Ex Improviso

Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Saturday, May 13, 2006

Não pousar aqui

Desde que Leonor se lembre, os pombos sempre viveram ali, nas reentrâncias que o prédio de gaveto possuía por cima da porta da entrada. Mas recentemente, o senhor Simão decidiu tapar as referidas aberturas com o intuito de pôr os pombos a voar dali porque lhe sujavam os três degraus de mármore da dita porta. Curiosamente, os pombos começaram a viver ali, anos antes, postos pelo senhor Simão.

Na verdade, a entrada daquele prédio foi sempre uma espelunca e Leonor escorregou várias vezes nos excrementos dos pombos. O Gil e o Guilherme levaram com alguns em cima das t-shirts Mike Davis e outras marcas do género quando passavam na zona, deixando-os completamente desvairados – e quanto mais cara a camisola mais desvairada a fúria – sendo tal motivo para começarem aos pontapés nos animais que apanhavam ao jeito da biqueira.

- Oh Gil, pára com isso. Olha que os vizinhos da liga dos amigos dos animais processam-te - gritava a Leonor.

Quando o senhor Simão tapou as frestas, os pombos arranjaram poiso nos parapeitos vizinhos. O da Leonor foi um deles. Mas somente o parapeito da Leonor, note-se bem. As avezitas não engraçaram com os restantes parapeitos do prédio.
VP arranja uma vareta comprida de madeira para enxotá-las quando elas lá poisam. Mas os pombos têm o dia livre para cruzar os céus e as ruas, conhecem a liberdade do tempo que não há… os homens não. VP, nem sempre está lá para mandá-los embora e eles poisam no parapeito da Leonor. Sujam-lhe a roupa estendida. Sujam a roupa da dona Adélia, a vizinha que mora por baixo.

Ai dona Adélia, dona Adélia…
A dona Adélia sempre mostrou umas conclusões muito estranhas acerca por quem partilhava a vizinhança com ela. Ela sobe a escada, toca à campainha do andar de cima e VP abre-lhe a porta.

- Ó vizinho desculpe – diz a senhora no seu jeitinho dominado, supostamente, pelo efeito de algum valium – o seu pombo está a sujar-me a roupa.

- O meu pombo? – pergunta o VP admirado na medida em que nunca teve na sua casa algo que tivesse penas, nem sequer um espanador. Mas ele percebe imediatamente o que se passa e descansa a senhora. – deixe estar que eu vou já dar-lhe umas bordoadas.

Não se pode andar a bater nos pombos, por amor de deus. Decidiu-se colocar ali no parapeito um letreiro com os seguintes dizeres: é proibido o poiso de pombos e pardais.

- Não acredito! – disse a Ana quando soube do sucedido.


Da Leonor

21 Comments:

Blogger lena said...

será que hoje sou a primeira?

estes teus Ex Improvisos deliciam-me

fizeram-me lembrar as andorinhas que faziam o ninho na entrada da minha casa em garota, antes de chegar à garagem, ainda hoje penso que o fazem

adoro ler-te pela forma como consegues conduzir os teus textos


beijinhos muitos para ti Leonor e um abraço com ternura

lena

9:05 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Mais um pequeno detalhe da tua vida convertido em texto com humor e conteúdo.
És uma perita (não quero dizer pêra pequenina, se é que me entendes...eh eh) em escrever histórias destas.
Gostei muito, como sempre.

Obrigado pelo teu comentário ao Diálogo da borrachona..eh eh

Beijinhos

11:25 PM  
Blogger António said...

This comment has been removed by a blog administrator.

11:25 PM  
Blogger saltapocinhas said...

no meu pátio pousam imensos pardais que me sujam tudo, incluindo a roupa do estendal. Mas eu adoro observá-los e agora começam a aparecer os pequeninos que andam a aprender a voar!
Não me consigo zangar com eles!

12:15 AM  
Blogger saltapocinhas said...

esqueci-me de dizer que ADORO o sérgio godinho!

12:17 AM  
Anonymous Anonymous said...

Mais um caso da tua vivência que afecta também muita gente principalmente das cidades, mas que tu aqui expuseste com uma certa dose de humor e ao mesmo tempo um alerta (acho eu)a quem possa cuidar do caso.Lindo.É uma delicia a forma como o dizes. Beijinhos

4:40 AM  
Blogger Astri* said...

LOLOLOL Oh Leonor só mesmo tu.
EU ODEIO esses bichos. Lembra-me um jardim onde brincava quando era criança. Era horrivel aquele cheiro. Lembra-me praça de Figueira em Lisboa. Odeio esse cheiro.. LOLOL :X

beijos ***

4:53 AM  
Anonymous Anonymous said...

Bom dia Leonoretta!
Fantástica a medida que tomaram para evitar que os pombos lá poisem!ahahahah, tenho a certeza que se inspiraram nos nossos governantes, que passam a vida a usar dessa mesma estratégia para nos fazerem acreditar que estão a fazer o seu melhor-deixam "recados" que nem eles próprios conseguem ler!

Essa dupla que fazes com o VP é imbativel em criatividade. Só me "irrita" um bocadinho que não a explorem convenietemente. Desperdiçam, desperdiçam.....dispersam, dispersam.... e os dias a passar!

Beijinhos para os dois e ... espero para ver a resposta escrita que o representante dos pombos vos vai deixar! rssssss

Boa semana e boa disposição rsss
Ana Joana

12:28 PM  
Blogger Leonor said...

Para Ana Joana

... mas sabes que eu sempre desconfiei de uma organização secreta entre os pombos?

palavra...rsssssssssssss

beijinhos da leonoreta

2:42 PM  
Blogger augustoM said...

Não seria mais conselhável pôr uns sinais de trânsito de estacionamento proibido para o caso dos pombos e pardais não saberem ler?
O poema é meu, se é que se pode chamar de poema, e como de poeta nada tenho,por vergonha não assinei.
Um beijo. Augusto

5:19 PM  
Blogger José Gomes said...

É o que temos.
Se o carro fica na rua por esquecimento, parece que os pombos dos vizinhos, amigos e conhecidos andam todos de diarreia, lavando o veículo com aquela porcaria toda!
Estou a lembrar-me quando ia almoçar às 13 horas, a minha careca era o alvo desejado de tais aves.
Mas não esqueço o último ano que passei em Albufeira ter apanhado um caído na berma da estrada, já com as formigas a picá-lo, com uma pata ferida e que apesar das asneiras que fazem os seus irmãos, ainda o consegui safar.
No dia segunte ao da sua "libertação" ela ou algum irmão presenteou-me com um valente esguicho nos meus óculos...
Ai Leonor, a vida é feita destes pequenos nadas...
Boa semana.

8:01 PM  
Anonymous Anonymous said...

"Não pousar aqui"...
Mas só para contrariar...
... a Praia da Claridade, pousou aqui para ler estes textos, como sempre, deliciosos !...
Um Abraço.

2:10 AM  
Blogger Henrique Santos said...

Pombo cá, pombo lá,
que me trazes tu pombinho?
A carta do meu namorado?
diz ela angustiada...
Não, não trouxe o malandro...
O que aqui deixas-te pombinho?
Ah, mas isto faz-se à menina?
Pombo cá, pombo lá,
agora 'tão tramados,
está escrito:
Ali não podem poisar...
Pombo lá, pombo lá...
(cá é que não...)

Bjinhos Ricky

10:25 AM  
Blogger Mocho Falante said...

ahahahahahahahahaha
E deixa-me me adivinhar só passaram a poisar lá as aves cegas???

Beijocas

3:57 PM  
Blogger Helder Ribau said...

o teu blog é... fantastico... vou voltar

11:42 PM  
Blogger th said...

Eu sei, eu sei...não zanga comigo, eu sei que tenho andado ausente, mas também não tenho feito grande coisa...fases...
Adoro pombos, rolas, etc. os pássaros me maravilham...quem me dera que pousassem no beiral da minha janela.
Beijo, th

12:15 AM  
Blogger AlucarD said...

lindoooo :)
adorei!! vou voltar...
beijos

11:15 AM  
Blogger Alma de Poeta said...

Parabens pela escrita que nos delicia. Deixo um beijo

3:16 PM  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Leonor
Gosto do teu humor. A próxima fase será ensinar os pombos a ler...
O que é certo é que os pombos são transmissores de imensas doenças, infelizmente.
Um beijo
Daniel

12:05 PM  
Blogger alice said...

olá leonor ;)

como estás?

tinha saudades de vir ao teu blog

obrigada pela tua parilha

um bom fim de semana para ti

beijinhos,

alice

4:42 PM  
Anonymous Anonymous said...

Estive "vendo" o VP a arquitetar mil e uma maneiras de enxotar os pombos... e os danadinhos rindo a valer, naquele arrulhar característico!
Valeu, amiga!

3:22 AM  

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