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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Saturday, March 11, 2006

Não faltava mais nada!

VP e Leonor apreciavam a imensidão do mar do alto da arriba naquela tarde de verão quente. Sol escaldante. Pela testa de Leonor escorriam grossas gotas de suor. Ela soprava de impaciência, ansiando o momento em que a inspiração fotográfica acabasse ao VP, que submerso naquilo que gosta esquece todo o resto.

Lá em baixo, num pontão sobre o mar, umas quinhentas pessoas esperavam sentadas em cadeiras, dispostas em filas magnificamente ordenadas o barco que os levaria a uma ilha ao largo.

De súbito, uma dessas pessoas, um senhor já de uma certa idade, cuja barriga se pendurava nuns calções patuscos de riscas brancas e azuis com meias brancas a saírem de umas sapatilhas puxadas até aos joelhos, levantou-se e aproximou-se da borda do pontão e grita: -Vejam aliiiiii. Imediatamente, numa histeria inexplicável todos os outros se precipitaram atrás dele, provocando um mergulho colectivo no mar da maior parte das pessoas que estavam mais à frente no pontão.

VP e Leonor observavam espantados e incrédulos. Numa fracção de segundos, a calma da tarde escaldante deu lugar a uma balbúrdia repentina. Recuperado do espanto, VP manda Leonor segurar o equipamento fotográfico e desce rápido pela ribanceira com o intuito de ajudar.

- Que maçada, bolas. Detesto segurar nestas coisas – reclamou Leonor – onde é que vais?

- Tentar evitar que as pessoas morram afogadas. – grita o VP

- ‘tás a brincar! São muitos, pá, ainda vais tu também... Não consegues. - Cada vez mais o VP se afastava e Leonor gritava para se fazer ouvir.

- Alguns hei-de conseguir salvar.

- Ooooora, tem paciência. Tens cada uma!

“Que coisa. Só a mim é que acontece disto. Eu à espera que ele tirasse as fotografias rápido para me ir embora e agora isto. Nunca mais chego a casa hoje. ‘tou que nem posso, a suar, cheia de poeira”. Leonor estava desesperada. Era sempre assim. Quanto mais depressa queria sair de um lugar mais se demorava para ir embora.

VP pega nas bóias penduradas no pontão e lança-as ao mar. Clama pela ajuda de Leonor.

- Quem? Eeeeeeu? Ah! Não faltava mais nada. Eles que não caíssem! Cambada de parvos! Olha, olha. Espera aí que já vou espatifar os meus calções Coronel Tapioca.

- Leonor, ajuda aqui a puxar o pessoal para cima. – insiste o VP.

- Isso é que era bom! Não vou, já disse! Anda embora. Deixa mas é isso da mão. Olha, posso telefonar para os bombeiros e já faço muito.

VP, junto da borda, de costas para a água não viu que alguém lhe segurava o tornozelo, puxando-o para a água. Na tentativa de controlar o equilíbrio, gira os braços desalmadamente enquanto grita, desesperado.

- Eeeeeeei! – quase grita a Leonor – não se pode dormir agora nesta casa? São quatro horas da manhã e estás nesse espectáculo? Queres acordar a vizinhança? Que cooooisa…


(Na manhã seguinte o VP contou-me o seu pesadelo e foi assim que o escrevi)


da Leonor

31 Comments:

Blogger augustoM said...

Para pesadelo não está mal, mas seres escolhida para a má da fita é que não é justo, o pesadelo nem era teu.
Um beijo. Augusto

12:33 PM  
Blogger José Gomes said...

Até me assustaste com o pesadelo...
Gostei muito de ler o teu "trabalho" desta semana.
Volto mais logo para comentar o que escreveste, nas calmas.
Agora vou vert o mar...
Um abraço.

1:54 PM  
Anonymous Anonymous said...

É, um bom texto, feito conscientemente, com o sub-consciente do outro, sofre-se as causas consequencias do sonho, mas em contrapartida, fica a saber-se que nem em sonhos a Leonor é esquecida e isto é realmente a parte interessante e principal da questão, o resto é o argumento a envolvencia, que nos faz ficar agarrados ás palavras escritas, até ao desfecho final.
Está muito bem conseguido.

JMC

2:45 PM  
Anonymous Anonymous said...

Ainda bem que foi um pesadelo!!! E vá lá que o VP acordou antes de se afogar, com o puxão no tornozelo!

E tu ali, à mão para uma ajuda. E ele pedindo, pedindo pedindo.

Os sonhos são assim, quase realidades, vindas muitas vezes não se sabe mto bem de onde (ou sabe-se).

Bom fim de semana para os dois e beijinhos
Ana Joana

2:54 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Como eu já estava a pensar mal de ti!
"Mas que falta de humanidade tem esta mulher!"
Ah ah ah
Estupendo este teu post!
Mas isso já é habitual!
Ler-te é sempre um enorme prazer!

Muito beijinhos

3:40 PM  
Blogger Astri* said...

LOLOLOL
Ainda acreditei que tinha sido real.. Mas para pesadelo até até não foi assim tão mau.;)

beijinho grande querida Leonor -*****

3:41 PM  
Blogger Leonor said...

Para JMC

ola.
e mais uma vez fiquei muito vaidosa com o seu comentario. bem vistas as coisas disse tudo em poucas palavras o que havia para dizer.
obrigado.

abraço da leonoreta

5:27 PM  
Blogger Leonor said...

para Ana Joana

ola.
se os sonhos são algum fragmento da realidade ( ou não)... assim de repente de quem eu me lembro que poderia explicar a questão... só Freud mesmo, rsss

beijinhos da leonoreta

5:29 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Aqui estou eu de novo.
De facto, hoje estás mesmo bem disposta.
Até o comentário que fizeste lá no meu canto está bem humorado.
E repito:
Ler-te é sempre um enorme prazer.

Beijinhos

7:12 PM  
Blogger Isabel Filipe said...

rsss....um pesadelo repleto de espírito de aventura...

belo o teu texto.

boa viagem para cima e beijokas

11:50 AM  
Anonymous Anonymous said...

Um abraço para o VP, outro para ti.
... espero que os pesadelos findem, mas se continuarem a render bons momentos como esse...
:)

12:38 PM  
Anonymous Anonymous said...

De repente, quase me asustei pensando q era verdade....... :))
Beijos

2:13 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá, leonor!
Estou a ver que em pesadelos és muito mázinha!!Lolol
Gostei da forma como narras o dito cujo!
Bjs,

4:43 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor

Eu sabia! Tinha que ser um grande pesadelo!!!

Porque se fosse real, tenho a certeza que eras a primeira a ir para a água :)

Beijinhos com muito carinho:)

Uma boa semana

8:06 PM  
Blogger lena said...

um pesadelo
mas muito bem descrito, um texto bem elaborado, que já nos habituaste a ler-te assim

deu para ver que era algo inventado ou um sonho, jamais imaginaria a Leonor assim

gostei o trabalho do subconsciente, está realmente interessante esta "cumplicidade" que me consegui-o envolver

ler-te é sempre um prazer, acabo sair sempre a ganhar com a tua capacidade de escrever bem


beijinhos muitos para ti, menina linda

lena

8:55 PM  
Anonymous Anonymous said...

Que delícia de texto, Leonor! Estou a imaginar-vos, às quatro da matina...rssss
Beijos. Vou daqui a sorrir.
Adorei o pormenor de não estragar os calções do coronel...Coitado, era uma forma de ser promovido, mas não lhe deste hipóteses.

Adoro ler-te!

10:36 PM  
Anonymous Anonymous said...

Mesmo em pesadelo, ou se calhar por causa disso foste mesmo má... O VP quem o conhece sabe que foi igual a si próprio, mesmo num pesadelo... Bem, mas tu és a oposta aquela que retrataste, neste texto de qualidade super , a que já nos habituaste, isto claro, fora do pesadelo... Gostei muito, bjinhos Ricky

10:54 AM  
Blogger mixtu said...

asustaste-me... pois eu detesto quando tenho pesadelos, o que se diga é raro...
besitos

7:31 PM  
Blogger «« said...

a isso chamo um pesadelo voluntarioso....

11:05 PM  
Blogger Henrique Santos said...

Voltei cá, para vêr se havia novidades, e dou logo com o meu comentário em Anónimo? Logo eu que abomino os anónimos... que se terá passado?
Não interessa se tudo estiver bem.
Bjinhos Ricky

11:55 AM  
Blogger SilenceBox said...

Querida Leonor,
Vi logo que este texto não era real porque tu não és uma mulher insensivel. Irias logo a correr para salvar os outros! O texto está excelente, muito bem escrito, bastante envolvente, parece que saiu de um livro...
Continua a escrever...!
Um abraço carinhoso!!!

5:23 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá! Leonor
Um pesadelo que poderia ser real.
Está muito engraçado.
Para vós um bom fim de semana.
Beijinhos

6:56 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Desta vez venho aqui agradecer a tua visita e os teus comentários.
Imagino que já estás um pouco cansada das viagens, mas penso que no próximo ano estarás colocada mais pertinho de tua casa.

Beijinhos

9:59 PM  
Blogger IC said...

Já tenho passado por aqui sem me atrever a comentar, mas hoje não resisto... Parabéns pelo pesadelo, ou seja, pelo texto :)

1:36 AM  
Blogger Nilson Barcelli said...

Ainda bem que era um sonho.
Não estava a perceber como é que a doce Leonor que eu conheço era tão fria...
Gostei da maneira como contaste o sonho. É uma delícia ler o que escreves.
Beijinhos e bom fim-de-semana.

2:59 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor

Passei para te dar um beijo

com muita ternura :)

Bom fim de semana

2:26 AM  
Blogger Menina Marota said...

Ai, rapariga, eu até jurava que era um facto real!! Mas que bem contado!!

Mas está cá a parecer-me que o VP quer-te colocar como a má cá do burgo... ai quer, quer... porque não te acho nada assim insensivel, antes pelo contrário, daquelas que largavam tudo para ir socorrer as pessoas. Ora conta aí, que não está aqui ninguém a ouvir?

Um abraço carinhoso e boa semana :)

5:51 PM  
Anonymous Anonymous said...

Arrumar gavetas até q me parece uma boa terapia......:)))
beijos

11:33 PM  
Anonymous Anonymous said...

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