Nem sempre há paciência
Este ano lectivo de 2005/2006 a escola não teve inscrições suficientes para fazer uma turma do 1º ano. Deste modo teve de distribuir os quinze alunos inscritos pelas três turmas existentes. Cada professora ficou com cinco alunos a juntar ao outro ano, no meu caso o 3º.
No intervalo da manhã, o André, um aluno do 1º ano, da sala de uma das minhas colegas, entra-me na sala, inseguro nos passos desde a porta à minha secretária.
Vejo-o a entrar pelo canto do olho mas não me manifesto com a sua presença. Deixo-o aproximar-se e ser o primeiro a comunicar. Porém, ele não diz nada. Levanto os olhos e reparo melhor num miúdo totalmente careca. O surto de piolhos começara na escola e só de o ver de cabeça rapada sinto comichão na minha.
- Sim… ? - digo eu.
- Professora – diz o André muito baixinho. Sonso, penso eu. Já o observei no recreio nos dias em que faço vigilância e de mansinho ele não tem nada. – O Luís Carlos trocou os meus marcadores todos.
- Ai sim!? Olha o malandro! E quando foi isso? - o Luís Carlos é um dos meus alunos igualmente do 1º ano.
- Foi agora.
- Agora? Então ele não está no recreio? E tu? Porque não estás no recreio também?
O André sentiu-se apanhado e não sabendo responder calou-se. Os miúdos não podem estar na sala se a professora não estiver também.
- Está bem! Fica descansado que eu falarei com o Luís. Agora vai lá para o recreio.
Retirou-se todo contente, convencido que o colega iria levar uma reprimenda de caixão à cova. Esqueci-me do assunto imediatamente. Queixas tenho eu a toda a hora e mais de metade delas entra-me por um ouvido e sai-me pelo outro.
Dois dias depois, o André aparece-me novamente mas a meio da aula. Aproveitando uma ida à casa de banho, passou pela sala do 3º ano. Dou aulas de porta aberta a vejo-o imediatamente parado na ombreira da porta.
- Sim… ?- pergunto. Desconfiei das suas intenções. Mas também podia ser um recado da minha colega. Acontece muitas vezes.
- Professora… - diz ele baixinho – o Henrique ficou com as minhas cartas…
- SUMA DAQUI! – disse eu num tom autoritário – mas você pensa que eu não tenho mais nada que fazer que aturar putos?
À primeira ordem, ele fugiu a correr. Creio que já não ouviu a última parte. Entretanto a minha turma já estava a rir “em todas as vogais do alfabeto” como diria Alice Vieira.
da Leonor
20 Comments:
Querida Leonor!
Escreveste, perto do final:
"mas você pensa que eu não tenho mais nada que fazer que aturar putos?".
Pois é...mas tens mesmo que os aturar...ah ah ah
Mais um texto, bem ao teu estilo, retirado do quotidiano da escola.
Gostei!
(como sempre..eh eh)
Obrigado pelo teu "comment" ao meu Diálogo do Padre e da beata.
Beijinhos
Mas Leonor, é natural que o André já conheça a tua fama como professora, e quem sabe se as visitas não serão uma forma de mostrar que gostaria de fazer parte da tua turma.
Um beijo. Augusto
Leonoretta,
Esta noite
faço-te um convite:
No dia 16 de Junho, Sexta-feira,
às 21 horas, vou lançar o livro
NADA EM 53 VEZES na Fnac
do Cascais Shopping.
Gostaria muito que
estivesses presente
nesse lançamento.
Passa um excelente fim de
semana!
bem.. lindo texto!!
gostei...
beijos
encantam-me sempre as tuas histórias, principalmente com os "putos" sei bem como isso é e às vezes até sinto saudades
o quotidiano do dia a dia da escola, muito bem descrito, como só tu o consegues fazer
adorei como sempre Leonor, consegui ouvir esse "grito" "mas você pensa que eu não tenho mais nada que fazer que aturar putos?".
e sei que é de momentos
beijinhos muitos para ti e um abraço de ternura por tudo o que fazes
lena
Temos tantos momentos destes, não é? Eu já só os recordo na mala da minha memória (reformei-me o ano passado, antes da lei mudar - senão eram mais 11 anos!)...
são tantos... tão diferentes...
Cá pra mim, o André deseja mais do que tudo, ser teu aluno ou no minimo, receber um niquito da atençáo da professora que ele gostaria de ter.
Agora..... tadinho, não vai ter mais coragem de se aproximar do seu "obejecto de desejo".
Mas professora, antes de o ser, já era gente e continua a ser. Por isso tem limites para a sua paciencia. Esse facto desculpa a fraqueza.rssss
Na 2ª feira, vai lá dar um mimito ao André, que ele vai sentir-se compensado.
Beijinhos, Leonoretta e uma optima semana para ti
Ana Joana
A paciência tem limites...e o André percebeu o recado.Não volta a mentir para acusar os colegas. Bjs
a tua escola é cheia de coisas estranhas: onde já se viu partir um grupo de 1.º ano com 15 alunos??
Juntavam 3º e 4º ou 2º mas deixavam esse grupo unido!
Depois as regras "não entram na sala quando a professora não está". Na minha entram, sentam-se na minha secretária (que é uma mesa igual à deles), rodam na minha cadeira e brincam aos prof
essores, dançam, desenham, jogam no computador... Posso dizer-te que o grupo que fica na sala normalmente é maior do que o que sai. Mas esse André quer é mesmo mudar de professora!
Que é isto nos comentários???
Leonoretta,
Por vezes, ao deixar o comentario, deixo tambem erros ortograficos que detecto depois do texto já estar publicado. De uma maneira geral, não me chateio muito com isso. Mas aqui acho mesmo que devo corrigir "Objecto de desejo" e não obejecto, como saiu.
beijinhosssssssss
Ana Joana
Querida Leonor
Confesso que fiquei sem saber se o miúdo é "malandro" ou "vítima" dos colegas :) Neste último caso, ele pode sofrer muito sem que ninguém repare.
A questão do número de alunos: mas 15 alunos não justifica uma turma?!! Sei que será por causa de alguma lei sobre estas matérias mas, em meu entender, acho que um grupo mais pequeno facilitaria as aprendizagens, que poderiam ser mais personalizadas.
Obrigado por partilhares a sala de aula. Aprendemos sempre alguma coisa sobre a actualidade com as tuas histórias.
Um beijo
Daniel
o que eu me delicio com estas tuas aventuras...
beijocas doces
Mas para ler os teus posts ha sempre paciencia :)
São uma delícia ;)
beijinhos
Vim deixar-te um abraço, porque me apetece simplesmente abraçar aqueles de quem gosto na Blogosfera.
E, porque hoje brilha mais uma Estrela no Céu... deixo aqui expressa a minha sentida saudade
Abraço-te
(Nota:Foi num jantar do Fernando Bizarro que nos conhecemos, pouco falámos, mas gostei do teu sorriso tímido e do teu olhar franco. Achei que te deveria dizer isto, neste momento.)
mais umas história de putos=p
tava com o computador a arranjar, Leonor. estes malandros levarm semanas, mas finalmente já está bom, pelo menos é o que espero!
*
Passo para te sorrir!
Com a sorte que me desejaste
tudo vai correr às mil
maravilhas!
Excelente fim de semana!
para Ana Joana
ola Ana. desta vez o tempo foi mais curto por um lado e mais comprido por outro. o tempo... tem destas coisas. e nao te respondi. desculpa. tens razao. depois arrependi.me de ter gritado com o miudo e tentei recompensa-lo com uma festa no cabelo quando o vi no corredor, rsss
beijinhos da leonoreta
"Cê" sabe como botar um pequerrucho a correr, hem?
:-)
Um abraço fraterno, amiga.
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