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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Friday, August 17, 2007

Atrás de Emilio

Nos primórdios da antropologia, alguns nomes conceituados da referida ciência, que não quero aqui revelar por várias razões, sendo uma delas a minha ignorância parcial sobre o assunto, escreviam sobre o conceito de cultura, dando como exemplo vivências de certos povos, sem nunca saírem do gabinete. Até que um dia, alguém se lembrou de abrir a janela do referido gabinete e ver que havia mundo lá fora, decidindo sair pela porta para escrever sobre os Papua da Nova Guiné. Hoje em dia sabemos mais sobre a vida dos Papua que propriamente quantas marcas de detergente para a louça há no supermercado.
Depois de um ano difícil em que trabalhei e ainda estudei, ainda me encontro, no mês de Agosto, a trabalhar numa proposta de dissertação que Bolonha estipulou para cinco páginas no mínimo com entrega em data marcada. Copiando os primeiros antropólogos elaborei a proposta no meu gabinete e do meu gabinete eu fundamentei as larachas que quero impingir com alguns artigos de opinião pesquisados na Internet, onde vinha mencionada bibliografia. Depois ia desanuviar a cabeça para a praia.
Todavia, nunca encontrei a editora de Emilo ou da educação de Jean Jacques Rousseau.
À laia de Bolonha, mandei o meu trabalho por mail à minha orientadora que mandou logo um RE, dizendo: Levante-se da cadeira (não era bem assim que ela queria dizer) saia de casa e procure o livro nas bibliotecas ou em qualquer livraria.

Na Fnac não havia e na Bertrand nem constava nos catálogos on line.

- Quais são as probabilidades de haver um exemplar caido atrás da estante?- perguntei.
- Nenhumas. - responderam-me de forma tão peremptória que nem insisti.
No dia a seguir levantei-me cedo. O barco ia vazio, o metro ia vazio e tudo na universidade estava fechado menos a biblioteca e a tesouraria. Perguntei por Emílio à senhora do balcão e pela cota fui à procura dele. Encontrei-o em dois volumes magrinhos, já muito sarrabecos de folhas amarelo torrado. É provável que tenha sido um dos primeiros livros a povoarem as prateleiras daquela universidade.
Verifiquei que as lombadas tinham uma bola vermelha. Não podia levá-los portanto e esquecer-me deles na minha estante para fingir que os lia. Sei onde se coloca o chip que me denunciaria à saída se eu os enfiasse dentro da mala mas essa coisa chamada consciência, que nem Freud soube lá muito bem o que era, atrapalhou-me a acção. A reprografia estava de férias e só me restava comprar um cartão na tesouraria e meter as mãos à obra.
Por quatro vezes solicitei a ajuda preciosa (contrariada a partir do segundo chamamento) da senhora do balcão. A máquina não tinha folhas, a máquina reduzia-me as letras, a máquina copiava dos dois lados, debitando-me logo duas fotocopias de uma vez, a máquina tirava-me as fotocopias pretas. Aiiiiiiiiiiiiiiiii que nervos.
Gastei um cartão de cem fotocópias e a senhora do balcão nunca trabalhou tanto num dia de Agosto (em que toda a gente está de férias) como naquele dia.

Leonoreta

15 Comments:

Blogger contradicoes said...

Importante que tenha conseguido o livro pretendido. Ou seja segundo o título do post "Atrás de Emílio", com alguma dificuldade conseguiu encontrá-lo. Beijinhos
Raul

9:27 PM  
Blogger SILÊNCIO CULPADO said...

Minha querida eu entendo-te tão bem. Já passei por muitas trapalhadas dessas. Agora, felizmente, só faço o que me apetece (quase). Mas se precisares de ajuda de um antropólogo de excelência vai ao blogue "Os Tempos que Correm" e pede ajuda ao autor. É do melhor que há na nossa praça e muito prestativo.
Um beijo

9:28 PM  
Blogger Vida said...

O sereno cobre o manto verde da ilha, a suave brisa que percorre os campos espalha o incontido aroma doce das uvas que o sol tinge de carmesim, no tempo presa à ilha ficaste, tanto mar!

Beijinho

9:42 PM  
Blogger Zé-Viajante said...

Que " maldade " fazer a senhora tirar tantas fotocopias em mês de Agosto, ou mês de " fare nienti ".
(É assim que diz, não é? )
Abraços e boa praia.

12:39 AM  
Blogger Isamar said...

És blog 5 estrelas.Passa lá por casa.Votei no teu blog mas não tens de aderir.
Beijinhos

6:41 AM  
Blogger . said...

Só psssei mesmo para dizer olá. Hoje foi uma manha dificil ou facil...nem sei!!! :D

ps:bons sonhos

7:54 AM  
Blogger José Manuel Dias said...

...vivências...

8:48 PM  
Blogger Isamar said...

E lá puseste duas a trabalhar em Agosto. Sem gosto.Mas arranjaste o teu Emílio.
Beijinhos

11:38 PM  
Blogger Isamar said...

Desejo-te um bom dia e uma boa semana.
Beijinhos

8:57 AM  
Anonymous Anonymous said...

Estou em franca recuperação deste longo e bom periodo de férias, volto depois para por a escrita/comentários em dia.

Boa semana.

JMC

2:21 PM  
Blogger saltapocinhas said...

encontraste o emilio e agora reza para a orientadora não ler isto e ficar a saber que te querias esquivar ao pobre do emilio!!

beijos e vê lá se descansas que daqui a poucos dias estaremos de volta ao batente!!

11:55 PM  
Blogger O Profeta said...

Duas luas são os teus olhos
Dois rostos tem, a saudade
Dois actos, tem a peça de nome paixão
Nenhum aplauso dura...a eternidade...



Profético beijo

3:22 PM  
Blogger Alda Serras said...

O Emílio sabe fazer-se difícil! Lembro-me que no curso a turma inteira o leu em espanhol. A esposa do professor era espanhola e trouxe-o de lá. Não encontrámos a tradução portuguesa. Foi uma experiência terrível!

3:23 PM  
Blogger lena said...

Leonor, doce menina e querida amiguinha

venho sempre, sento-me e leio-te com a mesma ansiedade de sempre. com carinho, serenamente deixo-me estar até quase decorar os teus textos. leio e releio sem me cansar.

que trabalhão para ferias, não as fotocopias pois quem está à frente de algo está para fazer o que tem que ser feito. mas um trabalho desses de pesquisa e em Agosto é obra

O Emílio de Rousseau, - criança auto-suficiente

"É preciso estudar a sociedade pelos homens, e os homens pela sociedade. Os que quiserem tratar separadamente a política e a moral não compreenderão nunca nada das duas."

o importante é que o Emílio foi encontrado e a proposta de Bolonha bem elaborada certamente. nota 20 minha doce amiga

comento atrasada, mas com prazer e dizer-te que estou sempre

abraço-te com a mesma ternura, com o meu carinho, pois é mesmo um abraço forte que te quero dar

beijos

lena

11:04 PM  
Blogger APC said...

Sentiste-te, portanto, uma perfeita "Argonauta" numa difícil expedição nesse "Pacífico" Agosto, qual Malinowsky (um dos meus preferidos, exactamente porque dos primeiros a "sair do gabinete")!
Bela moral... Efectivamente, andamos a esquecer-nos que "ir" por vezes é mesmo o melhor remédio!

Gostei muito! :-)))

1:16 AM  

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