A pesquisa indicial
O romance policial fascina-me particularmente pelas variadas técnicas de enredo que encerram. As mais conhecidas e utilizadas são:
1) o enigma tipo novelo, de onde o autor começa a puxar uma ponta de um emaranhado de fios a fim de desvendar o mistério da morte do cadáver (convém ter sempre um cadáver);
2) a técnica do puzzle, usada por Poirot, personagem de Agatha Christie;
3) e finalmente, a que para mim, é a melhor de todas, a pesquisa indicial usada por Conan Doyle na figura de Watson. Watson? Holmes! Não! Watson!. É através deste que Holmes brilha como mente superior.
A ideia de indicio surge a partir de um elemento com significado. Inferir a esse elemento um certo sentido é fundamental para que eu conte uma historia.
Contudo, não é qualquer indicio que serve os meus intentos. Tudo está cheio de indícios mas não faço historias com todos os indícios que me aparecem. Por exemplo: o assassino tem na gravata uma nódoa de manteiga, caspa na gola do casaco e lama nos sapatos. Terei de escolher aquele que se insere melhor na minha trama.
"O suspeito estava desmaiado no tapete da sala. Quando ele acordou deixei-o situar-se e perceber onde estava e o que fazia ali. Com ambas as mãos nos bolsos do meu blaser esperava calmamente. Quando parecia estar restabelecido ele colocou uma cara de interrogação por não saber que eu era. Identifiquei-me dizendo que era da polícia e mostrando-lhe o meu crachá.
A ideia de indicio surge a partir de um elemento com significado. Inferir a esse elemento um certo sentido é fundamental para que eu conte uma historia.
Contudo, não é qualquer indicio que serve os meus intentos. Tudo está cheio de indícios mas não faço historias com todos os indícios que me aparecem. Por exemplo: o assassino tem na gravata uma nódoa de manteiga, caspa na gola do casaco e lama nos sapatos. Terei de escolher aquele que se insere melhor na minha trama.
"O suspeito estava desmaiado no tapete da sala. Quando ele acordou deixei-o situar-se e perceber onde estava e o que fazia ali. Com ambas as mãos nos bolsos do meu blaser esperava calmamente. Quando parecia estar restabelecido ele colocou uma cara de interrogação por não saber que eu era. Identifiquei-me dizendo que era da polícia e mostrando-lhe o meu crachá.
- Você tem uma barba já crescida. Não deve vir a casa há pelo menos três dias. - disse-lhe eu desviando a minha melena que, teimosamente, insistia em tapar-me os olhos. Tinha de mudar de cabeleireiro.
Ele pareceu assustar-se com tamanha descoberta. A sua expressão confirmou a minha suspeita.
- Você chama-se luís Vasconcelos e é professor numa universidade pública. Tem um carro verde escuro.
- Mas como é que você sabe? Perguntou o homem completamente siderado.
- Vi os seus documentos enquanto estava desmaiado. "
Concluindo, nem toda a informação me serve para contar uma história e toda a informação é desprezível se eu não souber contá-la.
da Leonor
23 Comments:
Não sabia, Leonor, que agora estás a enveredar pelos policiais... eheheh!
Continua bem firme com a tua veia de escritora (agora pelo policial dentro) e com o teu cunho pessoal que prende o leitor.
Gostei muito de voltar ao teu blog.
Um abraço.
Li em diagonal, Leonor. O tempo e a falta dele não me permitiram uma leitura atenta mas, amanhã,aqui estarei para ler com cuidado e deixar o meu comentário. Beijinhos
Como teria dito Holmes, 'Elementar meu caro Watson.
bom fim de semana.
JMC
...no livrete do carro o tom da cor não vem referido....como sabia que era verde ESCURO????
um abraço
Estou convicto, confesso. Que a pesquisa, geradora de frutos, está na busca dos indícios que grassam dentro do receptor (ele sem dúvida, as mais das vezes, o verdadeiro emissor) da informação. Ou parafraseando o meu amigo Nandi, cada um é como cada qual e nenhum é como evidentemente. Ora num mundo, que transforma evidências em informação até a sagacidade, a constatação do desconhecimento absoluto do que nos bate diariamente no nariz, é como consciencializar ironicamente a bela anedota que realmente passamos o tempo a ser. Está certo….
Boa semana Leonor. Recomendo-lhe Chandler. Á beira do abismo.
Querida Leonor!
Estou a ver que andaste a estudar umas coisas sobre as técnicas de enredo da literatura policial.
Ou já sabias isto?
Muito bem!
Agora só te falta escrever um pequeno conto...para começar.
Beijinhos
Querida Leonor
Ora aí está um caminho em que brilharias com certeza: escrever policiais... aliás até conheces os modelos... e se começasses?
Um beijo
Daniel
Nem mais!! Eh eh gostei. Beijos.
Concluindo, nem toda a informação conta uma história verdadeira, por isso toda a informação se torna desprezível se deturpar a história.
Leonor esta é a realidade da maior parte dos órgãos de informação do nosso país.
Um beijo. Augusto
Querida Leonor
Um bom policial___________não dispenso:))
E pelo que "vejo" também dás uma "perninha":))
(isto tá um verdadeiro saco - não tenho tido net)
Beijinhos com muito carinho
BDomingo
Querida Leonor
Fazes uma abordagem inteligente e subtil a um tema muito actual, que eu interpreto como uma critica aos actuais processos investigatórios. Se assim for, dir-te-ei que concordo contigo! Mas, muito sinceramente, não estou a ver-te a desenvolver densas tramas policiais. Se bem te conheço, as tuas motivações para a escrita, serão necessáriamente outras!
Um terno beijo!
Muito interessante,Leonor,neste momento em que procuro indícios para comprovar algo em que estranhamente me encontro envolvida.Nada de grave, descansa. Será difícil mas desistir é próprio dos fracos. Nada é contigo, amiga. Sou eu a pensar e a escrever.
Que tipo de pesquisa farei? Um caso a ver. Vou reler o teu post.
Beijinhos
Concordo inteiramente com a tua conclusão, normalmente aplico-a de forma extensiva, i.e. não só à informação.
A surpresa dos teus temas é uma satisfação para mim.
Qual será o próximo??
Um abraço
Hoje o motivo é outro.
Tenho o prazer de convidar a estares presente na sessão de lançamento do meu livro “Onde estiveste, Jesus?”, que terá lugar no dia 21 de Junho de 2007 pelas 19h.30 no Bar Ondajazz, na travessa Arco de Jesus, 7 - Campo das Cebolas. Lisboa
Um beijo. Augusto
Leonor eu adoro estes pretextos todos que descobres para como sempre nos deliciares...
agora numa de policiais, sim senhor temos uma Miss Marple na Blogoesfera
Beijocas
Também adoro policiais. É talvez a leitura que mais me ocupa.
Bjs
Está um dia de sol. Tu és um dos seus raios.
Aqueces a minha casa.
Beijinhos
Bom dia!
PARA JMC
ola Jmc.
perdão pelo atraso do agradecimento da sua visita. o fim do ano lectivo assoma-se cheio de trabalho. o que não quer dizer que os professores não trabalhem no resto do ano, rss
leonoreta
PARA ANONIMO
a sua visita constante ao sabado ja lhe retirou o estatuto de anonimo na verdadeira acepção da palavra.
passou a ser um anonimo conhecido e esperado.
leonoreta
Olá, Leonor!
Esta incursão pela vertente policial pode ser um caminho interessante, tudo depende da forma como será aprofundada.
Bjs
Minha Amiga Leonor!
Responderei ao teu apelo, logo que possa.Agradeço-te muito. Sinto-me lisonjeada. Há amizades virtuais que vão muito além disso. Espero que aconteça connosco.
Já passei por lá.E tenho registado o endereço do site.
Beijinhos e bom fim de semana.
nunca tinha pensado nas formas de escrever o policial... excelente
abrazo europeu
amiguinha e doce Leonor
peso que já te contei o meu fascínio pelos policiais, pelos mistérios, onde aprendi a navegar e a tentar descobrir, mas tu és surpreendes-me até com as técnicas
Agatha Christie, Watson. Watson brilhantes mentes, que me deixaram e deixam presa à leitura e aos desenvolvimentos
Concluindo bem contada, mesmo pensando que tem um certo carisma critico do que hoje se faz
abraço-te com ternura, como sempre
abraço-te até te sentir, beijos ternos para ti
lena
Post a Comment
<< Home