Soldadinho de Chumbo
Sou tendenciosa como professora. Tenho a mania compulsiva de pintar massas cinzentas de cor de rosa numa tentativa de incutir nas crianças que a felicidade também se encontra nos erros que cometemos pela vida fora, ou, noutra via de pensamento, nos acasos do destino, e que a esperança é a possibilidade que o homem tem, numa complexidade sistémica Moriniana, de não cairmos numa entropia.
Por outras palavras menos académicas, quero transmitir que a esperança é a oportunidade repetida que nós temos de podermos conjugar o nosso eu com os outros “tus”, qualquer criatura do mundo, e que essa capacidade é inesgotável porque sentimos e pensamos.
Mas para quebrar essa força que imprime tal orientação rosada dos finais felizes, quase no final do ano lectivo, conto a história do Soldadinho de Chumbo.
O Soldadinho não tem uma vida, propriamente, feliz. Começa logo a sua existência sem uma perna porque o acaso do destino ou o seu anjo da guarda fez com que lhe faltasse o chumbo aquando da sua criação pelo que já não é igual aos outros soldadinhos.
Mas nem por isso o Pedrinho deixa de considerar o soldadinho perneta o seu preferido o que quer dizer que há sempre alguém que gosta de nós. E nem por isso, o soldadinho deixa de se apaixonar pela bailarina que vive na orla da lareira o que significa que os limites do seu corpo não condicionam os limites do seu espírito.
Ao brincar com o soldadinho o Pedrinho esquece-o no parapeito da janela. O vento fá-lo cair para próximo de uma sarjeta. Empurrado pelas águas da chuva cai no esgota e vai parar ao rio. É engolido por um peixe. O soldadinho sofre horrores.
Mas o acaso do destino ou o seu anjo da guarda faz com que o referido peixe vá parar ao lava louça da mãe do Pedrinho e o soldadinho volta ao quarto do Pedrinho e à sua bailarina.
Agora os dois vivem na orla da lareira. Ele sem a perna. Ela com a perna no ar num passo de dança para o seu soldadinho.
A janela, mal fechada, abre-se de repente. E o vento…vuuuuuuuuuuuuuu, empurra-os para a lareira acesa. O fogo uniu os dois amiguinhos para sempre num coração com uma fivela, símbolo de um acordo eterno de esperança e felicidade.
O soldadinho não teve uma vida feliz, mas teve momentos felizes.
Ultrapasso a parte final a correr pelas sílabas para não perceberem o tremelique dos sons nas cordas vocais. Todavia, as crianças, formas de pensamento selvagem na emoção, percebem-no. Calados, esperam que eu me recomponha devagar para que eu lhes dê tempo de se recomporem a eles próprios.
da Leonoreta
Por outras palavras menos académicas, quero transmitir que a esperança é a oportunidade repetida que nós temos de podermos conjugar o nosso eu com os outros “tus”, qualquer criatura do mundo, e que essa capacidade é inesgotável porque sentimos e pensamos.
Mas para quebrar essa força que imprime tal orientação rosada dos finais felizes, quase no final do ano lectivo, conto a história do Soldadinho de Chumbo.
O Soldadinho não tem uma vida, propriamente, feliz. Começa logo a sua existência sem uma perna porque o acaso do destino ou o seu anjo da guarda fez com que lhe faltasse o chumbo aquando da sua criação pelo que já não é igual aos outros soldadinhos.
Mas nem por isso o Pedrinho deixa de considerar o soldadinho perneta o seu preferido o que quer dizer que há sempre alguém que gosta de nós. E nem por isso, o soldadinho deixa de se apaixonar pela bailarina que vive na orla da lareira o que significa que os limites do seu corpo não condicionam os limites do seu espírito.
Ao brincar com o soldadinho o Pedrinho esquece-o no parapeito da janela. O vento fá-lo cair para próximo de uma sarjeta. Empurrado pelas águas da chuva cai no esgota e vai parar ao rio. É engolido por um peixe. O soldadinho sofre horrores.
Mas o acaso do destino ou o seu anjo da guarda faz com que o referido peixe vá parar ao lava louça da mãe do Pedrinho e o soldadinho volta ao quarto do Pedrinho e à sua bailarina.
Agora os dois vivem na orla da lareira. Ele sem a perna. Ela com a perna no ar num passo de dança para o seu soldadinho.
A janela, mal fechada, abre-se de repente. E o vento…vuuuuuuuuuuuuuu, empurra-os para a lareira acesa. O fogo uniu os dois amiguinhos para sempre num coração com uma fivela, símbolo de um acordo eterno de esperança e felicidade.
O soldadinho não teve uma vida feliz, mas teve momentos felizes.
Ultrapasso a parte final a correr pelas sílabas para não perceberem o tremelique dos sons nas cordas vocais. Todavia, as crianças, formas de pensamento selvagem na emoção, percebem-no. Calados, esperam que eu me recomponha devagar para que eu lhes dê tempo de se recomporem a eles próprios.
da Leonoreta
10 Comments:
Acabas de cometer uma boa acção.
Fizeste-me recuar meio século no tempo.
Cumpriu-se o pedido do António Mourão que cantava: "Ó Tempo, volta pra trás".
Jinhos
Estou a imaginar a minha neta a ler esta história....
Beijinhos.
Querida Leonor
Fiquei comovida com o soldadinho e a a sua bailarina. Adoro as tuas histórias, sempre com aquele "quê"! de quem sabe contar.
Beijinhos grandes
Eu também costumo contar essa história, mas este ano não calhou. É a minha história de amor preferida (estou a falar de todas, mesmo incluindo literatura para adultos)
E as crianças também costumam adorar. E também a conto mais ou menos com o teu espírito: não é preciso sermos perfeitinhos para termos direito à felicidade...
Querida Leonor
Um beijo no coração
Daniel
António
... "dá.me tudo o que eu perdi, tem pena de toda a minha vida,a vida que eu já vivi". rs
Filipe
chama-la para o pé de ti e contas.
Betty
não sou eu , és tu que tens ouvido e a tua imaginação faz o resto.
Saltapocinhas
ai este ano,da maneira como começou foi tudo o melhor que se pode fazer.
já te disse isto mas volto a dizer. trabalhar contigo devia ser bom.
Daniel
Obrigado pela visita.
abraço a todos da leonor
Uma linda historia de amor...
Gostei de lêr... mas os soldadinhos de chumbo nunca me entusiasmaram... nunca os tive sequer, porque não queria. Leio as histórias que à volta deles se fizeram, e algumas muito boas, mas... soldadinhos nunca (enquanto miudo) gostei, apesar de agora como adulto admirar a sua perfeição como amostras dum mundo que não me fascinou antes...
Bjinhos Ricky
Amiga Leonor,
Este fim de semana perdi-me no tempo e dei hoje a ler esta história que sempre me encantou desde miúdo.
Como não gosto de finais tristes (e os miúdos esperam sempre outra saída...) e dava sempre um fim mais de acordo com a minha maneira de sentir...
Porque é que a destruição há-de sempre separar dois apaixonados?
Gostei da relação destino/anjo... fazes lembrar-me a concretização de velhos sonhos!
Já agora, António e Leonor. Voltar atrás, só os caranguejos... e mesmo esses! Recuar é o sentido inverso da evolução...
Um abraço e boa semana.
Estou a gostar.
Eis uma forma de escrever simples, "arejada" e sem pretensiosismos; de leitura agradável, que dispõe bem....
Parabéns, Leonor.
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