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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Saturday, February 26, 2005

Oração mágica finlandesa para estancar o sangue das feridas



Pára, sangue, de correr,
De ressaltar aos borbotões,
De me inundar como torrente,
De me brotar sobre o flanco.
Como contra uma parede,
Imóvel como uma sebe,
Lírio marinho direito
Como espadana na espuma,
Como pedra no talude
E o recife na corrente.
Sangue, sangue, se o desejo
Te faz correr com tal força
Circula dentro da carne
Abraça-te aos ossos vivos.
Belo, belo que é correr
Na obscura pele compacta,
Sussurrando nas artérias,
Murmurando contra os ossos.
Pára, sangue, de correr
Sobre a fria terra morta.
Não corras, leite, no chão,
Sangue inocente no vale,
Beleza humana entre a erva,
Oiro de heróis na colina.
Desce fundo ao coração,
Bate surdo nos pulmões
Desce, desce fundamente
Aos órgãos vivos do corpo.
Não és ria que se escoe,
Nem calmo largo parado,
Nem fonte que brote assim,
Nem barca velha com rombos.

Herberto Hélder in Poesia toda (1990)

7 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Leonor,
Gostaria comentar este poema de H. Hélder, mas faz-me lembrar o ruído que esta semana ouvi quando fizeram-me uma ecografia ao coração.
Vou ficar com a receita... talvez consiga estancar o sangue das feridas!
Bom Dominngo.

7:18 PM  
Anonymous Anonymous said...

Pois, muito sangrento, o poema, já estou a ver...

4:19 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

"A poesia do silêncio veemente"

Herberto Helder; pouco conhecido este poeta mas de mérito reconhecido nascido no Funchal (I.Madeira). Poeta com a supremacia de escrever com com alguma crueza e realismo que por vezes incomoda alguma pessoas. Mas escrever é assim mesmo. Boa a tua escolha! Leonor. Para que as pessoas saibam que existe um poeta,um dos principais nomes da poesia portuguesa contemporânea, de nome:Herberto Helder.

Beijos

Betty

9:29 PM  
Anonymous Anonymous said...

"Não és ria que se escoe,
Nem calmo largo parado,
Nem fonte que brote assim,
Nem barca velha com rombos"
Bela escolha, enquadra-se bem neste blog, onde as pérolas abundam e os motivos de reflexão também. Trata-se dum poeta que também gosto, mas reconheço que ás vezes "magoa", embora goste muito do seu talento, e sobretudo pela imaginação, na forma como aborda tantas "feridas" não estancadas na sociedade... Parabéns menina, 'tou a gostar, quero mais... Ricky

9:31 AM  
Blogger isa xana said...

nao sei q dizer do poema... fiquei sem palavras. é forte demais para mim.
so sei q de cada vez q cá venho gosto mais e mais do teu blog:)

*

9:03 PM  
Anonymous Anonymous said...

Uma segunda leitura que faz muito bem, lembrei-me e aqui voltei. O teu blog menina, começa a mudar os nossos hábitos, até para o revisitar e reler o que nos dá muito prazer... Fiz este comentário para que o saibas...
Gosto de me ver por cá, faz-me bem!
Ricky

9:41 AM  
Anonymous Anonymous said...

Where did you find it? Interesting read » » »

10:47 PM  

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