Fragmentos dela, dele e às vezes dos outros (10)
“Lamento não tê-lo cativado”, disse ela ao fim de várias tentativas de chamar-lhe a atenção, pronta a desistir para sempre.
Ela era assim, de extremos. Amava ou odiava mas nunca ficando na indiferença. Ele tinha-se mostrado, logo de início, um ser pensante e isso sobressaltou-a, despertando-lhe o interesse.
“Cativou sim, sem espinhas”, disse ele, surpreendendo-a quando ela já não esperava mais nada.
Ela tinha pensado que não. Pensava sempre que quando a sua vontade não era satisfeita a culpa era dela, que os outros não tinham vida própria. O sol girava só para ela e o mundo à volta do seu umbigo.
Descobriram-se, falando daqueles que só falam do tempo ora solarengo ora molhado. “metereologistas”, disse ele. “metereologistas!?”, ela rira. Nunca tinha pensado isso daquelas pessoas que ouvindo uma expressão uma vez, aplicam-na, mesmo fora do contexto, a todas as situações que lhes surgem na frente. A frase feita da cultura.
Compunham quadros de palavras, começando um numa ponta, acabando outro noutra ponta. Pelo meio misturavam cores em realidades imaginárias, atingindo a isotopia.
Sabiam-se dotados naquele jogo.
da Leonor
27 Comments:
Conheço alguém assim :)
Os encontros inicias contam sempre com a sabedoria inata natureza; a começar pela observação da manifestação das estações e a no toque subtil da mão no ombro do outro ao dizermos adeus!
A simplicidade que fere tanto os orgulhos egocêntricos:-)
Até sempre
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Querida Leonor!
Quantas vezes uma relação (no seu sentido mais vasto) não começa por um mau entendimento?
E quantas vezes um mau entendimento não impede inexoravelmente uma relação?
Gostei!
Beijinhos
Eu penso que existem pessoas que gostam de complicar! Tudo gira em volta de si mesmas e do seu umbigozinho. E isso torna-se uma grande chatice. Bom fim de semana. Beijos.
Os primeiros encontros, o descobrir do outro, a sedução, a incerteza...
O mata-se e o esfola-se. Nesta coisa das complementaridades, que se fazem perfeição imutável (e inevitáveis, quando do fundo do ventre), como o toque de Deus na criação de Adão de Miguel Ângelo na Capela Sistina, o que se soergue, é a bela cumplicidade que se faz da imaterialidade. A isotopia, é assim o território imenso da liberdade, feito da generosa aceitação do espaço e do tempo, ou muito mais que isso, feito da “realização” da sua inexistência. E quando os olhos se acham, e se fazem focos nos olhares interrogativos dos espectadores especados, qualquer sorriso condescendente, segura bem a tradicional consideração...” não sei porquê, mas acho que amanhã chove....”
Tenha uma boa semana Leonor.
Breve síntese de um cenário que caracteríza as diversas formas de aproximação.
Bjs
Querida Leonor,
Quantas vezes sentimos que as palavras que se podem dizer parecem ridiculas? Quantas vezes acreditamos que haverá sempre algo que nos despertará para a ousadia como uma brisa que nos cai sobre o rosto suavemente?
Porém nunca nos lembramos do imprevisto, que pode acontecer num gesto ocasional, num sorriso, num olhar, quando estamos junto a um rio, partilhando talvez um pouco inibidos, um banco de jardim...
Um BeijO!
Desta vez a Isotopia permite-me fazer uma leitura mais apaixonada do teu texto, revirou o meu sentido resignado alegrando-me pelo sentido que lhe deste, ou que eu dei.
Fabulástico lol
Um Abraço
Há pessoas assim. Muitas mais do que nós pensamos. Julgam-se o centro do mundo e tudo o mais gira à sua volta. Quando não atingem o protagonismo que pretendem sentem uma grande frustração. Gosto muito destes teus posts. Curtos mas muito interessantes. Não é tarefa fácil. Escreves muito bem.
Beijinhos
Quando apenas olhamos o nossa caminho e não percebemos que no mesmo podem haver pegadas de outrem então temos uma chatice
beijocas doces
a inocência do primeiro olhar*
Leonor, minha querida amiguinha
já li este "Fragmentos..." três vezes e três vezes não comentei, não por rejeitar a ideia, mas porque tinha que estar ciente do que escrevia
os teus improvisos são tão bem escritos e atingem a realidade na perfeição
li o comentário do António, li tantas vezes como li a tua partilha e fica: "um mau entendimento não impede inexoravelmente uma relação?"
pensando friamente a resposta é sim. porém não é do comentário do António que me debruço, mas sim no que nos dás a ler
falar por falar, não consigo, falo o que sinto. o “tempo” passa por mim sem o sentir, embora uma brisa marítima me consiga acariciar o rosto e não ficar indiferente…
dizemos o que não queremos e o que queremos fica entalado...
talvez por dizer o que quero é que fiquei destroçada…, mas fui cativada sem espinhos por uns momentos
misturei-me na realidade...
Leonor doce amiga, sempre que te leio revejo-me em muitas situações pelas quais passei, tocas-me…
e volto a repetir-me escreves tão bem doce Leonor
a vontade de te abraçar é muita
estico os meus braços e toco-te…
um terno e doce beijo, minha querida amiga
lena
Leonor, minha querida amiga
há algo que não disse e que devia ter registado
"O sol girava só para ela e o mundo à volta do seu umbigo."
este ela pode ser ele, sem olhar a fins para o conseguir acabam por magoar …
beijinhos muitos
lena
Passa pelo meu blog. Tens lá um desafio. Adere. Divulga o país que te viu nascer.
Beijinhos
é um como um livro delicioso =)
Olá! Vi na Isabel que mencionas que tua avó era de S.Romão!
Terra para mim muito familiar e em cuja Igreja fiz a minha primeira comunhão e que ainda hoje frequento regularmente!
O mundo é mesmo muito pequeno!
Um beijo!
Minha Querida Amiga!
Vinha agradecer o teu comentário e aceitação do même e,de seguida, falar-te do Cusco, eis senão quando ele chega primeiro.
Afinal já somos quatro com família em S. Brás de Alportel. A minha é toda de lá, excepto o filho. O mesmo deve acontecer com ele. A filha deve ter nascido em Faro.Há doze anos!Também a mãe da Dulce era de S.Brás de Alportel e passavam férias em Faro, no Montenegro. Um dia , temos de nos juntar todos e festejar esta família que estamos a construir.
Vai ser um grande acontecimento e até podemos convidar outros amigos.
Obrigada, Leonor, pela tua disponibilidade e simpatia.
Já agora visita o Cusco ( http://latidosemdono.blogspot.com/)e não te irás arrepender. Nem ele de te ter conhecido agora.
Beijinhos
Os nossos políticos são mestres na utilização de palavrões culturais, acham que ficam mais in, quando na maior parte das vezes, andam out. É ridículo, vê-los na moda da palavra.
Um beijo. Augusto
Olá, Leonor!
Aqui na terra todos somos primos e primas. Eh! Parente! Era o cumprimento que eu mais ouvia pelos caminhos de terra a caminho do cerro onde morava a tia Maria Isabel. Não a que me referia no post. A avó e a bisavó maternas também tinham esse nome.
Provavelmente, até temos ascendentes comuns, Leonor!
Beijinhos!
"...“Cativou sim, sem espinhas”, disse ele, surpreendendo-a quando ela já não esperava mais nada.
Ela tinha pensado que não. Pensava sempre que quando a sua vontade não era satisfeita a culpa era dela, que os outros não tinham vida própria. O sol girava só para ela e o mundo à volta do seu umbigo..."
Saudades... mesmo muitas saudades de aqui vir!
Tive que ler mais que uma vez para achar que entendi qualquer coisita.
A culpa não é tua, somente minha, pq o que escreveste está excelente!
Salientei aquele pedaço do pedaço do teu pensamento porque o achei forte e muito comum a tantos que eu conheço e quiçá eu próprio.
Aprendi que não tenho que agradar a todos e vice versa, mas quantas vezes o juizo de valor é completamente errado no início de uma relação, seja ela qual for?
E quantas vezes se encontram situações de egoísmo intelectual e que muitas vezes nos causam algum incómodo e surpresa quando damos conta que existe vida para além de nós...e até pensante?
Adorei, simplesmente e a tua escrita não continua na mesma, Leonor, está bem melhor...
Beijinhos
Querida Leonor
Quantas pessoas se conhecem (vivem assim) o que é bem pior________é que a imaginação para eles não existe - o tema é sempre o tempo - ainda bem que o tempo se resume a três estações________
Excelente texto para muito boa gente reflectir:))
Beijinhos com muito carinho
BSemana
Passei na manhã soalheira, antes da partida, para te desejar um bom dia.
Beijinhos
Olá! Desejo-te um bom fim-de-semana!
Se me deres mais alguma pista talvez consiga chegar a algum familiar teu! Conheço muito bem S.Romão e S.Brás de Alportel!
Podemos muito bem termo-nos encontrado por lá, dado as nossas idades serem muito próximas!
Um beijo do Cusco!
...transpor a pele que nos cinge o olhar
é recriar o mundo que carregamos
num plano por revelar
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