Ex Improviso

Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Thursday, May 17, 2007

Fragmentos dela, dele e às vezes dos outros (10)

“Lamento não tê-lo cativado”, disse ela ao fim de várias tentativas de chamar-lhe a atenção, pronta a desistir para sempre.

Ela era assim, de extremos. Amava ou odiava mas nunca ficando na indiferença. Ele tinha-se mostrado, logo de início, um ser pensante e isso sobressaltou-a, despertando-lhe o interesse.

“Cativou sim, sem espinhas”, disse ele, surpreendendo-a quando ela já não esperava mais nada.
Ela tinha pensado que não. Pensava sempre que quando a sua vontade não era satisfeita a culpa era dela, que os outros não tinham vida própria. O sol girava só para ela e o mundo à volta do seu umbigo.

Descobriram-se, falando daqueles que só falam do tempo ora solarengo ora molhado. “metereologistas”, disse ele. “metereologistas!?”, ela rira. Nunca tinha pensado isso daquelas pessoas que ouvindo uma expressão uma vez, aplicam-na, mesmo fora do contexto, a todas as situações que lhes surgem na frente. A frase feita da cultura.

Compunham quadros de palavras, começando um numa ponta, acabando outro noutra ponta. Pelo meio misturavam cores em realidades imaginárias, atingindo a isotopia.
Sabiam-se dotados naquele jogo.


da Leonor

27 Comments:

Blogger Sr. Jeremias said...

Conheço alguém assim :)

11:41 PM  
Blogger Aldina Duarte said...

Os encontros inicias contam sempre com a sabedoria inata natureza; a começar pela observação da manifestação das estações e a no toque subtil da mão no ombro do outro ao dizermos adeus!

A simplicidade que fere tanto os orgulhos egocêntricos:-)

Até sempre

12:07 PM  
Blogger António said...

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6:46 PM  
Blogger António said...

This comment has been removed by the author.

6:48 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Quantas vezes uma relação (no seu sentido mais vasto) não começa por um mau entendimento?
E quantas vezes um mau entendimento não impede inexoravelmente uma relação?
Gostei!

Beijinhos

6:49 PM  
Blogger Paula Raposo said...

Eu penso que existem pessoas que gostam de complicar! Tudo gira em volta de si mesmas e do seu umbigozinho. E isso torna-se uma grande chatice. Bom fim de semana. Beijos.

7:05 PM  
Blogger mac said...

Os primeiros encontros, o descobrir do outro, a sedução, a incerteza...

10:25 PM  
Anonymous Anonymous said...

O mata-se e o esfola-se. Nesta coisa das complementaridades, que se fazem perfeição imutável (e inevitáveis, quando do fundo do ventre), como o toque de Deus na criação de Adão de Miguel Ângelo na Capela Sistina, o que se soergue, é a bela cumplicidade que se faz da imaterialidade. A isotopia, é assim o território imenso da liberdade, feito da generosa aceitação do espaço e do tempo, ou muito mais que isso, feito da “realização” da sua inexistência. E quando os olhos se acham, e se fazem focos nos olhares interrogativos dos espectadores especados, qualquer sorriso condescendente, segura bem a tradicional consideração...” não sei porquê, mas acho que amanhã chove....”
Tenha uma boa semana Leonor.

12:52 AM  
Anonymous Anonymous said...

Breve síntese de um cenário que caracteríza as diversas formas de aproximação.

Bjs

9:45 PM  
Blogger A.S. said...

Querida Leonor,
Quantas vezes sentimos que as palavras que se podem dizer parecem ridiculas? Quantas vezes acreditamos que haverá sempre algo que nos despertará para a ousadia como uma brisa que nos cai sobre o rosto suavemente?
Porém nunca nos lembramos do imprevisto, que pode acontecer num gesto ocasional, num sorriso, num olhar, quando estamos junto a um rio, partilhando talvez um pouco inibidos, um banco de jardim...

Um BeijO!

10:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Desta vez a Isotopia permite-me fazer uma leitura mais apaixonada do teu texto, revirou o meu sentido resignado alegrando-me pelo sentido que lhe deste, ou que eu dei.
Fabulástico lol
Um Abraço

6:12 PM  
Blogger Isamar said...

Há pessoas assim. Muitas mais do que nós pensamos. Julgam-se o centro do mundo e tudo o mais gira à sua volta. Quando não atingem o protagonismo que pretendem sentem uma grande frustração. Gosto muito destes teus posts. Curtos mas muito interessantes. Não é tarefa fácil. Escreves muito bem.
Beijinhos

10:01 PM  
Blogger Mocho Falante said...

Quando apenas olhamos o nossa caminho e não percebemos que no mesmo podem haver pegadas de outrem então temos uma chatice

beijocas doces

10:19 PM  
Blogger Rui Fartura. said...

a inocência do primeiro olhar*

10:09 AM  
Blogger lena said...

Leonor, minha querida amiguinha

já li este "Fragmentos..." três vezes e três vezes não comentei, não por rejeitar a ideia, mas porque tinha que estar ciente do que escrevia

os teus improvisos são tão bem escritos e atingem a realidade na perfeição

li o comentário do António, li tantas vezes como li a tua partilha e fica: "um mau entendimento não impede inexoravelmente uma relação?"

pensando friamente a resposta é sim. porém não é do comentário do António que me debruço, mas sim no que nos dás a ler

falar por falar, não consigo, falo o que sinto. o “tempo” passa por mim sem o sentir, embora uma brisa marítima me consiga acariciar o rosto e não ficar indiferente…

dizemos o que não queremos e o que queremos fica entalado...

talvez por dizer o que quero é que fiquei destroçada…, mas fui cativada sem espinhos por uns momentos

misturei-me na realidade...

Leonor doce amiga, sempre que te leio revejo-me em muitas situações pelas quais passei, tocas-me…

e volto a repetir-me escreves tão bem doce Leonor

a vontade de te abraçar é muita

estico os meus braços e toco-te…

um terno e doce beijo, minha querida amiga

lena

11:33 AM  
Blogger lena said...

Leonor, minha querida amiga

há algo que não disse e que devia ter registado

"O sol girava só para ela e o mundo à volta do seu umbigo."

este ela pode ser ele, sem olhar a fins para o conseguir acabam por magoar …

beijinhos muitos

lena

11:41 AM  
Blogger Isamar said...

Passa pelo meu blog. Tens lá um desafio. Adere. Divulga o país que te viu nascer.
Beijinhos

1:47 PM  
Blogger happiness...moreorless said...

é um como um livro delicioso =)

3:56 PM  
Blogger Cusco said...

Olá! Vi na Isabel que mencionas que tua avó era de S.Romão!
Terra para mim muito familiar e em cuja Igreja fiz a minha primeira comunhão e que ainda hoje frequento regularmente!
O mundo é mesmo muito pequeno!
Um beijo!

5:48 PM  
Blogger Isamar said...

Minha Querida Amiga!

Vinha agradecer o teu comentário e aceitação do même e,de seguida, falar-te do Cusco, eis senão quando ele chega primeiro.
Afinal já somos quatro com família em S. Brás de Alportel. A minha é toda de lá, excepto o filho. O mesmo deve acontecer com ele. A filha deve ter nascido em Faro.Há doze anos!Também a mãe da Dulce era de S.Brás de Alportel e passavam férias em Faro, no Montenegro. Um dia , temos de nos juntar todos e festejar esta família que estamos a construir.
Vai ser um grande acontecimento e até podemos convidar outros amigos.
Obrigada, Leonor, pela tua disponibilidade e simpatia.
Já agora visita o Cusco ( http://latidosemdono.blogspot.com/)e não te irás arrepender. Nem ele de te ter conhecido agora.
Beijinhos

6:21 PM  
Blogger augustoM said...

Os nossos políticos são mestres na utilização de palavrões culturais, acham que ficam mais in, quando na maior parte das vezes, andam out. É ridículo, vê-los na moda da palavra.
Um beijo. Augusto

8:42 PM  
Blogger Isamar said...

Olá, Leonor!

Aqui na terra todos somos primos e primas. Eh! Parente! Era o cumprimento que eu mais ouvia pelos caminhos de terra a caminho do cerro onde morava a tia Maria Isabel. Não a que me referia no post. A avó e a bisavó maternas também tinham esse nome.
Provavelmente, até temos ascendentes comuns, Leonor!
Beijinhos!

10:48 PM  
Anonymous Anonymous said...

"...“Cativou sim, sem espinhas”, disse ele, surpreendendo-a quando ela já não esperava mais nada.
Ela tinha pensado que não. Pensava sempre que quando a sua vontade não era satisfeita a culpa era dela, que os outros não tinham vida própria. O sol girava só para ela e o mundo à volta do seu umbigo..."


Saudades... mesmo muitas saudades de aqui vir!

Tive que ler mais que uma vez para achar que entendi qualquer coisita.
A culpa não é tua, somente minha, pq o que escreveste está excelente!

Salientei aquele pedaço do pedaço do teu pensamento porque o achei forte e muito comum a tantos que eu conheço e quiçá eu próprio.

Aprendi que não tenho que agradar a todos e vice versa, mas quantas vezes o juizo de valor é completamente errado no início de uma relação, seja ela qual for?

E quantas vezes se encontram situações de egoísmo intelectual e que muitas vezes nos causam algum incómodo e surpresa quando damos conta que existe vida para além de nós...e até pensante?

Adorei, simplesmente e a tua escrita não continua na mesma, Leonor, está bem melhor...

Beijinhos

4:30 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor

Quantas pessoas se conhecem (vivem assim) o que é bem pior________é que a imaginação para eles não existe - o tema é sempre o tempo - ainda bem que o tempo se resume a três estações________

Excelente texto para muito boa gente reflectir:))

Beijinhos com muito carinho
BSemana

5:19 PM  
Blogger Isamar said...

Passei na manhã soalheira, antes da partida, para te desejar um bom dia.
Beijinhos

7:54 AM  
Blogger Cusco said...

Olá! Desejo-te um bom fim-de-semana!

Se me deres mais alguma pista talvez consiga chegar a algum familiar teu! Conheço muito bem S.Romão e S.Brás de Alportel!
Podemos muito bem termo-nos encontrado por lá, dado as nossas idades serem muito próximas!

Um beijo do Cusco!

5:30 PM  
Blogger deep said...

...transpor a pele que nos cinge o olhar
é recriar o mundo que carregamos
num plano por revelar

3:56 PM  

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