Ex Improviso

Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Thursday, April 26, 2007

Fragmentos dela, dele e às vezes dos outros (8)

Por coincidência , sentaram-se em frente um do outro no transporte público. Num pequeníssimo momento cruzaram o olhar e conheceram-se. Ambos volveram trinta anos.
Trinta anos que o tempo transformou sentimentos de garotos impertinentes em memórias de adolescência perdida. Trinta anos ela procurou pela janela olhando o rio. Trinta anos ele procurou perdendo o olhar nas pessoas que iam ocupando o resto dos lugares.
Porque nunca se tinham suportado?

“Ela já não usa o cabelo encaracolado. Mas continua com aquele ar de nariz empinado”

“Tem o cabelo todo branco. Engordou. Bem, ele já era um pouco gordo”

“Será que ela ainda se lembra que eu era o filho do contínuo?”

“Tinha a mania que mandava na escola porque era filho do contínuo”


Agora ambos olhavam o rio e o horizonte pela janela do barco. Em soslaios captavam imagens fugidias um do outro. Rápidas para nenhum deles ver.

“Ainda sinto a canelada que ela me deu quando a tirei à força da fila do bar”

“Acho que foi a ele (foi?) que lhe dei uma canelada."

“O que será que ela faz agora? Suponho que nunca o saberei.”

“O que terá passado com ele nestes últimos trinta anos? Oh! O que me importa isso?"

Ambos tinham chegado ao destino. Saíram e seguiram caminhos contrários, provavelmente, por mais trinta anos.


da Leonor

Thursday, April 19, 2007

Thinking Blogger Award

Dois anos de blogsfera, uma camada atmosférica para lá da atmosfera e da estratosfera onde a densidade do ar que se respira se faz por palavras escritas, trocadas, partilhadas, aqui e ali, neste ou naquele blog, deu-me a honra de ser nomeada, concomitantemente, pela Lena do blog Cabana de Palavras e pelo António do blog Eu Sou Louco, ambos blogs da minha preferência, os quais eu não passo, numa espécie de ritual, sem consultar aos sábados quando eu faço a minha ronda do “fare niente”.

A minha nomeação obriga-me, (mas é uma obrigação com orgulho) a nomear mais cinco blogs. É difícil a escolha na medida em que gosto de ler muitos, principalmente, aqueles que datam do aparecimento do meu e, juntos, caminhámos no trilho de cativar outros bloggers com imaginação e alguma sabedoria.

Assim, escolher os blogs da minha preferência é como escolher os tais cinco livros ou os tais cinco discos que levaria para uma ilha deserta pois se realmente tivesse de ir para a tal ilha deserta, negociaria uma banda larga sem fios para o meu portátil e já teria todos os livros e todos os discos e todos os blogs.


Tenho de escolher:

Silence Box, que muito me tem ensinado sobre um mundo diferente
http://silencebox.blogspot.com/

Fragmentos, da Betty, o meu primeiro conhecimento nos blogs e que se mantém até hoje com o mesmo respeito e simpatia.
http://bettybrmartins.blogspot.com/

Klepsidra, do Augusto, que já tive o prazer de conhecer pessoalmente num destes jantares que se organizam de vez em quando
http://klepsidra.blogspot.com/

Poliedro, do ex Frog, do actual Al, que escreve muito bem a sua poesia
http://as-poliedro.blogspot.com/

A Aldina, que traduz a sua sensibilidade na escolha de boa poesia.
http://www.aldinaduarte.com/site/home.php?idioma=pt/


E na continuação do ritual, os cinco blogs escolhidos terão de nomear mais cinco da sua preferência e atribuir-lhes aquela etiquetazinha que aparece à esquerda, em baixo do Site Meeter e colocar nos respectivos blogs.

Mais uma vez agradeço ter feito parte da lembrança da Lena e do António. Também eles, como já foi dito e, reforço, fazem parte das minhas escolhas.
E venho agora, Domingo, fazer um aditamento: soube ontem à noite que também o Al do blog Poliedro e o Mocho do blog Mocho Falante me tinham mencionado também. Obrigado pela honra Al e Mocho. Muito obrigado.
da Leonor, embevecida

Thursday, April 12, 2007

Mais mais, mais ou menos, Menos menos

De entre os vários modelos propostos por vários autores para se fazer uma análise conceptual, gosto particularmente de um, o de Merton.

Tomemos no mínimo quatro células e tomemos, por exemplo, o tema da crença em Deus. (modestamente fiz este esquema no paint)


Então temos o mais mais: o individuo que acredita e que pratica. Está “conforme”.
Depois há o mais menos: o individuo que acredita mas não pratica. É o “efervescente” de certo modo já apresenta algum comportamento desviante.


A seguir há o menos mais: o individuo que não acredita mas pratica porque senão arrisca-se a ser posto de parte pela comunidade em que se insere. É o “ritualista”.

Por último temos o individuo menos menos que significa é um individuo que não acredita, não pratica, que enfim… é um individuo que está a leste. Está a leste das crenças que por ai se vendem porque a ver os eléctricos ele também não anda.

Eu?
Sou às vezes o individuo mais mais que está conforme; a maior parte das vezes o individuo mais menos que efervesce como se, no seio de um líquido fosse um gás em bolhas; mas quase sempre… o individuo menos menos que está a leste.


da Leonor

Friday, April 06, 2007

"Evidente meu caro Watson!"

Para explicar o raciocínio indutivo, aquele que parte dos factos particulares para as causas gerais, servindo-se de algo como “indícios” que são elementos que ligam umas coisas às outras, nada melhor que um exemplo à Sherlock Holmes:

Vamos imaginá-lo, o fantástico detective, de cachimbo na boca e de chapelinho verde aos quadradinhos, em pé na sua sala de estar, na frente do amigo.

(o diálogo é meu)

- Watson!
- Sim Holmes.
- Você foi aos correios enviar um telegrama.
- Meus Deus!!!Estou perplexo! Como adivinhou? – perguntou Watson com um ar deveras espantado.
- Evidente meu caro Watson! Você tem uma mancha de lama na ponta do sapato.
- E isso significa o quê? – Watson continuava pendurado no seu espanto.
- Meu caro Watson. – Holmes dignou-se a explicar. Afinal estava mortinho por isso mesmo. Neste momento, o único sitio que está em obras é a zona dos Correios. Portanto foi aí que sujou os sapatos de lama.
- Notável Holmes! (que em inglês seria “remarkable Holmes). Mas diga-me, como sabe que fui enviar um telegrama?
- Evidente caro Watson! - e lá exibe ele os galões novamente - Tem na sua secretária envelopes, folhas e selos. Você esteve toda a manhã comigo e não o vi escrever.
- Holmes! Estou espantado. (que em inglês seria “Holmes! I am amazed”)

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Gostava de ter um raciocínio indutivo apurado como este do Holmes. Contudo fico-me por uns erros de dedução, que é aquele raciocínio que ao contrário do indutivo, parte dos factos gerais para os particulares. Como mais ou menos isto:

Olho pela janela, vejo o chão molhado e digo:
- Olha! Choveu!

Mas depois vejo que o céu está de um azul lindo e que o sol brilha. Volto atrás na minha consideração:
- Não! A chover com um sol assim não pode ser.

Olho melhor o chão. Afinal alguém esteve a lavar o carro.

Ou seja, se eu interpelasse o Watson logo à primeira fisgada havia logo uma daquelas discussões que fariam tremer a ilha britânica por indagações supostamente falsas e o resto não consigo supor.
da Leonor