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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Thursday, June 07, 2007

Morar no campo

Os meus pais moram no campo. Sítio húmido no Inverno e solarengo no Verão, onde uma vegetação aleatória e rebelde de flores amarelas e algumas vermelhas cobre um terreno baldio enorme. Eucaliptos dominam o reino das árvores existente.

- Que flores são aquelas? – pergunta a Ana.
- Quais? As vermelhas? Para mim, flores vermelhas no campo são sempre papoilas. – respondi.

Mas não eram papoilas.

Hoje o espaço aéreo estava repleto de pássaros que voavam em despique de árvore em árvore e alguns a pique a rasarem o chão em brincadeiras de Primavera.

- Que pássaros são aqueles? – pergunta a Ana.
- Quais? Aqueles pequenitos? Para mim, os pássaros no campo são todos pardais. – respondi.

Mas não eram pardais.



leonoreta

29 Comments:

Anonymous Anonymous said...

As papoilas são complexas. A despeito de se despirem na sua singeleza, com qualquer olhar rápido e pouco (ou sobretudo) pouco entendido, mantêm-se herméticas nos seus mistérios. Não há um só vermelho nas papoilas, há vários, que vão do negro ao aberto vermelho, sempre naquele macio tom aveludado. Nos tais campos, nascem no meio do amarelo das flores do trevo, um amarelo canário com sabor a bananas a que se chamam azedas. Há abençoados (de direito ao delírio e internamento), que as olham em redondo, sonhando totolotos de inspiração afegã. Restos das escritas do Charles Duchaussois, embalados pela cor.
É
Nos campos, quando os bandos de pardais ( que até podem ser estorninhos, melros, ou outros passarões que tais) atacam as cerejeiras, o chão tolda-se de vermelho. É a cor do olhar, que contemplativo de tanta estragação, só vê bandeiras desfraldadas aos ventos.
Vermelhas, mas não papoilas.

7:17 PM  
Blogger A.S. said...

Enquanto a paisagem suscitava as perguntas da Ana, tu celebravas a luz, a suave brisa, o eterno rodar do tempo, o mivimento perpétuo das ciosas!

Então, no coração da tarde
acende-se o poema:
No pulsar frágil e vermelho
das papoilas,
na melodia dos pássaros
assustados,
que paracem repetir ao ouvido
a nomeação serena do amor...



Um terno beijo!

7:28 PM  
Blogger A.S. said...

ERRATA: movimento coisas (Sorry)

Detesto gralhas!

7:30 PM  
Blogger Galarote said...

Olá!

A Anita também mora no campo, anda de bicicleta e colhe frescas flores matinais que põe na cesta de verga.

Corre saltitante, Anita verdejante!

Abração!

Ditado por Saloio, redigido por Escrivão Matulão!

11:32 PM  
Blogger SilenceBox said...

Deliciei a ler este texto!

Estas palavras cheiram-se a campo, a "papoilas que não são papoilas"... e, por detrás delas, ouvem-se os cantos dos "pardais que não são pardais" ;-)

Um beijinho grande e bom fim de semana!

11:46 PM  
Blogger Paula Raposo said...

Senti aqui o cheiro a campo...beijos.

2:08 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Como citadina de muito reduzida experiência da vida no campo, não percebes nada das coisas rurais.
Mas sabes doutras coisas.
Como diz o povo:
"Cada macaco no seu galho"
(sem ofensa...eh eh)
Eu tive a sorte de conhecer alguma coisa da vida campesina quando era novito.
Mas isso já foi há tanto tempo...
Gostei deste teu post simples mas eloquente.

Beijinhos

2:59 PM  
Anonymous Anonymous said...

No campo terá sempre de haver Papoilas e Pardais, embora ao olhar dos mais conhecedores, possam não ser.

Bom fim de semana

JMC

3:10 PM  
Blogger mac said...

Pena que estamos tão longe dos ares do campo, cada vez mais embrenhados no espaço citadino. Quando vamos para o campo, até nos sentimos mais soltos e livres...

4:04 PM  
Blogger Nilson Barcelli said...

Saíste-me cá uma naba em matéria de coisas campestres...
Tenho reparado que há muitos pássaros este ano, principalmente melros e piscos (pardais há sempre...).
Bom fim-de-semana, beijinhos.

6:44 PM  
Blogger Leonor said...

PARA ANONIMO

Charles Duchaussois. hum...não conheço. irei ver...

mas o que eu conheço é a abrangência dos conceitos e o que eu admiro é a tradução dessa abrangência nas associações de cada um, como aquela que acabou de fazer, de forma sublime, sobre oas papoilitas e os pardalitos.

leonoreta

8:06 PM  
Blogger Leonor said...

PARA JMC

no campo lá terá que haver papoilas e pardais. já no meio do betão tais espécies seriam uma completa novidade, de tal modo, que nos perguntariamos, que catastrofe estará para acontecer?

obrigado pela visita JMC

8:08 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá Leonoretta,

Quando estas generalizações (falaciosas como o são quase todas as generalizações) respeitam às curiosidades da vida do campo ou mesmo da cidade, são geralmente inconsequentes.

O que é menos pacífica é a tentação facil de se responder a questões que implicam outras complexidades, com a mesma ligeireza e desfassatez com que se respondem a estas. É que nem todos os passaros são pardais, nem todas as flores vermelhas do campo são papoilas, nem...... nem...... nem.....nem tudo o que luz é oiro!!!

Bom fim de semana
Ana Joana

8:14 PM  
Blogger Leonor said...

PARA ANA JOANA

sim, claro, concordo plenamente.

nem todos os passaros sao pardais: assim os há de todos os nomes, embora todos voem.

nem todas as flores vermelhas sao papoilas: assim as há de todas as cores embora murchem.

nem tudo o que luz é ouro mas lá que brilha, brilha.

beijinhos da leonoreta

8:42 PM  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Leonor
Então já não há papoilas nem pardais nesses campos? :)
Claro que sim... mas não era isso que querias dizer, pois não?
Um beijo
Daniel

12:40 AM  
Blogger Mustafa Şenalp said...

ÇOK GÜZEL BİR SİTE.

8:35 AM  
Blogger Isamar said...

Um post simples e bonito! Consegues sempre conciliar as duas coisas. Duas realidades. O meio rural e o meio urbano. Hoje, escrevo-te do rural, aqui à beira do nosso amigo Cusco. Chove, o céu esta cinzento escuro a querer dizer-me que terei de esperar bastante tempo ainda pelo sol. Aqui costuma dizer-se que todos os pássaros comem milho só quem paga são os pardais. Mas vejo outros: melros, tordos, pintassilgos...
papoilas também as há, vermelhas como os hibiscos e as sardinheiras.
Mas, afinal, o que tu querias dizer é que tudo tem as suas vantagens, as suas desvantagens, a sua beleza...
Amiga e quanto ao arvoredo, gosto dos eucaliptos da minha terra mas os jacarandás floridos dos jardins das cidades também são muito bonitos.
Beijinhos e bom domingo.

p.s. Tens um comentário para ler no meu post. Volta lá por favor!

9:49 AM  
Blogger lena said...

Leonor, amigunha

deliciei-me

para mim eram papoilas, , eram flores vermelhas e elas gritam num campo qualquer

as amarelas são um manto de luz brilhante que cobre os campos e os embeleza

e senti os pássaros cantar, pintassilgos, ou mesmo pardais que importa o importante é que estavam lá e aqui consegui ver a deslumbrante paisagem, enquanto o cheiro dos eucaliptos perfumava o meu pensamento

adorei ler-te nesta descrição campestre que às vezes tenho uma certa saudade

abraço-te docemente, com o mesmo carinho de sempre

beijinhos ternos para ti, obrigada pela força, tu sabes o que digo e agradeço

beijos muitos doce amiguinha

lena

11:50 AM  
Blogger Sr. Jeremias said...

Os pardais, serão sempre pardais mesmo que não o sejam. Gosto de pardais...

6:09 PM  
Blogger Madalena said...

:)

Beijinho*

9:49 PM  
Blogger happiness...moreorless said...

gostei muito do texto e adoro o campo =)!!!

****

11:19 PM  
Blogger Aldina Duarte said...

Até chegar ao nome certo é só dar um pulinho, quando se anda entre flores, pássaros, verde e vermelho, para não falar do céu no meio disso tudo...

Até sempre

3:54 AM  
Blogger augustoM said...

Claro que, o viver no campo não pode ser balizado, viver no campo é viver tudo sem escolhas nem ideias pré concebidas.
Um beijo. Augusto

8:45 PM  
Blogger José Gomes said...

Esta tua recriação da vida do campo está bem apanhada. . Flores amarelas, vermelhas, azuis, brancas... são sempre Flores, independentemente do nome. E estão lá prontas a retribuir um sorriso!
Até os pássaros (pardais ou qualquer outro nome que lhes queiras chamar!), estão sempre lá, atentos e prontos para retribuir com o seu cantar a um gesto ou um carinho que formulaste.
Gostei deste texto.
Um abraço.

9:49 PM  
Blogger Cusco said...

Olá! Tenho estado a tentar descobrir que pássaros eram mas não consigo!
Pardais não eram pois não voam assim, andorinhas não vão para as árvores…
Agora papoilas eram de certeza! Ai eram, eram!
Um abraço!

6:38 PM  
Anonymous Anonymous said...

Já te li uma bordoada de vezes.
Tenho de chegar a uma conclusão.
Não me parece que a ideia seja chegar à conclusão que nem tudo o que parece é.
Não me parece que a ideia seja chegar à conclusão que a realidade é subjectiva, nem que o desconhecimento induz o erro.
Não me parece, lendo-te, que o texto tenha uma mensagem tão simples quanto aparenta.
Não me parece que pretendas revelar que a cultura urbana é contra a natureza.
Afirmas, e no momento seguinte assumes o erro provocado pelo desconhecimento ou pelo desprendimento.
Aonde me queres levar?
Diz-me lá, estou confuso.

10:37 PM  
Blogger Barão da Tróia II said...

Tinha-te perdido voltei a encontrar-te, vejo que continuas em grande aqui no teu cantinho, boa semana.

4:35 PM  
Anonymous Anonymous said...

Faz tempo que aqui não vinha, mas è sempre um local agradável de se visitar :)
Bjs

11:21 AM  
Blogger Isamar said...

Tens um desafio no meu blog. Quando puderes, e se o entenderes, dá-lhe continuidade.
Beijinhos

5:47 PM  

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