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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Wednesday, June 08, 2005

A Malta das Naus




Poema da Malta das Naus

Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do sol.

Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
Pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.

Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.

Chamusquei o pêlo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.

Com a mão direita benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.

Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.

Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.

Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
Do sonho, esse, fui eu.

O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.

In Teatro do Mundo, 1958, de António Gedeão


Só por curiosidade:




Características das caravelas e das naus Portuguesas


Caravelas Portuguesas:
- de 20 a 30 metros de comprimento e de 6 a 8 de largura;
- capacidade para 50 toneladas;
- percorriam com o vento a favor, cerca de 250 km por dia;
- utilizavam as chamadas velas latinas, triangulares que eram erguidas em dois ou três mastros; - pouca carga;
- tripulação de 40 a 50 homens;
- habilidade de zarpar rapidamente.


Naus Portuguesas:
- maiores do que as caravelas e mais lentas;
- capacidade de tonelagem maior, a de Cabral tinha 250 toneladas;
- maior tripulação, como a de Cabral que tinha 190 homens;
- utilizadas para transportar mercadorias.


(*) Fonte: Revista Veja, Ed. Especial sobre o Descobrimento nº 17, pág.48/49.

13 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Leonor,
António Gedeão (ou prof. Rómulo de Carvalho) é um exemplo de poeta, professor e cientista.
Gosto muito deste poema e mais ainda cantado na voz de Manuel Freire.
Contigo estou sempre a aprender. Desta vez a diferença entre "nau" e "caravela".
Bem hajas, professora.
Os meus respeitos.
Brisadodouro.

12:08 PM  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Leonor
Que saudades de ouvir o meu pai declamar a Nau Catrineta...
Um beijo
Daniel

12:27 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor

António Gedeão, que maravilha!!! tens sempre ideias FANTÁSTICAS*****

E para finalizar em beleza, as características das caravelas, uma verdadeira aula.

És o MÁXIMO!!!

Beijocas

8:20 PM  
Anonymous Anonymous said...

Naturalmente que adorei relêr o poema em questão, porque também eu nasci nas praias cantadas por Camões, lá para os lados da África Oriental, terras do Portugal dos descobrimentos... Foi lá que me descobri amante da poesia... e de tudo o que ela, e só ela consegue dar ao espírito... Aprendi "sô Stôra" as diferenças da linguagem marítima... entre nau e caravela...
Obrigada Lianor, continuas a ir à fonte muito segura...
Ricky

9:23 AM  
Blogger Menina Marota said...

Hoje realmente, é o meu dia de sorte! Os blogs que tenho visitado, têm-me brindado com poesia excelente, dos meus poetas preferidos!

Adorei conhecer este Blog. Parabéns por ele. Voltarei

Abraço ;-)

12:07 PM  
Blogger Isabel Filipe said...

Oi Leonor....

É sempre bom reler, seja o que for de António Gedeão...

e... obrigada pelo passeio pelas Naus...

Bjs amigos com carinho

5:07 PM  
Blogger Leonor said...

Brisadodouro
impossível não se admirar a pessoa incrível de António Gedeão. Nós temos poetas "enormes".

Daniel
deste-me uma ideia.

Betty
que bom teres gostado. sinto-me bem por isso.

Ricky
sempre segura para a fonte..?rsssss
vamos ver se um dia não parto o cântaro, rssssss

Menina marota
obrigado pela visita e espero que voltes mesmo.

Isa
gostaste?

9:05 PM  
Blogger António said...

Neste momento a memória está a atraiçoar-me.
Mas penso que uma das principais características das caravelas era poderem bolinar, isto é, navegar contra o vento.
Vou tentar investigar.
Jinhos

9:43 PM  
Blogger António said...

Magnífico poema de um dos poetas de que gosto.
Sou muito mais admirador de prosa que de poesia.
Jinhos

9:46 PM  
Blogger José Gomes said...

O "Poema da Malta das Naus" veio-me lembrar os meus tempos de menino e moço, recordando a voz de Adriano Correia de Oliveira, a música de José Niza e o poema de Gedeão, que cantávamos muitas vezes em casa do Adriano, em Avintes, V. N. Gaia:

"Venho da terra assombrada,
do ventre da minha mãe;
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém.
"
(...)
"Quero eu e a Natureza,
Que a Natureza sou eu,
e as forças da Natureza
nunca ninguém as venceu.

Com licença! Com licença!
Que a barca se fez ao mar.
Não há poder que me vença.
Mesmo morto hei-de passar.
Com licença! Com licença!
Com rumo à estrela polar.
"

Contigo vou sempre aprendendo mais um pouco... desta vez foi sobre naus e caravelas.

Que tenhas um bom fim de semana (graaaannnnndeeee).
Um abraço.

11:39 PM  
Anonymous Anonymous said...

Simplesmente belo o poema.Naus e caravelas...agora entendo a diferença.Bom fim de semana.Arte por um canudo 2

1:32 AM  
Anonymous Anonymous said...

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11:31 PM  

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