliza na separação dos dois à hora da desintegração. Somos o espírito como a luz é o que arde. Mas ela existe só por isso no acto de iluninar e não é o petróleo ou o fósforo que se acendeu. Com o corpo apaga-se o que nele se iluminou. Penso o corpo nos resto de si, no escárnio do que foi, mesmo em grandeza. Penso no homem que fica a sós com ele quando o estrume dele tem a su vez e vem ao de cima. Haverá glória em o iludir na iluminação que é sua? Mas é essa iluminação que me interessa e não o petróleo que cheira mal.Ir dar à bifurcação com um caminho para o fulgor e outro para estrumeira. A historia do homem está antes do lixo. Mas porque não nos reconhecermos humanos num corpo a apodrecer? Na solidão de um "eu", na carcaça da sua miséria? Num entendimento de um final a sós com ele? Ao fim de uma vida um corpo está cheio de sinais do que lhe aconteceu, do que em cada dia lhe põe a marca de uma presença - dos móveis em que toca, do que veste e calça, do que traz nas algibeiras... O ultimo inquilino de um corpo é o "eu" em que ele é. A perfeição de uma vida deve ser um mútuo entendimento.
14 Comments:
Leonor, chama-se a isso um texto e pêras, o meu tema favorito. Não vou comentar, só pedir para que leia um texto meu chamdo, A resposta que não dei, publicado há pouco tempo. Depois gostava de saber a sua opinião.
Um abraço. Augusto
As minhas desculpas,acabei de verificar que já conhece o texto.
Representa aquilo em que eu acredito, e onde podemos inserir o Eu.
"Mas porque não nos reconhecermos humanos num corpo a apodrecer?"
Porque hoje em dia o ser humano está demasiado ligado ao que está por fora. E esse tem que ser perfeito! que se lixe o intelectual se o fisico está conforme as regras de uma beleza quase impossivel e inatingivel.
Também eu no meu ninho falo sobre corpos (...o meu... de uma forma muito negativa).
Viva o Vergílio! ;)
Aqui está a relação da alma com o corpo numa interpretação muito própria, plena de sentido.
Ao ler este texto, dei por mim a meditar acerca dos efeitos do decurso do tempo e das nossas vivências no nosso corpo, enquanto portador de uma alma maior que a roupagem em que está aprisionada.
Depois, olho à volta e vejo as pessoas, regra geral, a darem muita atenção ao corpo (por um lado, e a destruírem-no por outro) e a esquecerem-se de cuidar da alma, do seu Eu.
Costumo pensar que o ideal seria um acordo de cavalheiros entre os dois, em que imperasse o bom senso e o equilíbrio (ou não fosse eu um Balança inveterado). Todavia, assistimos, hoje, a uma hecatombe desses valores, ao desfile de todos os excessos, que nos deixam perplexos e preocupados com o nosso destino.
É verdade que só com um «corpus sanus» teremos uma «mens sana», mas é também através do equilíbrio entre os dois, com o devido e necessário respeito mútuo, que poderemos ter uma breve existência corpórea saudável e profícua no desenvolvimento e partilha dos frutos da nossa alma, do nosso Eu.
Pensar e saber viver com o corpo que temos.
Não basta pensá-lo. É necessário senti-lo.
Gosto particularmente deste autor.
Uma boa noite.
Nada se esgota no corpo. Na verdade é apenas o guardião da essência. Essa sim, é importante.
Um beijo
Querida Leonor
Há quem não se sinta bem no seu corpo. Deve-se fazer por isso, porque ele é o responsável por esta materialização e precisamos do seu sentir para enriquecer a alma.
Um beijo
Daniel
Augusto
o "eu" no eu e o "eu" no mundo é sempre uma dor de cabeça, a velha questão, que faço eu aqui...
colibri
o passarinho mais pequeno do mundo mas grande este colibri que deixa mensagens no eximproviso
gustavo
aqui neste texto, impressionante, só de Vergílio, aliás ele faz um prefácio a um livro de jean paul sartre "o existencialismo é um humanismo" que é muito melhor que o próprio livro, o espírito pensa o corpo e quando não pensa? quando não o acompanha? corpo velho, espirito novo...
que é o acontece a maior parte das vezes.
Zezinho e letras ao acaso
bem vindos e fiquem
daniel
concordo. quando somos bonitos ou perfeitos. quando não, é muito dificil...
Aproveita a vida enquanto ela é vida dentro de ti.
Aproveita o teu corpo enquanto és tu que lá moras.
Aproveita. Primeiro tens mais espírito do que corpo e há dentro de ti um convulsão de ideias, uma agitação insolorida de projectos, resoluções, descobertas.
Depois a convulsão abranda e começas a viver das ideias amealhadas. Depois, pouco a pouco, vais perdendo essas ideias ou vai-las esquecendo no sótão de ti. Depois resta só uma ou duas com que te vais governando.
Aproveita o teu corpo enquanto estás dentro dele.
Aproveita enquanto estás.
Vergílio Ferreira, Pensar
somente digo: Carpe diem CARPE DIEMMMMMM :)
gosto muito da imagem, ja tinha pensado em postá-la no blog:)
beijito e bom fim-de-semana
Querida Leonor
... Porque é exacto e verdadeiro dizer-se que toda a obra de Vergílio Ferreira apela, na coerência da sua problemática, para uma fraternidade entre os homens, grita até ao cansaço a plenitude da vida, onde desapareçam todas as formasde injustiça ou de opressão para se fazer ouvir a "voz original" desse mundo absoluto, a voz das origens mais longínquas e profundas, por onde ressoem sinais nítidos de uma sinfonia em louvor da vida e os homens não desesperem. "O que existe para o homem é o absoluto da sua hora e tudo o que para lá existe, existe apenas coordenado com ela, a ela subordinado", proclama em "Invocação ao Meu Corpo" (1970).
Tenho por hábito dizer; Vergílio Ferreira... uma Lição!
E já agora, diz a Isa Xana e eu subescrevo: Carpe Diem!!!
Um beijo
Muito filosófico este "post", Leonor! Gostei destas especulações e confesso que me deram tema para pensar! :) BOA semana! **
"A perfeição de uma vida deve ser um mútuo entendimento."
E pronto, Leonor, conseguiste que os meus fusíveis fundissem!
A perfeição é a utopia para onde caminhamos, seja corpo, seja espírito, seja essência...
A perfeição de uma vida é um acto de comunhão, de fusão de dois seres, de um sonho em busca do EU unificado...
Pronto! Lá comaço a semana a dizes asneiras!!!
Boa semana, Leonor... o teu texto fez-me pensar no corredor que estou a atravessar na caminhada implacável do fim! Mas um fim que é evolução de um novo corpo, nova vida, novo ciclo...
Minha querida Leonor!
Obrigado pelas tuas achegas ao tema da educação.
O mal destas coisas é que estes assuntos são muito mais bem discutidos em amena cavaqueira, frente a frente, do que em textos em que nunca conseguimos dizer tudo.
Fica sempre essa sensação de coisa inacabada.
Por isso eu prefiro contar histórias.
Um grande beijinho para ti
Isa
Carpe diem, o grande segredo de Ricardo Reis.
Cidadão, o nosso eu, é uma dor de cabeça.
volta mais vezes.
Betty
acertaste na mouche: Vergílio Ferreira é uma lição de vida.Felizes os que o conhecem.
Manuela
ainda bem que te sirvo de inspiração para complementares as tuas lindas fotos.
José
nesta altura da minha vida também penso o meu corpo que envelhece e onde fica a sanidade do espírito que não o acompanha que se recusa a morrer com o corpo?
Reencarnação... existe?
António
gosto das tuas histórias e penso que deves continuar a opinar sobre outras histórias mesmo que isso traga as mais variadas opiniões.
Cokas
quando me visitam pela primeira vez dou sempre um salto ao blog.
e que surpresa!
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