Falava com o meu pai e pelo meio de conversas sobre acontecimentos recentes intercaladas com outras de acontecimentos passados, filosofávamos. “Na vida há várias paixões – dizia o meu pai – a paixão pela vida é uma delas.”
O seu trocadilho dito com tanta certeza, a certeza de quem já viveu imenso, conduziu-me mentalmente para onde só as almas podem ir quando o corpo as aprisiona temporariamente num determinado espaço.
Existem várias paixões, sim, pai… respondi baixinho, mas tão baixinho que só eu pude ouvir o que dizia.
Existe a paixão pelo saber que nos leva, a anos e anos de dedicação a justificar uma causa na qual acreditamos… (ah! Galileu, senão fosse a tua perseverança apaixonada em mostrar a imensidão do Universo com as tuas lentes, enfrentando mentalidades movidas por zelos religiosos excessivos, ainda estaríamos a pensar como Ptolomeu).
Existe a paixão carnal, inclinação por afectos violentos, amores ardentes que nos leva a condutas e a pensamentos irracionais, mas que sem ela é impossível a existência humana. Existe a paixão pela escrita que nos leva a imaginar cenários fantasiosos a partir de cenários reais para nos sentirmos viver, experienciando emoções que de outra forma, tantas vezes, nos é interdito.
Existe a paixão pela vida… acorda, levanta, anda, ri, ama, conversa, descansa, grita, desiste, pensa, odeia, continua, deita, dorme.
E no dia seguinte, o mais do mesmo.
Ainda assim, todos os dias procuro a cor azul do céu, a agitação das folhas nas árvores os tímidos mas ofuscantes raios de sol numa saudação de bom dia.
Os pássaros cantam e quando cantam aquietam-me os ouvidos, as flores descerram e quando descerram cativam-me o olhar…
Desta e daquela maneira, ando, corro, converso, grito, ouço, desejo… numa rotina explosiva de sentimentos com os dias e as noites, alimentando a minha paixão pela vida.
Leonor