Ex Improviso

Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Friday, June 10, 2005

Luís, o poeta, salva a nado o poema


Camões cantou a Pátria Portuguesa e muitos poetas portugueses cantaram Camões. De todos eles, desta vez, escolhi Almada Negreiros.


Era uma vez
um português
de Portugal.

O nome Luís
há-de bastar
toda a nação
ouviu falar.

Estala a guerra
e Portugal
chama Luís
para embarcar.

Na guerra andou
a guerrear
e perde um olho
por Portugal.

Livre da morte
pôs-se a contar
o que sabia
de Portugal.

Dias e dias
grande pensar
juntou Luís
a recordar.
Ficou um livro
ao terminar.

muito importante
para estudar:
Ia num barco
ia no mar
e a tormenta
vá d'estalar.

Mais do que a vida
há-de guardar
o barco a pique
Luís a nadar.

Fora da água
um braço no ar
na mão o livro
há-de salvar.

Nada que nada
sempre a nadar
livro perdido
no alto mar.

_ Mar ignorante
que queres roubar?
A minha vida
ou este cantar?
A vida é minha
ta posso dar
mas este livro
há-de ficar.

Estas palavras
hão-de durar
por minha vida
quero jurar.
Tira-me as forças
podes matar
a minha alma
sabe voar.

Sou português
de Portugal
depois de morto
não vou mudar.

Sou português
de Portugal
acaba a vida
e sigo igual.

Meu corpo é Terra
de Portugal
e morto é ilha
no alto mar.

Há portugueses
a navegar
por sobre as ondas
me hão-de achar.

A vida morta
aqui a boiar
mas não o livro
se há-de molhar.

Estas palavras
vão alegrar
a minha gente
de um só pensar.

À nossa terra
irão parar
lá toda a gente
há-de gostar.

Só uma coisa
vão olvidar
o seu autor
aqui a nadar.

É fado nosso
é nacional
não há portugueses
há Portugal.

Saudades tenho
mil e sem par
saudade é vida
sem se lograr.

A minha vida
vai acabar
mas estes versos
hão-de gravar.

O livro é este
é este o canto
assim se pensa
em Portugal.

Depois de pronto
faltava dar
a minha vida
para o salvar.

Na época Renascentista era costume os fidalgos oferecerem às suas paixões quadras ou poemas encomendados aos poetas. Um fidalgo de Cascais prometeu a Camões seis galinhas em troca de um poema mas só lhe pagou com meia e o grande poeta respondeu-lhe assim:

"Cinco galinhas e meia

deve o senhor de Cascais

e a meia, vinha cheia

de apetite para as mais"

9 Comments:

Anonymous Anonymous said...

E, uma belíssima escolha!Assim como a imagem que a ilustra.

Obrigada pela partilha, bem como das palavras no meu blog.

Um abraço e bom fim de semana :-)

(eu escolhi Sophia de Mello Breyner Andresen, para celebrar o 10 de Junho, num outro meu Blog...)

3:16 PM  
Blogger António said...

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.
Chama-se assim, agora!
Evocaste-o, e bem, na componente Camões.
(Quando andava na escola, costumávamos cantarolar: Camões perdeu um olho por dois tostões. Putos!)
Jinhos

6:53 PM  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Leonor
Adoro Camões...
Um beijo
Daniel

7:39 PM  
Blogger José Gomes said...

Leonor,
Pelo que tenho lido de ti e até pelo nick que usas és uma apaixomada nata por Camões.

Deixo-te com António Gedeão e um soneto que ele dedicou: "Ao Luis Vaz, recordando o convívio da nossa mocidade."

Soneto

Não pode Amor por mais que as falas mude
exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Se acaso a comoção concede
é tão mesquimho o tom que o desilude.

Busca no rosto a cor que mais o ajude,
magoado parecer os olhos pede,
pois quando a fala a tudo o mais excede
não pode ser Amor com tal virtude.

Também eu das palavras me arredeio,
também sofro do mal sem saber onde
busque a expressão maior do meu anseio.

E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.


Bom fim de semana, Leonor.

9:03 PM  
Blogger Unknown said...

e assim , salvou...constancia o levou...
mas deus nem o seu olho perdou

10:10 PM  
Blogger Leonor said...

Menina marota
tenho de voar até ao teu outro blog e apreciar o teu bom gosto.

António
Também eu cantava. Meu Deus! lembraste-me agora uma coisa já tão bem guardada.

Daniel
quem não gosta de Camões?

José
de facto adoro Camões. Pessoa e Gedeão. mas, paradoxalmente, não conheço muito Gedeão porque todos os dias deparo-me com novos poemas como este que colocaste aqui onde não falta nada ao estilo de camões (o hiperbato e a hiperbole).

Carlos, se bem me lembro, o teu perfil falava de um livro "conversas com deus" que eu leio e releio ao calhas. Assim sendo, sabes bem que deus, a existir, perdoa tudo.

abraço a todos

10:34 PM  
Blogger augustoM said...

Leonor, a imagem que temos de Camões, nadando com um braço fora de água, para salvar os seus poemas, bem pode ser utilizada nos dias de hoje. Salvar ainda o que temos de bom, neste naufrágio em que a nação se afunda.
Um abraço. Augusto

11:28 AM  
Blogger Leonor said...

Frog
que linda quadra para enriquecer o Ex Improviso. Muito obrigado.

Augusto
é o nosso espírito de sobrevivência, de ultrapassar os obstáculos com a filosofia do desenrasque e tudo por amor à camisola.

Abraço da leonor

12:45 PM  
Anonymous Anonymous said...

Lindo!Bela homenagem ao poeta vindo de outro poeta.Parabéns.Beijinhos. Arte por um Canudo 2

12:14 PM  

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