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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Friday, May 09, 2008

O nosso galo

No 1º ano, ao mesmo tempo que dou uma letra nova, procuro no meu património cultural adquirido na escola primária o meu reportório musical a fim de arranjar uma canção que possa alegrar a aprendizagem dessa letra.

Não sei porquê mas os miúdos adoram a canção do galo. Pela cadência musical?

- Ok, vamos lá saber o que estas palavras querem dizer. – digo eu.

O nosso galo é bom cantor
É bom cantor
Tem boa voz

(O nosso galo é bom cantor porque tem boa voz.)

Mas veio um dia e não cantou
Outro e mais outro e não cantou

(o que é que aconteceu?

- Perdeu a voz. – diz um.
- Não quis mais cantar. – diz outro

O mais malandro, o David, sentado lá atrás passa o indicador esticado pela ao longo do pescoço em jeito de faca.

- Pois é. – digo eu - O dono matou-o e comeu-o. Esta canção é uma canção que fala de morte.
- iiiii, professora, morte não. – diz a Filipa, que anda no psicólogo desde os três anos de idade porque encontrou o avô morto no chão da sala.
- Filipa, eu também não gosto mas a morte faz parte da vida. As plantas, os animais nascem, vivem e morrem.

A Filipa conta o trágico acontecimento que a traumatizou. Momento difícil para uma miúda de seis anos que relembra aquele dia como se fosse ontem.
Cantamos a canção em vários andamentos. Mais depressa na primeira parte e em passadas lentas na segunda como se fossemos num funeral. Alguns só fazem de galo. Cantamos várias vezes.

Não creio ter banalizado a tristeza ou a dor de perder alguém mas apenas falar e pensar nela porque ela existe.


Leonoreta

8 Comments:

Blogger Alda Serras said...

É um tema muito delicado, principalmente por causa dessa menina com vivências traumáticas mas falar das coisas abertamente faz bem.

Bom fds!

9:45 AM  
Blogger Vb said...

Um bom-fim de semana

beijinho


vitor

10:27 PM  
Blogger Zé-Viajante said...

E que bem que sabes dar a volta a uma situação delicada.
Boa semana

8:23 PM  
Blogger augustoM said...

Falar da morte nem sempre é fácil, mas cantar de galo, todos gostam.
Um beijo. Augusto

1:50 PM  
Blogger Manuel Veiga said...

pedagógico. sem dúvida

4:00 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

querida__________Leonor





como era de esperar________desta a "volta" e muito bem






.pois_______a morte_______faz parte.tão.concreta.real__________e certa______na nossa vida



mas



aceitá-la_________é uma outra história. nada fácil



de transpor_______...










beijO_______C_____carinhO

7:36 PM  
Blogger Isamar said...

E assim deves fazê-lo minha querida amiga. Pior seria se fizesses que a não ouvias como alguns adultos, em idêntica situação, costumam fazer.
E quanto ao galo, sempre adorei esta canção. Ah, minha professora querida. Se estivesses cá terias de ensinar a Maria.

Mil beijinhos

10:11 PM  
Blogger APC said...

Integrando tudo. Sempre. Porque o que nos faz mal à psique é o que não conseguimos integrar. É isso!

:-)

5:06 AM  

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