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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Monday, June 20, 2005

No creo em brujas pero que las hay… las hay



Nos meses de Junho a Agosto são comuns em Portugal as festas nas localidades, as romarias, quase todas elas com carácter religioso. Á parte o lado sagrado da festa representado geralmente na procissão, a feira, o lado profano, torna-se irresistível à libertação do espírito perante os sacríficios feitos.

A feira atrai pela sua diversidade de artigos expostos. Vende-se de tudo. Desde relógios Cartier a farturas.

Ao passear pelas bancas, deparei-me com uma, cuja vendedora era uma bruxa. Ela vendia pedras para a fortuna, para afastar a inveja, bruxinhas da sorte… contudo o que me atraiu a atenção foi um pote de ferro totalmente enegrecido com umas bolas de corda e uma colher de pau no interior.

Quis saber o que era aquilo mas um pouco a medo vacilei e engoli a pergunta. Todavia, ela era uma bruxa esperta. Percebeu pela minha expressão de indiscrição meia infantil que eu tinha achado aquela banca engraçada e aquele pote curioso.

- Pode espreitar se quiser – disse ela. – não tem cobras nem lagartos.

Sorri pela rapidez da resposta. Continuei com os gestos atados pelas convenções. Afinal ela era uma bruxa, tratava com as coisas do desconhecido. E nós temos por hábito só acreditar nas fadas.

- Eu estou vestida de preto mas aqui só se faz magia branca, magia para o bem. Nesse pote está reservado o que mais anseia no momento.

Continuei a sorrir-lhe. No entanto, fui embora. Ao fim de quatro passos voltei atrás com um sorriso de orelha a orelha. Ela percebeu que eu tinha ficado com aquele bichinho curioso de saber o que o futuro me reservava. Ela era um bruxa esperta. Mexi as bolas com a colher de pau. Tirei uma.

A felicidade!

- A felicidade está em todo o lado. A felicidade está em todas as coisas. Ela sempre existe à nossa volta. Temos de percebê-la e usufruí-la. Vou-lhe dar esta pedra, é uma pedra rolada de rio que rolou muito até chegar às suas mãos. Ela esteve sempre guardada para si e guarda a sabedoria de perceber os momentos felizes. A partir de agora as suas tristezas acabaram. – disse ela.

É uma pedra preta, pequena, ligeiramente achatada, macia ao toque, uma pedra vulgar, que para mim tem o encanto negro e vidrado de uma obsidiana.

Gostei daquela bruxa. Admirei o seu discurso seguro e fluente. Maravilhei-me com a sua postura de bruxa assumida com o trabalho de casa bem preparado. Mas sobretudo gostei da sua perspicácia em perceber a minha vontade de agarrar a ponta feliz do fio de cada momento.

Guardei a pedra do rio. Nunca se sabe… porque eu não creio em bruxas mas que as há, há.


Leonor

15 Comments:

Anonymous Anonymous said...

A pedra do rio, a pedra da Felicidade, um Talismã, um Amuleto... que, olhando para ela, dá vontade de fazer um pequeno sorriso e recordar os momentos em que foi obtida, não é verdade, Leonor ?... Beijinhos.

10:09 PM  
Blogger th said...

Ah como eu gosto de gente inteligente!
Beijo para uma...
th

10:11 PM  
Blogger José Gomes said...

Leonor,
Mais uma narrativa digna de uma mulher que tem coragem de olhar todo de frente.
A magia existe, as bruxas existem, as gentes pequeninas existem... se não acreditas perginta às tuas crianças... ou a mim que também gosto de ser criança!
A Terra é um Todo... e tu também fazes parte integrante desse Todo.
Repara já tens nessa pedra negra que atrai energia, a fonte donde ela veio (rio), está na tua mão... falta semicerrares os olhos e ver dentro de ti, à tua volta, as 7 cores que dão vida à felicidade.
Um abraço.

10:15 PM  
Blogger António said...

Gostei particularmente de ver uma bruxa loira na foto.
Não fazia parte do meu imaginário. E não me pareceu uma loira como as das anedotas.
Afinal onde é que se pode encontrar tão ilustre representante de uma classe tão maltratada.
Porque será que nunca criaram um sindicato?
(gostei do texto, Leonor!)
Jinhos

10:46 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor

Cá estou eu de volta :)

Eu também acho (um pouquinho) que as bruxas existem! E quanto ao poder das pedras disso não tenho mesmo dúvida nenhuma! Fiz um curso sobre pedras semi-preciosas e preciosas e sei que elas são uma verdadeira fonte de energia positiva.

E tu tens sempre um encanto muito especial em tudo o que escreves.

Brilhas qual Diamante :)

Beijocas

1:27 AM  
Anonymous Anonymous said...

Pois, Lianor... o fascínio do futuro, "abruxado por magia boa" o que só nos traz sorte, como nos sonhos sem sono, e... será que a bruxinha boa, qual fada madrinha, acerta mesmo? Ah, e a pedra rolada que caminhou até ti? Que contará ela? Nos momentos que viveste, junto da bruxa, eu até estava lá, mas não dei por nada... Que maravilha, quando se pode "criar" fantasia e sonho, mesmo à volta duma bruxa...
Bjinhos Ricky

9:04 AM  
Blogger augustoM said...

Leonor, a curiosidade em relação às bruxas, mais a sua mística de profetizar o futuro (que fingimos não acreditar),a mistura do ritual religioso com o pagão, devem-se à nossa meia costela Celta.
Mas há grandes verdades também, como dizer que a felicidade está em todo o lado, em todas as coisas, que sempre existiu e xiste à nossa volta, só que temos é que saber usufruir dela. E o remédio, poderia a bruxa ter receitado, é esquecermos o nosso egoísmo, o causador das nossas infelicidades.
Um abraço. Augusto

12:50 PM  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Leonor
Surpreendente aspecto, ou talvez não...
Um beijo
Daniel

1:24 PM  
Blogger Mitsou said...

Adorei. Belíssimo texto, Leonor. A pedra pode simbolizar aquelas coisas pequenas que tanto sabor dão à vida. Comparo a felicidade a um jardim: temos de mantê-lo viçoso, dosear a luz e as sombras, adubá-lo com esperança e regá-lo com muitos sorrisos. Beijinho grande :)

1:56 PM  
Anonymous Anonymous said...

A criança em nós que não se finda. O querer/precisar sonhar, acreditar, talvez uma última recusa em nos entregarmos a uma realidade que nos torna empedernidos. Que toda a FELICIDADE tome conta do teu sonho porque assim terei como certo que serei feliz também.
beijo grande
VP

2:00 PM  
Blogger Isabel Filipe said...

Oi...

Pois eu acredito que haja bruxas...as bruxas boas e as bruxas más....
Fizeste-me recordar uma peça de teatro, que vi em miúda, acompanhada pelo meu avô, e que se chamava "A Bruxinha que era boa..."... essa também era lourinha...
Bjs amigos e carinhosos.

3:58 PM  
Blogger th said...

Ai menina que isto é bruxedo...lol
Jinho, th

10:31 AM  
Blogger Leonor said...

Cidadão
boa pergunta! puseste-me a pensar... provavelmente...não sei

mas repara:
eu fascinei-me por ela mesmo sem ela ter dito nada.e ela so me deu aquilo que viu no meu olhar.

teho
beijinho para ti

9:36 PM  
Anonymous Anonymous said...

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8:35 AM  
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9:16 AM  

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