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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Thursday, July 31, 2008

Na busca de sentido

Desci na bicicleta os cerca de trezentos metros da rampa do Ginjal com os travões a fundo não fosse eu chegar lá em baixo a rolar mais depressa que o velocípede. Como sou agnóstica (quando não se tem a certeza é melhor jogar pelo seguro) rezei para que não passasse nenhum carro que me fizesse encostar à berma da estrada.

É que, para mim, montar numa bicicleta num plano a descer é um caso muito sério. Montar numa bicicleta num plano a subir é um caso impossível. Não passou ninguém e das duas uma: ou a oração funcionou ou então, por serem sete horas da manhã de um sábado de um mês de Agosto toda a gente dormia e estava de férias.

Apanhei o barco para Belém e andei que me fartei por aqueles jardins verdejantes junto ao rio. O terreno a direito deu para fazer algumas habilidades à volta do mapa mundi que enfeita o chão em frente à caravela de pedra.

Uma turista oriental, entretida a conseguir o melhor enquadramento com a sua máquina digital recuava a passos largos em direcção à minha bicicleta e quase tropeçava no pneu da frente se eu não fizesse soar a campainha. Felizmente que percebeu o “trim” universal e eu escusei-me de enumerar uma série de marcas japonesas de telemóveis que conheço, única aquisição de tão estranha língua.
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Certo dia vi num documentário televisivo a lógica morfológica dos símbolos chineses e certo dia depois disse numa aula que escrever chinês era fácil pelo que tive de repente cerca de vinte rostos na minha direcção curiosos por saberem o truque.

- Não, esperem, o que eu queria dizer é que escrever chinês não é assim tão difícil.

Os rostos logo se desviaram do meu com ar de desdém e, se de repente eu era o alvo das atenções, de repente também deixei de o ser. A rectificação frásica fez-me perder em segundos qualquer credibilidade poliglota.
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Apanhei o barco para Cacilhas. Lembrei-me que a rampa a descer era agora a subir. E se às sete da manhã prevalecia a dimensão Metafísica, agora ao meio dia prevalecia a dimensão da Física. Parei junto ao elevador panorâmico. Hesitei. Como sou agnóstica (nunca se sabe) rezei para que o segurança me deixasse subir com a bicicleta.

- O senhor deixa-me subir no elevador com a bicicleta?
- Suba lá. – disse ele, sem retirar as mãos cruzadas atrás das costas.

Entre aquilo que é, e sei que é, e aquilo que poderá ser, e não sei se é, partindo da minha experiência, vou explicando a minha realidade, ultrapassando-a de modo a chegar a outras realidades que a transcendem numa busca de sentido.

Leonoreta

12 Comments:

Blogger Manuel Veiga said...

a descer e a subir. com com sentido ... de humor!

gostei.

beijo

8:27 PM  
Blogger manhã said...

esta música acompanhou-me anos e ainda tenho o vinil! é espantosa!

11:37 AM  
Blogger ~pi said...

acredito pi a mente que

as orações funcionam.

gosto de bicicletas.

[ muito!!


esta música é cá uma coisa...:)


bem vinda a passages!

9:52 PM  
Blogger ~pi said...

e sim, as letras são assim mesmo!

[ quois

pas quois

je ne sais

pas ! :)

9:54 PM  
Blogger encena_dor said...

A Mª Adelaide convida-te para um chá... rsss

10:09 PM  
Blogger Isamar said...

Voltaste à bicicleta que no ano anterior te levou à praia? Eu contei-te,nessa altura, que caí do meu moderno velocípede e por pouco não me parti toda. Hoje, o passeio foi a Belém e, não fosse o diabo tecê-las, lá recorreste à oraçãozita de modo a livrar-te de apertos. Contra as paredes, contra os automóveis, contra o asfalto...
subindo e descendo, cá continuamos.

Beijinhos

7:40 PM  
Blogger Vanda said...

Pois que as realidades se encontrem, para que nunca sintas que pedalas em sentido contrário :)

a um outro sentido qualquer que possas encontrar por essas estradas onde pedalas :)


Sayonara :)

9:28 PM  
Anonymous Anonymous said...

É sempre um prazer ler os teus posts!
Um beijinho grande , Leonor!

4:33 PM  
Blogger augustoM said...

Olá Leonor
Devo estar com uma crise existencial aguda. Estou a brincar. Muita falta de tempo, por isso tenho de optar, ou escrevo livros ou faço textos para o blog. Talvez em Setembro volte a publicar, não com a regularidade com que o fazia, mas pelo menos de quando em quando. Também vou tentar arranjar um tempinho para vos visitar. Um beijo e continuação de boas férias.

4:58 PM  
Blogger Manuel Veiga said...

beijo

9:11 PM  
Anonymous Anonymous said...

Muito criativa a tua escrita e é um prazer ler os teus textos. Já tinha comentado este texto só que pelo que vejo não consta.Força na procura desse sentido...

6:44 PM  
Anonymous Anonymous said...

Grande amante das duas rodas. Cuidado que um dia cai.Vá escrevendo que escreve bem.

4:54 PM  

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