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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Thursday, August 02, 2007

A "biciclêta" da Leonoreta


Comprei uma bicicleta. Devia ter comprado uma lambreta eu sei. Mas se eu fechar o E de bicicleta com um acento circunflexo (biciclêta) também rima com Leonoreta.

A minha bicicleta é linda. Rosa claro fluorescente. Quando a vi foi amor à primeira vista.

- Leonor…olha, tu não andas de bicicleta há muito tempo…
- Vinte anos. – Confirmei eu.
- De modo que as coisas, nomeadamente a tecnologia ciclista, evoluíram muito desde essa altura.
- Sim. – Mostrava-me atenta.
- Há vinte anos a tua bicicleta só tinha duas rodas e um volante…
- E uma campainha. – Disse eu com ar de troça.
- … e agora tem mudanças e tal que precisas de conjugar conforme se a estrada é a subir, a descer ou plana. - O meu interlocutor ignorou o meu sorriso sarcástico.

Palavra de Honra! Eu sei andar de bicicleta mas lá deixei o meu interlocutor explicar-me como funcionavam as mudanças. Ele há cada um.

- Leonor…
- Sim.
- Ouve com atenção porque isto é muito importante.
- Sim.
- Nunca uses o travão da frente. Se tiveres de travar usa o de trás que funciona aqui com a mão direita. Não uses o da esquerda. Nunca uses o da esquerda.
- Então porquê? – desde criança que sou curiosa e gosto que me expliquem as coisas.
- Porque a bicicleta trava de repente e tu és projectada para alguns metros à frente.
- Cinco? Vinte? Cinquenta? – Imaginei-me a voar por cima do volante da bicicleta e até dei duas gargalhadas.

Como em metodologias sociológicas, nada melhor para testar uma hipótese do que fazer observação participante, in locco. O percurso foi de Almada à Costa da Caparica. Vinte e dois kilómetros. Onze, para lá, praticamente a descer, onde deu para experimentar as mudanças mais pesadas e onze no sentido inverso, sempre a subir, onde deu para experimentar as mudanças mais leves.

Quando chego à Costa flauteio pelo paredão, cruzando-me com outros ciclistas de fim de semana, maçaricos como eu. Vejo o mar e os mais afoitos a mergulharem, às oito da manhã nas águas geladas da Caparica. Bebo um café no barzinho da dona Sabina que conhece toda a gente, inclusivé a mim... faço mais uma tentativa de subir para a bicicleta à militante da resistência francesa: pé esquerdo no pedal, pé direito ao lado do esquerdo e opsss! Mesmo antes de alçar a perna direita já perdi o equilíbrio. Ainda não é desta que consigo imitar a minha heroína que levava sempre a melhor do fuhrer alemão: Mademoiselle X.

Começo o percurso para casa. É difícil. Sempre que mudo de mudança a bicicleta passa-se dos carretos e fico a pedalar no ar, fazendo bailados à Charlot. Por duas vezes, nas subidas mais íngremes, levei a bicicleta a pé. Estou cada vez mais perto de casa. Faltam apenas cinquenta metros. Vou confiante. Saio da estrada e entro no passeio.

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Encontro-me estatelada no meio do chão. Levantei-me com o corpo a doer e com a alma a sangrar... de orgulho ferido. Entrei obliqua no passeio, o pneu resvalou, a bicicleta inclinou-se e eu fui pelo ar.

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- Leonor… esqueci-me de dizer-te mas além do travão da esquerda também há o problema de entrares nos passeios de lado…
- Sim. Essa já sei. - E afastei-me toda empenada.

Leonoreta

23 Comments:

Blogger Isamar said...

E fartei-me de rir. Nem imaginas como me estou a sentir acompanhada. Já não sou a única empenada da blogosfera. Sim, também fui, há dias, dar um passeio a uma fonte que fica muito perto de casa.Ladeira íngreme,descida acentuada e lá fui eu a voar uns metros. Perna direita raspada, joelho esfolado, cotovelo esfolado e corpo dorido.
É assim, "Leonorêta"! Andar de bicicleta, se o soubemos, não esquece mas a prática...
Beijinhos e não desistas.

5:57 PM  
Blogger mac said...

Mas diz lá se ñ te sentiste mais saudável depois dessa estirada. Ñ desistas, e já agora adquire umas luvas e um capacete, para evitar mazelas de maior.

6:13 PM  
Blogger A Professorinha said...

A minha bike está ali estacionada na garagem há já uns tempinhos... COm este calor nem dá para chegar ali em baixo ao multibanco... quanto mais uma estirada como a tua...


Beijos

9:53 PM  
Blogger Cusco said...

Olá! Bonita bicicleta….!
É um exercício muito bom! Ultimamente também tenho feito um bocado de treino. Eu e a minha Cusquinha! Porém, por aqui, a falta de vias especificas para esse fim torna essa actividade um pouco perigosa devido ao muito e descuidado transito com que nos cruzamos. Quando andamos em estrada costumamos levar um colete reflector e capacete! (Convém arranjares também, caso não uses)
Porém normalmente preferimos andar pelo campo, pelos caminhos, espantando a passarada à nossa passagem, voluteando nas eiras abandonadas, bebendo água nas fontes….!
Beijinho para ti e boas pedaladas!

9:30 AM  
Blogger José Manuel Dias said...

;-)

9:11 PM  
Blogger José Manuel Dias said...

;-)

9:11 PM  
Blogger Zé-Viajante said...

Espero bem que as mazelas já tenham passado.
(...e há lá uma resposta ao comentário do senhor da bola. Pode ser maluco mas é bem habilidoso...)

10:24 PM  
Blogger Alda Serras said...

Lá está: devias ter comprado uma motoreta ;)

3:40 PM  
Anonymous Anonymous said...

Bem sei que a desgraça dos outros não nos conforta, mas, pensa assim: Lá mais para o Norte, anda uma amiga minha de "pasteleira" (Pelo que me parece é igual à minha, a tua bicicleta e aqui, não sei se aí também, são chamadas de pasteleiras) que fez exactamente as mesmas figurinhas que eu.
Mais! Travou com o dito cujo da esquerda e voou!... Haja um santo padroeiro dos ciclistas com a mania que são espertos (eu, pois está claro) e não me magoei muito, mas a vergonha foi tal que voltei para casa de "mão dada" com a minha "pasteleirinha".

Beijo.
Fizeste-me rir, Leonor.
Bom resto de domingo.
Pena estarmos longe porque podiamos dar umas passeatas juntas.

9:08 PM  
Blogger happiness...moreorless said...

Que texto divertido =) =)

Eu nao tenho la assim muito jeito para andar de bicicleta mas às vezes lá sinto uma vontade de viver essa sensação de liberdade e lá vou...
muitas vezes tambem termino no chão =p

*****

12:16 PM  
Blogger lena said...

Leonor, minha querida amiga

enquanto te lia ia imaginando o percurso a descer com as mudanças mais pesadas e depois a subida com mudanças mais leves. lá ia eu seguindo-te, parei enquanto tomavas café. esse foi o momento que sonhei, com a minha bicicleta linda, muitas vezes fechada a cadeado pelo meu pai, para não andar em horas de muito calor, mas que eu consegui sempre arranjar maneira de abrir, fugir com ela e entrar nas corridas do bairro.
tinha campainha e foi a campainha que me trouxe à realidade para te continuar a ler e ficar de novo envolvida nas tuas andanças.

e ri-me, lógico que nos ri-mos com o mal dos outros.

a doce menina não sabe as normas da protecção rodoviária ? luvas, joelheiras, capacete e colete reflector são necessários e obrigatórios, depois é só pedalar, ir em frente e …

olha para mim a passar à tua frente na minha byke

um bom momento de desconcentração que me deste, um voltar à minha juventude e a um agora com os sinas reflectores a pedalar por aí…

como sempre tão bem escrito que é impossível ficar indiferente aos teus improvisos, tão reais.


beijinhos muitos.
o meu abraço carregado de carinho, ternura e amizade que me ligam a ti minha querida amiguinha linda

lena

7:12 PM  
Blogger lena said...

Leonor minha querida amiga

aqui nunca passo com pressa.

passo muitos vezes em silêncio para te sentir e quando venho é para estar aqui, saborear cada palavra tua.

tudo o que vem de ti e tu mesma tem para mim um valor muito alto, a amizade, o sentimento mais nobre que conheço

por isso estou, mesmo que seja em silêncio minha doce amiguinha

um beijo e aproveita bem as férias, este ano começa mais cedo, dizem!

abraço-te com a minha ternura, com a minha amizade

lena

11:00 PM  
Blogger Mocho Falante said...

ahahahahahahahaha. só tu mesmo...e não ficaste com o rabisoque dorido???

Olha eu que já não andava deste os tempos de miudo decidi fazer a ciclovia que vai de cascais ao guincho e fiquei cá com uma dor no befe que durou três dias....nos tempos de criança andávamos horas a fio e nada de dores no bumbum, agora uma meia duzia de km e ficamos todos empenados

beijocas e boas viagens

9:01 PM  
Blogger SILÊNCIO CULPADO said...

Gosto da forma como escreve, simples, frontal e eloquente. Andei muito de bicicleta mas eram outros tempos. Hoje onde moro bem sonho em pedalar mas não há espaço, as estradas não deixam e os automobilistas também não. Se um dia puder compro uma bicicleta como a sua. Deve ser linda!

4:00 PM  
Blogger contradicoes said...

Venho agradecer e retribuir a sua visita. Pois é eu se calhar já não ando num veículo de duas rodas há mais de 20 anos, mas julgo que talvez não me atrapalhasse com a sofisticação dos actuais velocipedes.
E quem sabe se experimentasse se calhar espalhava-me. Musicalmente falando, pelos vistos, temos gostos coincidentes. Um bom fim de semana.

11:35 PM  
Blogger saltapocinhas said...

é liiiiinda a tua biciclta!
A minha é de homem com aquela coisa ao meio!
vou reivindicar uma igual à tua!
eu cá nem preciso de cair para ficar toda empenada!

12:14 AM  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Leonor
Comprava toda a banda desenhada do "Falcão" (?) com a Mademoiselle X... :))))
Um beijo
Daniel

6:17 PM  
Blogger Zé-Viajante said...

A "biciclêta" da Leonor está parada.Em férias não deveria andar mais?

6:28 PM  
Blogger Isamar said...

No início de mais uma semana passei para te deixar beijinhos e desejar que essas férias, de biciclêta, estejam a decorrer " às mil maravilhas".

8:06 AM  
Blogger Maria Clarinda said...

Há muito que não entrava no teu espaço...foi tão bom voltar, adorei os posts que li, adoreia música. Obrigada pelos momentos optimos e voltarei mais vezes.
Jinhos

9:40 AM  
Blogger SILÊNCIO CULPADO said...

Adoro andar de bicicleta mas há muito tempo que não ando.Onde vivo não há ciclovias e ninguém anda de bicicleta mas, qualquer dia, desafio a tempestade!

9:30 PM  
Blogger Leonor said...

Olá.
Cheguei aqui através de outro blog e não resisti à visita. A razão? o nome, o mesmo que o meu e, em particular, o "Leonoreta".
Chamam-me de tudo, Nônô, Ninocas, Nocas, Carocha. Mas o Leonoreta está associado ao "cagareta" - "Leonoreta Cagareta", era como me chamava um amigo dos meus pais e isso punha-me os cabelos em pé. Achei piada.
Já agora, também ando com a panca da bicla ...

10:57 AM  
Blogger APC said...

Ora, mas afinal o que é que é melhor? Uma ciclista sapiente, ou uma ciclista experiente? :-)

Muito bem! Umas nódoas e uns arranhões nunca fizeram mal a ninguém. Não dizemos dos miúdos (ou dizíamos? - com esta obsessão proteccionista, já não sei), que se cairem logo se levantam?
Mal é de quem deixa de ter esse quê de arisco, aventureiro e explorador! Podemos andar tornos, mas continuamos a "ciclar" em frente! :-P

E ela é, realmente, lindíssima! :-)))

1:25 AM  

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