Agora ficas tu
Quando eu me demoro a chegar à sala depois do intervalo há sempre alguém a vigiar a porta, uns metros mais à frente, para que os outros escrevam tudo o que quiserem no quadro e a professora não ver.
Depois, quando o vigia me vê a aproximar corre para que os colegas tenham tempo de apagar o quadro.
E desta vez a escolha recaiu no Nichita. Nichita já fala bem. Já diz “eu percebo”. Já diz “posso distribuir?” (os trabalhos feitos ao longo da semana que precisam de ser arrumados no dossier). Já diz “posso ir eu?” (quando eu peço um voluntário para ir ao quadro.
Mas Nichita distrai-se e quando me vê quase em cima dele tem um susto que não consegue disfarçar. Corre à minha frente a gritar “PROFESSORA, PROFESSORA”.
Não escrever no quadro na minha ausência é uma regra de sala de aula a fim de evitar conflitos pela posse do giz e do espaço da ardósia.
Antes de eu entrar na sala, entro na casa de banho e conto até trinta. Quando entro na sala, o quadro está limpo, está tudo sentado em silêncio.
Olho para o quadro. Olho para eles.
- Será que apaguei o quadro antes do intervalo? – pergunto “espantada” porque fica sempre matéria escrita.
Ninguém responde. Entreolham-se comprometidos à espera do que virá depois.
- Bom! Se calhar apaguei. Filipe começa a ler o texto.
E todos abrem o livro aliviados de uma possível punição.
No contexto de sala de aula não há receitas para controlar comportamentos indisciplinados mas uma coisa o tempo me ensinou: o castigo só os agrava.
Depois, quando o vigia me vê a aproximar corre para que os colegas tenham tempo de apagar o quadro.
E desta vez a escolha recaiu no Nichita. Nichita já fala bem. Já diz “eu percebo”. Já diz “posso distribuir?” (os trabalhos feitos ao longo da semana que precisam de ser arrumados no dossier). Já diz “posso ir eu?” (quando eu peço um voluntário para ir ao quadro.
Mas Nichita distrai-se e quando me vê quase em cima dele tem um susto que não consegue disfarçar. Corre à minha frente a gritar “PROFESSORA, PROFESSORA”.
Não escrever no quadro na minha ausência é uma regra de sala de aula a fim de evitar conflitos pela posse do giz e do espaço da ardósia.
Antes de eu entrar na sala, entro na casa de banho e conto até trinta. Quando entro na sala, o quadro está limpo, está tudo sentado em silêncio.
Olho para o quadro. Olho para eles.
- Será que apaguei o quadro antes do intervalo? – pergunto “espantada” porque fica sempre matéria escrita.
Ninguém responde. Entreolham-se comprometidos à espera do que virá depois.
- Bom! Se calhar apaguei. Filipe começa a ler o texto.
E todos abrem o livro aliviados de uma possível punição.
No contexto de sala de aula não há receitas para controlar comportamentos indisciplinados mas uma coisa o tempo me ensinou: o castigo só os agrava.
Leonoreta
18 Comments:
É gratificante ver uma pessoa a agir em vez de reagir, deixar os castigos para os erros realmente graves, segundo critérios ditados com o coração, com carinho.
beijo, theo
Só tu minha querida Leonor para assim reagires
quem me dera voltar à infância e ter assim uma professora com critérios tão valiosos
hoje a nostalgia bateu, apesar do dia estar lindo
talvez porque já se sente o vazio que os pequenos vão deixando
talvez porque seja eu, com saudades de alguém que não me castigava
como bem diz a th, agia em vez re reagir...
não fui silêncio hoje, as saudades de ti são presença
um abraço terno e doce, onde o carinho e a amizade moram
beijinhos para ti doce e linda Leinor
lena
pedagogia é (também) cumplicidade, não?
gostei muito.
Maravilha de texto, de novo!!
:)
Quem me dera estar ainda na formação de professores: juro que recomendo/aria este blog como leitura imprescindível!!
Bem hajas, Leonor! Este saber de experiência feito faz de ti a pedagoga que todos gostamos de ler.
Uma história em que aprendi um pouco mais.
Beijinhos
Bem pensado.
Que bom ouvir os Águaviva!!
Interessante texto.
Tudo de bom.
Muito bem expressado. E terno, como sempre! :-)))
PS - Li ali o Herético, com a da cumplicidade como via para a pedagogia. Hum-hum. É isso mesmo, né?
Olá olá
estou de volta depois de uma pausa forçada. Agora sim pronto para matar saudades
beijocas
beijo
Quando os critérios valorizam a professora, logo o ensino, que dizer?
adoro estas tuas histórias, fazem sempre recuar-me à minha infância
Beijocas
1 - Brilhante a pedagogia. Lindo.
2 - ...a peça do puzzle, não é ?
Bj
já aqui não vinha ha mt tempo :(
mas os teus textos continuam lindos como sempre :)********
Ao ler este texto recordei um professor que tive em Hoistória e também em Filosofia. Era um padre italiano creio que do Trieste. A turma tinha por hábito fazer um grande chinfrim na aula antes de chegarem os professores, mas nas aulas dele, demorasse ele o tempo que demorasse ouviam-se as moscas na sala. E nunca levantou a voz nem castigou ninguém, mas infundia um respeito tão grande que ainda hoje não consigo explicar.
É tão gratificante passar por este blogue.
Um abraço
Anad
Pois não sei se intervalo ou se apague o meu quadro. Falta pouco para quatro anos e cerca de 100.000 visitas. É pempo de migrar.
Um beijo. Augusto
tal e qual!
os meus também escrevem no quadro, no intervalo (é a actividade favorita deles!), mas´não tenho isso (não escrever no quadro) como regra porque a minha escola não tem corredor!! ;)
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