Ex Improviso

Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Sunday, December 25, 2005

Ao Bom Sucesso dos Imponderáveis

De há uns anos para cá, o mês natalício deixa a Leonor angustiada, ansiosa, inquieta. Rotina anual que a faz quebrar outras rotinas mais do seu agrado. Ela detesta as compras do bacalhau, das couves, das nozes, das passas, das prendas…

Ana fez a lista. Ela é que sabe fazer listas. Com ela a pensar nos ingredientes as coisas falham menos. Mas enquanto a Ana organiza a festa, Leonor não pára de reclamar com os seus silêncios gritantes por ter de ajudar a passar a toalha de linho que a avó bordou especialmente para a época, por ter de lavar os flutes, por ter cortar as azeitonas ao meio e descaroçá-las para decorar os canapés.

- Não vale a pena andares com cara de carneiro mal morto. – disse a Ana – são dois dias, caramba. Pensa na reunião familiar. Já pensaste nas pessoas que não têm família?

- Por favor, Ana. Não comeces a cantar o fado do desgraçado. Não posso fazer comparações com os outros para medir a minha felicidade. Claro que é bom ver os parentes, estar com eles mas vou ouvir as mesmas piadas de sempre e eu já não tenho sorrisos amarelos que cheguem. Es-go-ta-ram-se. - retorquiu Leonor.

- Há os acepipes, as sobremesas.

- Sim! Autênticas batalhas à mesa que no fim só nos deixam mal dispostos e cheios de culpa por causa do pecado da gula que nos impingiram na catequese.

- Há as prendas. - Ana estava disposta a provocá-la.

- Ooooooooooooooh! Pois ! As prendas! A prenda é algo que se compra com vontade de gastar tempo (não dinheiro, mas tempo) a escolher algo que se ajuste a determinada pessoa. O valor da prenda não está no custo monetário mas no tempo dispendido e no significado do objecto em si.

- Agora digo eu: poupa o discurso utópico, porque é sempre agradável receber uma prenda com ou sem gasto de tempo ou de dinheiro. Além do mais, sempre podes distrair-te com o “Shreck”.

- Ao menos isso para salvar a honra do convento! Depois… a euforia colectiva ocupa o mês todo, acabando na pseudo felicidade da espera do Ano Novo. Atiramos foguetes, apanhamos as canas, festejando imponderáveis que o próximo ano nos vai trazer e que ainda não sabemos e nem sequer adivinhamos.

- E ainda bem! Porque se soubesses de alguns fugias a sete pés. Por ti a humanidade festejava as tradições na ópera, mumificada na cadeira. – Ana continuava a provocar a Leonor.

- A tradição! Ainda bem que não inventaram a tradição do “atira-te ao poço que eu vou atrás”.

- Desta vez não me enganei e comprei passas sem grainha para conseguir engoli-las a tempo consoante as badaladas. – disse a Ana, saltando de assunto.

Leonor, um pouco maldosa, começou a sorrir, lembrando-se da aflição da Ana que ia morrendo engasgada com uma das doze passas no ano anterior.

- Guarda a décima segunda para o bom sucesso dos imponderáveis. – aconselhou a Ana.

- Guardarei todas! – rematou Leonor.


da Leonor

Wednesday, December 21, 2005

Feliz Natal e Próspero Ano Novo



Árvore de Natal exposta no Terreiro do Paço tirada pelo VP numa noite de gelar.




Mais um Natal se aproxima das nossas vidas e mais um Ano termina para logo a seguir dar lugar a outro que se inicia e passará a voar como é costume desde que fiz os trinta anos.

Lembro-me perfeitamente das palavras do VP quando celebrei o meu trigésimo primeiro aniversário. Ainda não me tinha convencido que tinha passado no ano anterior para o clube das trintonas e já estava a carregar de uma forma avassaladora a carga traumática de mais um ano.

- Já viste!!! Já tenho 31. – disse eu, completamente abananada.
- Tu é que me saíste um bom 31. – disse ele, parecendo resignado com a sua sorte.

Entretanto passei para outro clube: o das quarentonas. E confesso que não consigo apanhar nem que seja um segundo no ar para perceber como é que ele, o tempo, me levanta no ar em tornados ciclónicos para me deixar cair em trambolhão nos implacáveis “entas”.

Mas nada podendo fazer, porque não tenho o dom de mexer na Eternidade, é assim, desta maneira, que eu venho por este meio desejar um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo a todos os amigos que conheço na blogosfera desde Fevereiro e que me visitam desde então.

Pensei seriamente naquilo que iria fazer. Corro o risco de deixar alguém de fora. Se isso acontecer não será propositado.

Então vamos lá que se faz tarde.


Betty

que me trouxe de uma comunidade de poetas, da qual ainda fazemos parte, para o mundo dos blogs.

Raquelinha
Isa Xana
Augusto
Lina (mulher do norte carago)
Agostinho
Isabel Filipe
Friedrich
Manuela Pimentinha
Buda
JLBM
Zé Gomes
Colibri
Ricky
António Castilho
Miguel
GNM
Margarida (minha colega de Aveiro)
Vagabundo
Furão
Daniel
Baptista (e o mar pelo meio)
Augusto
Carlos
Mocho
Frog
Cris
Alexandre
Filipe
Menina Marota
António Faria
Theo
Caracolinha
Maria do Céu Costa
Menina Marota
Amita
Silence Box
Cokas
Eva
Lena Maltez
Zé da Travessa
André
Carlos Gil
Io
Dumb
Mar
Nokinhas
Pipetobacco

Lazuli

Al (divina decadencia)

Nightwolf


E mais recentemente

Ugaju
Mixtu
Miguel Pinto


E ainda aqueles que não têm blog e me são igualmente visitas queridas:

Ana Joana
JMC
Van
Luisinha


E ainda aqueles que eu sei que passam por aqui mas não dizem nada. Uns conheço. Outros não.


E naturalmente, VP e Ana que me apoiam nas minhas bloguices.


E, plagiando uma amiga minha, daquelas que só vejo de cinco em cinco anos, e às vezes nem isso, mas cujo afecto se tem mantido: Neste Novo Ano que se aproxima desejo-te saúde. O resto arranjas tu.



da Leonor

Saturday, December 17, 2005

É preciso acreditar



Na escola, cada mês do ano marca sempre um evento. Novembro é o mês do Magusto. Em Março começa a Primavera e é o mês da árvore e do Pai. Maio é o mês da Mãe. Em Julho acabam as aulas. E por ai fora. E assim, os miúdos vão tomando conta dos dias, dos meses e dos anos.

Dezembro chegou e com ele os últimos dias do primeiro período escolar. É tempo de falar da tradição do Pinheirinho, do nascimento de Jesus, da figura do Pai Natal.

Adepta ferrenha da ardósia e do giz desenho no quadro um rectângulo com os lados paralelos mais longos na vertical, presumível exemplo de uma folha A4 “em pé”.

- Hoje vamos aprender como se escreve uma carta. – digo eu, tentando preservar um costume que se perdeu com a era dos emails. – e vamos escrever a quem? Mais tarde, quando já souberem como se faz, irão trazer o envelope e o selo e mandar cartas uns aos outros. Mas agora precisamos de alguém. Pode ser o Pai Natal.

- Mas, professora, o Pai Natal não existe.

Desde que ensino, que ouço sempre a mesma coisa em todas as turmas, do primeiro ao quarto ano. A expressão não é nova para mim. Contudo fico sempre terrificada quando a ouço. Aproveito a deixa e ponho uma cara de profundo espanto, começando a narrar uma história de improviso, sem livro na mão, sem que eles percebam, para já, que vamos dar o salto para a ficção.

- Não existe!!?? – pergunto eu.

-Não! – respondem eles.

- Então como é que os presentes aparecem na chaminé?

- São os pais que compram e os metem lá.

- OK! Mas como é que aparecem na minha chaminé? Não são os meus pais que os metem lá.

Os miúdos não respondem. Alguns ainda tentam a contra argumentação mas ficam-se pela boca aberta presa na palavra. Que indecência professora, aproveitar-se assim da inocência dos seus alunos. Decido descansá-los e contar-lhes realmente como as coisas são para acabar de vez com alguns equívocos.

- Vocês têm razão. São os pais que colocam os brinquedos na chaminé ou na sala junto do Pinheirinho. Por uma razão muito simples. O Pai Natal é só um. Ele leva o ano todo a trabalhar juntamente com os duendes, aqueles homenzinhos pequeninos vestidos de verde, a fabricarem brinquedos para todos os miúdos do mundo. Mas apesar da ajuda dos duendes e de ele poder voar no céu com o trenó a uma velocidade espantosa, ele é só um e não consegue fazer tudo sozinho. É então que ele pede a ajuda dos pais porque só uma noite não chega para ele entrar em todas as chaminés.

Alguns, os mais crédulos, vacilam na fantasia do meu conto. Outros, os menos crédulos, deixam-me acreditar que acreditaram.

Seja como for, nas cartas ao Pai Natal surgem frases finais como esta: “Pai Natal, deixa os brinquedos à porta da rua "caminha" chaminé é muito fininha e depois não cabes.”


da Leonor

Monday, December 12, 2005

Cada terra com seu uso

Foto da Pimentinha do Blog FotoAprendiz


Vou de Fão até Esposende para mais uma aula do projecto de matemática promovido pelo Ministério da Educação para os professores do 1º ciclo. O insucesso escolar em matemática em Portugal começa a verificar-se a partir do 8º ano de escolaridade, chegando a notas completamente miseráveis no 12º ano, e a culpa é dos professores do 1º ciclo.

A meio do percurso enganei-me na direcção. Na primeira oportunidade de fazer retomar o caminho perdido, o cálculo precipitado de avanço num sinal de stop lançou-me o farolim esquerdo do meu carro para porta direita traseira de outro carro, que confesso a pés juntos, não sei como é que apareceu na minha frente.

O dia não estava a findar lá muito bem e de repente necessitei de tomar um estimulante para recuperar a adrenalina gasta na contrariedade que me deixou o psicológico de rastos.

Entrei numa pastelaria e pedi:

- Desejo um garoto por favor. Quentinho.

- Garoto? – repetiu a empregada.

- Sim! Um café com leite numa chávena pequena.

- Ah, um pingo!

- Sim, sim! Um pingo. Quentinho, por favor.

- Directo ou normal? – perguntou a empregada.

Ai, que o inquérito nunca mais acaba, pensei eu, começando a enervar-me.

- Qual é a diferença? – perguntei, de calma aparente.

- Um tem mais café e o outro tem mais leite. – explicou a empregada.

- O que tiver mais leite. Quentinho, por favor.

Ingeri um pingo horroroso, algo diferente do meu garoto leite com café cremoso a que estou habituada.

Questionei com o VP qual seria a lógica de diferenciar uma bebida da outra como uma sendo “directo” e a outra sendo “normal”. É claro que deve ter uma lógica.

- Olha - disse-me ele - vais à pastelaria e perguntas: "aparte isto ser uma lavasqueira…"
É claro que depois levas um "directo", o que é normal.


Não perguntei nada, evidentemente.



da Leonor

Thursday, December 08, 2005

Tocam dura, duramente

Foto da MP (Foto Aprendiz)



Ouço ao longe o som de um aparelho metálico, pequena sineta soltando interjeições onomatopeicas. O seu dlim dlão desenfreado, arrebatado, descomedido faz-me sair lentamente do meu torpor onírico. Cada vez mais forte, acorda-me os ouvidos, acorda-me os olhos, acorda-me o corpo.

Não é sonho. Alguém toca à minha porta às sete da manhã. Levanto-me de olhos fechados, aproveitando os últimos segundos de sono profundo da alvorada e, num gesto instintivo de querer parecer sempre bem, penteio os cabelos desgrenhados com as mãos.

Espreito pelo orifício e ao avistar apenas a parte de cima de uma cabeça, adivinho quem é. Abro a porta. Confirmo a minha suspeita e volto para a cama a correr. Seja o que for, ouvirei debaixo dos cobertores onde tudo é escuro e morno.

- Leonor !
- Hum.
- Estive a pensar…
- Hum.
- Quando me pediste para escrever qualquer coisa…
- (…)
- Confesso que foi difícil…achar o tema… achar o tema é muito difícil… a não ser que já tenhas alguma coisa em mente que queiras falar… e depois, mesmo que aches o tema, tens de desenvolver o assunto com cabeça, tronco e membros… e não fugir dele, o tal fio orientador que norteia o argumento, senão às tantas já estás a falar de outra coisa que não é o tema e misturas alhos com bugalhos… ‘tás a ouvir?

Com brusquidão, Ana puxa-me os cobertores para trás, deixando-me à mercê de um dia que se propõe angustiado e sem remédio, numa situação grotesca, quase surrealista de um universo Kafkiano..O ar frio do quarto gela-me representações de sonhos e de visões do subconsciente e rapidamente agarro as mantas no ar, tapando-me novamente.

- ‘TOU! Mas deixa-me aqui debaixo, por favor. São sete da manhã e hoje é Domingo.

Por momentos, Ana calou-se. Depois continuou.

- Li os comentários que fizeram ao meu post no teu blog. Alguns incentivaram-me a continuar. Pensei em abrir um blog também.

- (Oh, não!)
- Já tenho um nome para o meu blog. Pós Improviso.

- (Pós… quê!?)

Assim como assim, o dia estava perdido e decidi acordar de vez. Sentei-me na cama e olhei a Ana nos olhos.

- Vais arrepender-te. O blog dá-te desgostos. É bom ler aqueles comentários que te enchem o ego de vaidade, é giro visitar os outros blogs e veres o que os outros escreveram, mas ás vezes queres escrever duas linhas e não sai nada e quando colocas uma foto ela não aparece e quando colocas uma música ela não toca e quando pensas que vais publicar um artigo e tudo vai correr bem como usualmente a porcaria do blog desaparece-te do mapa e tu “flipas”. Além do mais, vicias-te de tal maneira que não há um dia, uma hora, um minuto que não possas passar sem o blog.. - calei-me para uma pausa. – e depois, ó Ana, Pós Improviso? Tu tem paciência!

Ana, cabisbaixa, sentada na beira da cama, desenhava círculos no cobertor com a ponta do indicador. Com brusquidão, levantou-se e saiu, batendo com a porta.

Enfiei-me novamente debaixo dos cobertores.


Da leonor

Sunday, December 04, 2005

Escrevo com palavras

Foto da MP (Foto Aprendiz)


Escrevo com palavras tiradas daquilo que penso e faço
como se fossem a verdade.

Elas nascem-me da alma,
descem-me ao patamar dos sentimentos
e ando atrás delas nos labirintos da memoria.

Fogem! Caem!
Mas logo a seguir agarro-as em fragmentos temporais,
bocados de vida que se passaram naquilo que fui.

Escritas, transformam-se em matéria com que vivi emoções servindo de conforto a quem, que as lendo, vê nelas a sua realidade.


da Leonor

Thursday, December 01, 2005

BLOGOUT

Foto do VP
Arranjo da Isabel do Art e Design



Publicava eu um artigo na passada segunda feira à noite, quando ao fazer save e republish à pequena modificação que precisei de fazer no Template, a fim de inserir a música correspondente ao artigo, alguma coisa aconteceu e metade do Template desapareceu, deixando o Ex Improviso reduzido à página inical, em franco mau estado.

Oh! Desconsolo dos desconsolos. O meu blog tinha desaparecido!!!

A alma, imediatamente patinou por tudo o que era espaço. O corpo, esse miserável que não voa, tremia infeliz ao sabor de arritmias cardíacas.

O VP telefonou por aqueles momentos de profunda tentativa de remendar o soneto. Expliquei-lhe o meu revés de fortuna. E como já era tarde, disse-me que não valia a pena perder o sono por causa daquilo, que no dia seguinte tudo se resolveria.

Mas o sono já eu tinha perdido. A minha alma continuava na sua fantasia alada, buscando ajuda para a sua frustração. Nestas circunstâncias desventuradas só me lembro do meu anjo da guarda dos blogs. Ele sempre me salvou de asneiras anteriormente feitas.


Sintetizando…

Consegui recuperar tudo: os meus artigos que muito me custaram a escrever ao longo destes nove meses de existência na blogosfera e sobretudo os comentários de ouro deixados pelos amigos deste espaço que me visitam regularmente.

Perdi os links. Mas nem todos porque a Isabel tinha guardado alguns numa altura em que trocámos saberes de html. Os restantes terei de acrescentar. Acrescentarei


Concluindo…

Obrigado VP por te teres preocupado com a continuação do meu blog
Obrigado Joca por me teres salvo mais uma vez e sabe-se lá quantas mais.
Obrigado Isabel por teres guardado os meus links.



da despassarada mas sortuda Leonor