"No fim ficaram três coisas"
Vocês, amigos que visitam a Leonoreta, não me conhecem mas eu apresento-me: sou a Ana.
Hoje sou eu que venho aqui publicar um post. É assim que se diz? Um post? Porque eu não sei nada destas coisas de blogs. Foi ela que me meteu nisto. Aliás, é sempre ela que me mete em apuros.
-Ó Ana, escreve lá qualquer coisa e publica lá, se fazes favor. – ordenou-me ela. O “se fazes favor” é enfeite do imperativo, não tem nada a ver com pedido.
- Mas queres que eu escreva o quê?
- Qualquer coisa. Estou sem tempo. É só para não deixar morrer o blog.
Diz que está sem tempo. A Ana Joana tem razão quando diz que ela é a maior batoteira que existe porque se batoteia a ela própria.
Conheço a Leonoreta há muito tempo. Desde sempre, acho eu. Desde que nos começámos a formar como gente. Somos muito diferentes, eu e ela. É como se ela fosse a lua e eu o seu lado escuro. Não passamos uma sem a outra. Ou melhor, eu não passo sem ela. Ela passa sem mim perfeitamente.
Ultimamente não temos falado muito. Ela agora anda para cima e para baixo a fazer kilómetros. Se ela os contabilizasse veria que ao fim de um ano teria dado a volta ao mundo três vezes. Ela detesta as viagens. Comprou um aparelho de MP3 para esquecer doze horas por semana gastas na estrada, ouvindo Magna Carta, Renaissance e outros, ao mesmo tempo que o seu olhar fixo em riscos brancos contínuos e descontínuos a levam e a trazem num estado de alienação. À semelhança da lanterna que procura ficheiros no computador a sua memória procura no tempo onde bateu asas, voou no espaço e a seguir caiu a pique no chão.
Mas a sua espontaneidade excêntrica de espírito selvagem fá-la dizer “tudo bem, é o que tem de ser e o que tem de ser tem muita força”. Acredita na reencarnação. Que tudo tem uma razão de ser. Que está na vida para uma missão impossível. Mas depois, lê Sartre e Malraux e fica com dúvidas.
E agora quer que eu escreva. Eu, que só escrevo listas de compras. Mas agora ela não tem tempo. Não tem tempo... ou então... anda lá por cima, nas nuvens como é costume.
E como não tenho jeito para escrever aqui publico um pequeno trecho de O Encontro Marcado de Fernando Tavares Sabino, escritor e jornalista brasileiro.
"De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro".
da Ana