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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Monday, June 27, 2005

Gostas realmente de mim?


( do grande Dali)


Ao dizermos algo a nossa mensagem actua sobre as acções de quem nos ouve, interferindo sobre as suas tomadas de decisão. Quem nos ouve, orienta a sua vida por objectivos de acordo com certos níveis de aspiração. A quê? À sua felicidade, pois claro.

Para atingir esses objectivos a escolha entre uma diversidade de acções possíveis é enorme. Mas, geralmente, maniqueístas que somos, ficamo-nos por duas. Ou branco ou preto. Seja como for, todas as decisões, mesmo sendo só duas, pela incerteza que comportam, implicam margens de risco, pelo que escolhemos sempre o que é preferível para nós. Ninguém gosta de ficar a perder.


Um dia destes, uma amiga contava-me a conversa que tinha tido com o namorado.

Preciso que me digas com toda a sinceridade - disse ele. Gostas realmente de mim?

Ela olhava uma montra de pronto a vestir. Aquele vestido era mesmo giro. A Marta iria morrer de inveja quando o visse vestido nela.

Ela agora olha para ele, para o namorado e não para o vestido. Abre a boca para responder mas a ideia fica parada entre a palavra pensada e a palavra feita.

Não posso responder que não, ele acaba com tudo, vai embora.- pensou ela. E daqui a duas semanas arrependo-me. Não posso responder que sim, ele vai ficar para sempre, e daqui a duas semanas posso ter mudado de ideias.

Pensaste em responder talvez? - Perguntei eu, sempre no meio, na linha limite entre a zona branca e a zona preta à procura de evitar o perigoso risco de cair no abismo por ter feito a escolha errada.

Pensei - respondeu ela. E perante o talvez, precisava de tempo para pensar e decidir.

E o que fizeste? - Perguntei novamente.

Pedi-lhe para repetir a pergunta- respondeu-me.


Leonor
(Este conto é uma ficção. Qualquer semelhança com outra ficção é outra ficção).

17 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Gosto. Muito.

9:03 PM  
Blogger António said...

Já andas a fazer ficção?
Estás a deixar-me para trás?
Ahhh...traidora!
Gostei do texto.
Jinhos

10:05 PM  
Blogger José Gomes said...

Leonor,
Neste mundo irreal em que vivemos, há respostas que nem sempre dizem aquilo que realmente se sente.
Mas fazer tal pergunta quando a namorada estava a ver um vestido... ai, amiga, é o que eu chamo pergunta de alto risco!
E se ela respondia "nim"?!!!
Boa semana.

10:38 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor

Agora ao ler o teu post, realizei que existem perguntas que aparentemente parecem fáceis (pelo menos para mim) mas vejo que é entrar num campo bastante perigoso, quando se faz uma pergunta destas. Há dias (esta história é um pouco diferente da tua, mas não deixa de ter as suas semelhanças) fiz uma pergunta a uma amiga minha; gostas do teu marido? (isto na sequência da conversa que nós estávamos a ter)ela falou de milhões de coisa, eu voltei à carga, voltou a falar outras tantas coisa e não respondeu à minha pergunta. Um pouco mais tarde, lembrou-se e disse; Sim, sim claro, quando estou a ver vestidos e joias. Já resolvi! Esta pergunta, não a irei fazer a mais ninguém, é proibitiva!

beijinhos

12:10 AM  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Leonor
Não há talvez nestas coisas de amor. Talvez é não, no sentido de amar. Nós gostamos todos uns dos outros, mais ou menos. Depois há quem goste de uma maneira absolutamente exagerada e que nos faz sentir nas nuvens... ama-se,o que implica ciúme (q.b.), dor (ausência, etc.), cegueira (tudo é lindo e perfeito em geral), sacrifício (pela felicidade do outro), etc. (há tanto para dizer...), e ainda há quem odeie, mas não falarei disso. Hoje, talvez como sempre, estes amores assim são raros, pois até as relações humanas estão cheias de interesses que ofuscam o verdadeiro amor: namora-se porque ele ou ela são os mais queridos de todos, ou porque têm dinheiro, ou estatuto, ou beleza, ou sei lá que mais, mas nada de substancial que justifique tanto compromisso, no fundo, todos falsos... e vê-se nas estatísticas.
Um beijo
Daniel

12:18 AM  
Anonymous Anonymous said...

O Dr. João dos Santos diria: "Se não sabe, porque pergunta?" E acrescentaria: "Só perguntamos aquilo que já sabemos". E eu concordo! rsss

Temos à nossa disposição o arco-iris, cores lindas, divertidas e se não tomarmos conta das nossas opções, vamos mesmo limitar-nos unicamente ao branco e ao preto - o mais fácil mas tambem o mais monótono, desinteressante, aborrecido!

Às vezes pergunto-me: porque têm as pessoas preguiça de viver? (o preto e o branco quase nem são opções, são mais pseudo opções - os extremos sempre se tocam o que faz com que qualquer delas resulte insatisfatória).

Sorte a minha, ter-te encontrado aqui, bela Leonoretta, com estes textos cheios de criatividade, cheios de cor e com um cheiro intenso a gente.

Beijinhos
Ana Joana

12:18 AM  
Anonymous Anonymous said...

Ora aí está! E o que é uma ficção? Quando ela se aloja no nosso cérebro deixou de a ser por ter passado a fazer parte do nosso sonho, logo deixou de ser ficção e se tornou um objectivo. Que na mínima oportunidade a tornaremos em realidade… Não é para isso que nos levantamos todos os dias da cama, para tornar as ficções em realidades? Porque entre o branco e o negro ainda existem os cinzentos! A imaginação não encontra obstáculos como esta história. GOSTEI MUITO

Saudações

5:10 AM  
Anonymous Anonymous said...

Nesta ficção da ficção,
a minha querida namorada,
me perguntou com emoção,
de voz quente e embargada:
Gostas de mim, ou quê?
A resposta saiu logo: Quê!
O vestido caiu logo da montra,
p'ra outra, de pele de lontra.
E a história acabou na moral,
por sinal bem mal, bem mal!
O falso amor se reflecte,
no espelho se repete, repete,
brota dum interior tão vazio,
como num qualquer reles baldio!
xxxxxxxxxx
O amor tem seus sinais,
que só a alma expele,
as perguntas são demais,
as respostas estão na pele!


Bem, conclusão:
Nunca se pergunta o óbvio, senão não o é... eheheheheh

10:40 AM  
Blogger Leonor said...

Vitor
saber que lês o que escrevo é uma grande honra e que gostas ainda mais.

Antonio
não resisto a contar coisas no papel... é assim uma coisa...

Jose
gostei do "nim". nem sim nem nao. boa!

Betty
algumas perguntas são proibitivas porque mexem com fés, algumas trocadas,outras iludidas...

Daniel
dizem que o talvez nas coisas do amor, é a amizade... que por vezes é o stand by, entre o cá e o lá, para nao se assumir riscos.

Ana Joana
só costumo falar de João dos Santos com gente das psicologias. E... por acaso, a última vez que falei desse senhor foi... contigo.

agora nós. se num tempo somos presentes e, depois noutro tempo, ausentes, o espaço, físico, concreto, pequeno (que não o tempo) encarrega-se de aproximar quem se afasta, como neste espaço da net por exemplo, que de tão querida se torna para mim que me atrevo a chamá-la de Netucha.
diz lá que não...

Friedrich
deixa-me dizer-te a coisa de outra maneira para ver se percebo o que afirmas. eu vejo a ficção como a história contada, uma história banal, á semelhança da realidade. limitada portanto. e vejo o sonho como uma história desejada onde a imaginaçao dá largas.
não será?
fico contente por teres gostado do conto.

Ricky
para ti apenas uma palavra. um encanto.

abraço a todos da leonor

4:20 PM  
Blogger CP said...

Lindo!

9:34 PM  
Blogger Mocho Falante said...

É de facto surpreendente o que nos passa na alma na altura das perguntas banais que nos fazem e que perdemos toda a certeza da resposta que antes de ser confrontada com a pergunta vivia num frasco de certeza herméticamente fechado com borrachas de absoluta certeza..e é aí que nos apercebemos que o vendante é um talvez, por isso digo ao Daniel, que o amor também está cheio de "talvez", é esse um dos seus grandes mistérios e por isso como escreveu João dos Santos, "Eu agora quero ir-me embora"..ou TALVEZ não!

12:12 AM  
Anonymous Anonymous said...

Mto fixe o texto, se fosse mesmo real e se eles eram namorados logo o sim era o mais obvio, ou não!?!

4:22 PM  
Blogger Night said...

Resposta de quem realmente não sabe o que quer...
Quando nao se ama incondicionalmente quem esta ao nosso lado mais vale partir em rumo de outras paragens

5:25 PM  
Anonymous Anonymous said...

Correcto, mas a ficção pode fazer parte de uma história criada dos nossos sonhos, ela pode ser transporta para uma ficção duma realidade destorcida que alimentou o nosso sonho, que poderá não ser banal, pelo menos para quem a vive... Seja ela em que forma for!

Beijos

7:46 PM  
Blogger Leonor said...

Micróbio
ah! entretanto acabou-se-me a tinta da esferográfica e não pude continuar a história.

CP
obrigado pela visita. o vosso jogo é giro.

Mocho
claro! taxativos, nunca. o que manda nas nossas dúvidas ou certezas será sempre o nosso percurso vivencial. e mudamos, duvidamos, acreditamos...

Jlbm
se tu achas o texto fixe, eu fico boé da contente. palavra de honra.

Wolf
sabermos o que queremos é um esforço de alma hercúleo e amar incondicionalmente... será que existe?

Friedrich
sim, sim.pois pode. e na maior parte das vezes é.quando não é nossa é de outro que aproveitamos o mote. falo por mim.ao fim e ao cabo, a escrita é um exercício.

abraço a todos da leonor

8:49 PM  
Anonymous Anonymous said...

Bela Leonoretta,

É claro que digo lá que sim rsss!!! sabia que lá chegarias rapidamente, mas sei que adoras joguinhos rsss. Só não consigo ser mesmo é batoteira rss, mas tenho pena!!!!

Beijinhos para ti. Estou a adorar
Aqui, Ana Joana

10:47 PM  
Blogger Night said...

Se calhar sou eu que sou um eterno apaixonado, com o decorrer da vida saberei e terei essa experiencia para provar ou nao se estou errado...
Beijocas, espero não te desiludir ;)

11:35 AM  

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