Pela trigéssima sexta vez
Aconteceu mais uma vez. Pela trigésima sexta vez aconteceu outra vez. Juro que não sei como acontece e amedronta-me pensar quantas mais vezes poderá acontecer. É uma sensação horrível de abandono que eu não desejo a ninguém. Fico revoltada comigo mesma. Odeio-me. Felizmente nunca entro em pânico. Acontecer-me logo a mim! A mim que tenho um sítio para cada coisa e cada coisa nunca sai desse sítio.
Penso naquela forma do tempo, Kronos malvado, que passa impiedosamente por mim, no seu tic tac, sem querer saber. Lentamente, o meu estado de desespero conduz-me a outro estado, o da resignação. É Kayros que toma conta de mim agora. Perdi a noção da passagem do outro tempo, e vivo o momento presente que se estende por horas. Saltei para a criatividade do meu íntimo e sou alma.
Busco palavras para músicas, para contos, para respostas.
- Porque deixo ficar as chaves em casa? - grito desesperada.
Leonoreta
18 Comments:
É de adolescente mas já vi em pessoas respeitáveis: as chaves ao pescoço numa espécie de colar...
Boa semana, Leonor.
Olá Leonoreta,
Perguntas porque deixas as chaves em casa, eventualmente será porque não queres abrir a porta!
Beijinhos e bom fim de semana
Ana Joana
PARA ANA JOANA
tal hipótese seria uma boa argumentação para FReud.
todavia, as coisas são bem mais simples do que isso.
distracção, pura e simples.
beijinhos da leonoreta
Não sei quanto tempo vive uma daquelas bactérias que vivem a dezenas de km de profundidade nas paredes das chaminés das fontes termais que existem nos mais profundos recantos dos oceanos. Não sei o tempo da luz primeira que se expande para além dos confins da compreensão. Sei do Kronos , que a profundidade e a amplitude do sentir, fez sumir como a névoa ao sol nas manhãs de verão. Depois, tudo é Kaíros, porque tudo se vive, tudo se faz, tudo se sente, tudo se diz. E então o tempo, é só uma ilimitada almofada de conforto, e não a implacável espada Dâmocles, suspensa ao sabor de qualquer urgência. Porque a inevitabilidade está na alma, e é acima de tudo, a expressão do desejo.
Desculpe Leonor. Creio que me distrai, e acabei por falar sozinho.
Infelizmente também me acontece muitas vezes deixar a chave dentro de casa. Mas sabe, se treinar muito, talvez um velho cartão de crédito enfiado na ranhura da porta, ajude. A mim resulta sempre. Aprendi com uma empregada de uma loja de fechaduras, que estava zangada com o patrão, numa das vezes que foi lá a casa para me abrir a porta. Continuo a deixar a chave dentro, mas nunca mais lhe telefonei. (ao patrão).
Tenha um bom fim-de-semana, e aproveite para fazer uma cópia, e esconde-la debaixo do vaso que tem à porta.È a garantia de que entra sempre e não se presta a leituras bazarocas.
Querida Leonor!
Um texto arrebatado, pleno de fulgor e de elucubrações que me estava a deixar meditando sobre o que te teria causado tanta perturbação e...deixaste as chaves em casa!
ah ah ah
Mas tu julgas que isso não acontece aos outros? Que os outros também não deixam chaves dentro dos carros?
Claro que sim!
Mas com os problemas dos outros podes tu bem!
ah ah ah
Beijinhos
Querida Leonor
Mas não te esqueces do número de vezes que tal aconteceu... :) Pode ser algo primordial, quem sabe... se fizesses uma regressão talvez descobrisses a razão não gostares de transportar chaves... terias sido guarda de calabouço? :)
Um beijo
Daniel
Aceita uma sugestão. Faz uma lista mental e percorre-a todos os dias antes de saires de casa. Tipo chaves, telemovel, carteira...
Era tão bom as palavras obedecerem aos nossos desejos, paciência, ficamos pendentes da sua boa vontade.
Um beijo. Augusto
Olá! Passo para deixar um abraço e agradecer a sempre simpática visita pela “Aldeia”.
Por aqui o Julho vai ser longo e já ferve nos montes!
Quanto a ser a trigésima sexta vez.. não tem problema: À dúzia é mais barato…
Até breve!
Leonoreta,
Não reparei se és do mesmo signo que eu (eu sou aquário. E se há objecto que eu me esqueço, perca ou me roubam são as chaves.
Porque será, se não acontece com outros objectos?
Um beijinho
do Pepe.
Olá, Leonor!
Voltarei para te comentar. Agora só te quero dizer que o bom Dia Isabel, morreu. Acho que andava espalhando vírus assim como o email.
Logo que tomei conhecimento disso, limpei o pc, mudei o nome do blog,ficou uma homenagem a Sophia de Mello Breyner, que muito admiro, e mudei o email. Mandar-te-ei o novo, em breve.
Beijinhos.
Leonor, amiguinha doce e querida
vim com palavras, apesar de não me ter ausentado, pois estive sempre, porque só sei estar!
desculpa nada te dizer, essa falta dói-me mais que as palavras que não deixei
foi preciso parar um pouco, não me deixar conduzir pelas emoções, pensar que não queria ser cinza, navegar mesmo sem água, foi necessário parar...
quero ser a última letra
de todas as palavras por terminar
voar entre silêncios e rasgar as nuvens escuras
pois caminhei sobre as palavras, tropecei nas pedras, mergulhei o olhar na saudade e a alma quase que deixava o corpo de tão pesada estar
volto lentamente, apanhei as tuas chaves e para não te esqueceres delas silenciosamente vou dizendo ao teu ouvido que elas são precisas.
as minhas “chaves” diferentes das que te esqueces em casa, vão ter que abrir de novo vários caminhos
estar atenta ao que escreves, alimentou-me muitos dos meus momentos
abraço-te com ternura, com amizade, com muito carinho
abraço-te porque preciso!
beijinhos meu amiguinha doce
lena
olha a mim volta e meia é arroz queimado...mas mais uma vez temos um texto que relata deliciosamente os episódios que nos causa uma angustia tremenda lool
beijocas doces
PS: vai uma fitinha porta chaves para pores ao pescoço?????
No futuro as chaves irao deixar de existir e ai nao vais ter mais preocupações!! :D
Por vezes os actos mais rotineiros cem no esquecimento...
Bonito texto muito bem arguentado.
Bjs Zita
..já li isto algures, será???
um abraço e um doce e feliz fim de semana
as chaves em casa, lugar delas... na verdade nunca as deviamos de lá tirar...
abrazo europeu
Querida filósofa dos mares, poso esse com o intuíde de resguardar a mais preciosa de nossas vidas, chaves que abrem nossos horizontes..
Quem sabe por ser aquariana (ou não..) um belo chaveiro que a anime a não esquecer mais as chaves..
Um abraço
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