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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Tuesday, July 10, 2007

Todos os caminhos

No seu escritório, Leonor fita os dossiers abertos ao longo de todo o armário. Tinham chegado ao fim. Ana vira as folhas pondo tudo de principio novamente para começar um novo ano que começará em Setembro.

- Por onde tens andado Ana?
- Eu tenho andado sempre por aqui. Sou uma pessoa de rotinas duras. Faço sempre tudo da mesma maneira sempre as mesmas horas.
- Nunca mais te vi.
-Tu és assim, rsss. Easy come easy go.

Ana tinha aberto uma gaveta. Tinha começado a terapia das gavetas. Era bom descobrir coisas das quais já não se lembrava mais.

- Há quanto tempo não te sentas à janela, descansando os olhos no verde? – perguntou a Ana.

- Dois anos. Parece que foi ontem. As coisas mudam à velocidade da luz. Em dez anos as coisas mudaram tanto…
- Arrependida?
- Não é arrependimento… é … é pensar que não deviam ter acontecido…
- Mas aconteceram.
- Que algumas coisas aconteceram sem eu esperar.
- A maior parte das vezes é assim.
- Que se não tivessem acontecido…
- Nada teria sido diferente.
- Porquê?
- Existem vários caminhos para chegares ao teu destino mas todos vão lá dar.

Ana coloca um cd no gravador. A música começa a tocar.

“Lord of the Ages came one night…”

- Há quanto tempo não ouves Magna Carta?
- Imenso.

Leonor abriu a janela e olhou para o jardim em frente. Estavam alguns galhos da velha árvore caídos no chão derrubados pelo vento.
- Não te preocupes. Estão outros a crescer..- disse a Ana
Leonoreta

11 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Por muito que sejamos rotineiros, ou tenhamos já algumas rotinas pré definidas e das quais já não abdicamos, porque o ritmo de vida assim o requer, temos talvez de dar mais atenção a certas coisas que nos rodeiam e, está tambem no texto uma boa chamada de atenção para isso.
Quando algo está a terminar, se tivermos suficiente espirito de observação, havemos de notar que alguma coisa de novo está a começar.

Bom fim de semana.

JMC

11:47 AM  
Blogger . said...

Por vezes só me apetecia fazer uma loucura, isto é, sair da rotina e sei lá fazer o que passar pela cabeça...enfim! Nesses anos todos deves ter saido da rotina, não!? :D

12:27 PM  
Blogger Leonor said...

PARA JMC

ou seja, José, dentro da constância há sempre aquela inconstância e é pela constância que vamos aguentando a surpresa da inconstãncia. tive um professor de filosofia que me explicou isto mas muito melhor do que eu agora digo aqui.

abraço da leonoreta

12:50 PM  
Blogger José Manuel Dias said...

...e posts?!!..aguardamos..

7:32 PM  
Blogger SilenceBox said...

Um post muito interessante e agradavelmente escrito, como os anteriores posts! Continuas a ser ADMIRÁVEL!
Um grande beijinho para ti

12:18 PM  
Blogger augustoM said...

O virar da página, o fechar do livro e, está consumada a despedida.
Vou-te contar um segredo. Será mesmo segredo? Com tantos a ler, duvido.
Deixa-me mais saudades o passado que está para vir do que o passado actual.
Saber que não poderei ver esse passado vindouro, é uma espécie de saudosismo da angústia, a impossibilidade de saber a continuação do filme da nossa existência. Como eu gostaria de saber como o protagonista desta aventura humana se vai desenrascar no futuro. Como irá vestir-se? O que será considerado cultura? Acabaremos com a fome ou ela acabará connosco? Que longevidade teremos? 150 ou 200 anos, não quero pensar que retomemos os 50. Que meio de locomoção substituirá o automóvel? Fins de semana noutro planeta? Casamentos intergaláticos? As crianças já serão adultas aos 10 anos de idade? Computadores accionados só pelo pensamento? Que espécie de governos iremos ter para substituir a democracia, que como sabemos está um bocado caduca? E o bem e o mal? Continua o mesmo critério de definição, ou teremos outra forma de ajuizar o nosso comportamento? Em fim, deixa-me sonhar com aquilo que nunca verei.
Um beijo. Augusto

6:10 PM  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Leonor
Diálogos de férias... quando parece que queremos arrumar o mundo.
Tens mesmo que usar óculos de ver ao perto :) Os painéis são pequenos, mas consegue-se ler. Desculpa, mas não consigo pô-los maiores, já tentei mas não dá, nem sei porquê.
Um beijo
Daniel

9:12 PM  
Blogger Pepe Luigi said...

Leonoreta,
Continuas a ser maravilhosa na tua maneira de escrever.

Aguardo a tua visita ao meu sinestesia-crepuscular. Obrigado

Beijinhos
do Pepe.

10:09 PM  
Blogger José Gomes said...

Amiga,
às vezes confundes-me com essa "Ana"... parece-me que muitas vezes vives em mundos paralelos!
Dou por mim, muitas vezes, a ler o que tens escrito ao longo dos tempos... muitas vezes vejo que existe dois seres diferentes, com uma filosofia e uma maneira de enfrentar os desafios da vida muito peculiar. Mas é esta Ana que mais me confunde e que procuro sempre nas linhas que escreves.
Muitas vezes pergunto-me "Por onde tens andado Ana?"...
"Poetas Andaluces de Ahora"... ai que saudades eu tenho desses tempos de luta.
Um abraço
José Gomes

1:09 PM  
Blogger deep said...

acaso ou designio?
escolhe as gavetas
repete os passos
pé ante pé
repõe o porqué?
[invo][evo]lução
certezas,sorte,acaso...
escolha, imposição...
liberdade??
se o mar fosse apenas água e sal...que seria da maré?
gosto de olhar a janela do porqué, de espreitar pelas frestas da fé...e tanta vez responder apenas :
"tu és assim...."

um abraço

* nunca havia ouvido Magna Carta ...obrigado

11:07 AM  
Blogger SILÊNCIO CULPADO said...

É uma das coisas que me assusta nestas sociedades apressadas e cheias de compromissos, é a perda da capacidade de olhar à volta e amar as coisas simples.

10:08 PM  

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