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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Friday, March 02, 2007

Fragmentos dela, dele e às vezes dos outros (5)

Depois de resolverem as questões pendentes, uma vez por semana, ficavam sempre a conversar um pouco, nunca mais de meia hora até ser tempo de cada um ir às suas vidas particulares.

O tema das conversas pouco interessava mas versava sempre alguma coisa interessante para os dois: algum livro que tinham lido, algum filme que tinham visto, alguma coisa que tinham feito, alguma coisa que cada um planeava fazer. Mas dos sentimentos que cada um sentia pelo outro nunca se dizia nada.

Ele falava mais. Ela ouvia mais. Mas a partilha existia. A troca não se perdia. Depois era o arrumar dos papéis nas pastas mas sempre com a conversa continuada, interrompida por algumas trivialidades. Era a comunhão do método, de afinidades. Por vezes, nada se impõe. Tudo existe num fluir espontâneo.

Tempo de acabar ali e de começar além. Para trás, as paredes imaculadamente brancas do escritório, o soalho de taco castanho cor de mel cuidadosamente encerado, o quadro de uma paisagem desmaiada na baguete de metal dourado - uma ponte sobre um rio - a secretaria desarrumada preguiçosamente com bolas de papel inutilizado, acerto de ideias de uma semana. No fim a sensação de que algo corria bem sem contratempos, até que outra semana viesse na esperança de transformar aquela hora e pouco na eternidade.
da Leonor

25 Comments:

Blogger António said...

Querida Leonor!
Está magnífico este teu fragmento!
Como um encontro para tratar de questões pendentes se transformava num momento de encanto.
O que não faz a afinidade entre duas pessoas!
Um fragmento dele e dela, sós, ontem e amanhã.

Beijinhos

10:41 PM  
Anonymous Anonymous said...

Peças do quotidiano que travam a vontade de ir mais além do que...
"Fragmentos" pragmáticos, sem risco, diferentes de mim.
A vida também é assim.

12:24 PM  
Blogger augustoM said...

Leonor, estamos em presença de um romance em capítulos? O climax aumenta com o fluir das emoções que tendem a transformar-se em sentimentos. Aguardo a continuação. Acho a ideia óptima.
Um beijo. Augusto

1:02 PM  
Blogger lena said...

Leonor uma excelente momento, muito bem descrito, em mais um dos "fragmentos"

consegui visualizar e extraordinariamente estar presente no escritório ...

uma empatia que deixa o primeiro passo num adiar constante, semana a semana sem se desenrolar o novelo, transformado em emoções reprimidas pela falta de coragem

o adiar de uma vida, conversas banais e o mais importante fica sempre por dizer

um hoje, um amanhã, um depois...

será que o encanto se quebra?

difícil prever e o tempo passa sem darmos por isso


adoro vir ler-te, mas isso já tu sabes, doce Leonor,

fico encantada com cada uma das tuas partilhas, sempre surpreendentes e que acabam por ser verdadeiras, algures em algum lugar

obrigada, minha querida amiga Leonor

abraço-te com ternura, um abraço apertadinho

beijinhos para ti

lena

2:34 PM  
Anonymous Anonymous said...

Um belíssimo fragmento! Gostei. Beijos.

3:23 PM  
Anonymous Anonymous said...

Na febre da vida, que faz dos frames, (metódicos no ritmo, descontrolados na razão que faz as razões) a percepção dessa invenção ditatorial que é o tempo, o sentir único “daquilo”, pode ser o mergulho na eternidade (ou dito doutra forma, a ausência de frames como paisagem para todo o sempre)
Se a imagem se converter em quadro e se escapulir na direcção do universo, ela viajará para todo o sempre, sem perturbações de cor ou cheiro. E a felicidade repetitiva daquele momento, é o sempre para sempre. Como as noites de natal da infância, ou as tardes soalheiras das férias de 3 meses...
Os artistas, são os inventores do prazer cúmplice, na negação do tempo. E boa boa, é também que o fazem na negação do espaço. Hum........a única coisa perturbadora, é que sempre que penso assim, fico com vontade de fumar outra vez....

3:38 PM  
Anonymous Anonymous said...

Nota:
Leonor, tenha um bom fim de semana, e uma Quaresma tranquila. Nestes dias de tempos modernas, tão desabregados nos "teres", uma Quaresma penitente, é sempre um execício de musculação da alma.
Muito obrigado pela oportunidade que dá, (de ler os pedaços de bom pensamento que vai semeando.

3:45 PM  
Anonymous Anonymous said...

"desbragados"...
ai, ai ... desculpe, desculpem...

5:13 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Venho só agradecer o teu comentário ao meu texto da janela sobre o (pequeno) mundo.
E obrigado pela excelente massagem que deste no meu ego.
ah ah ah

Beijinhos

7:32 PM  
Blogger Leonor said...

PARA ANÓNIMO

fez um belíssimo comentário que lhe agradeço mil vezes. um quadro de palavras fabuloso que me leva a pensar no meu humilde texto como bom.
porque se não for o caso, o seu comentário assim o tornou.

abraço da leonoreta

8:44 PM  
Blogger Flor de Tília said...

Mais um fragmento, o quarto da vida dele, da vida dela e talvez de outros. Vidas! Neste caso,partilhas/ cumplicidades de dois profissionais do mesmo ofício.E perpassa por aqui, algo mais que prevejo possa enveredar pelos caminhos sinuosos mas doces, belos, fantásticos do coração. Um fala mais, outro ouve mais, condição "sine qua non" para que aquilo que sentem um pelo outro saia da boca de cada um e acabe, muito provavelmente por lhes colar os lábios.
Será Leonor?
Beijinhos

12:15 AM  
Anonymous Anonymous said...

essa da impassibilidade tem , com certeza, uma explicação.

6:03 PM  
Blogger Isamar said...

E assim se vão fazendo amizades profundas que, inesperadamente, se transformam num amor solidamente construído sem que os verdadeiros protagonistas disso se apercebam! Estas pequenas partilhas, pregam-nos saborosas partidas de amor!. Saber ouvir é uma qualidade muito importante. Falar é mais fácil do que ouvir.Eles completavam-se.
Irão estes encontros derivar numa linda história de amor?
Um post muito interessante. Em fragmentos!
Continuarei a visitar-te.
Beijinhos

7:43 PM  
Blogger Mocho Falante said...

mais um texto que me deliciou...continua assim que ainda vou a uma sessão tua de autógrafos na FNAC

Beijocas

9:00 PM  
Blogger Pepe Luigi said...

Maravilhosa fracção de texto elaborada com muita clareza e de sentimento muito puro.
Afinal qual é a razão para que duas pessoas não mantenham o seu vínculo de afinidade?

Um beijinho
do Pepe.

11:01 PM  
Anonymous Anonymous said...

-uma ponte sobre um rio-
Sobre o que fôr, as pontes são objectos fascinantes, ligam as partes

2:34 AM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor

Ler-te é sempre um momento de grande prazer

Veio-me à memória o filme - "As Pontes de Madison County"

A dor de um amor perdido que ecoa para todo o sempre, a oportunidade de se realizar um sonho mas ser impedido pela realidade

Sorte de quem já teve a sua Ponte de Madison.

Beijinhos com muito carinho
BSemana

5:53 PM  
Blogger happiness...moreorless said...

Li todos estes episódios que tens escrito...
estou a ficar apaixonada pela história =)

Um beijinho

9:34 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá Leonoretta,

Meia hora, uma vez por semana. Que importam as outras 167,5?
Aquela meia, sim. Tem tudo e tanto que se quer preservar. Como se fosse magia: se revelada perde o encanto. Calada, mas não menos partilhada, vai enchendo, enchendo,enchendo até que um dia.... se põe a voar, a voar, a voar. Lá em cima, começa a esvaziar, esvaziar. E aquela meia hora deixa de ser diferente das restantes até que outras se diferenciem.

Excelente descrição. Quase posso sentir aquele ligeiro roçar de braço "ingénuo" e "por acaso" quando nos cruzamos!

Beijinhos
Ana Joana

11:13 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Obrigado pela tua visita aos meus novos blogs do Sapo.
Mas já deu para perceber que o Sapo é fraquinho: dá muitos erros de página e é muito lento.

Beijinhos

9:35 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor


A minha mensagem escrita “à minha maneira”______nos sentires que eu traduzo_________na palavra.


Um grito selvagem________a mulher cantou
deliciou e não assustou a vasta plateia________que a admirou
nas mãos________cordas de nós feitos______escondidos
e falsos sorrisos_________aplaudiram

tenha o peito cingido por uma écharpe de seda
todo o seu corpo estava preso nas malhas ______de um belo vestido
bem medido.cuidado.civilizado
bailava a plena liberdade _________ em seus olhos
o que as malhas não tinham força para prender
e se soltou das grades_______________a voz


FELIZ DIA! QUE TODOS OS DIAS SEJAM DIAS DA MULHER!

Beijo com muito carinho

4:40 PM  
Blogger Unknown said...

Depois de ter terminado com o "Postaias da Novalis" a 5 de Fevereiro, para me dedicar mais à astrologia, tenho aproveitado este tempo para desenvolver mais os conceitos evolutivos dos signos do zodíaco, como base elementar desta nossa reencarnação.

Aqui fica o convite para conhecer melhor o signo onde está o seu sol de nascimento, podendo também copiar o dos seus familiares e amigos.

Copie-os para o word, para melhor poder reflectir sobre o signo mais importante do seu zodíaco.

Agradeço comentários no sentido de melhorar os textos, aprofundando-os.

Um abraço,

António Rosa

7:58 PM  
Anonymous Anonymous said...

boa noite, leonor. um feliz dia para si. neste dia de todas nós. beijinhos.

9:01 PM  
Anonymous Anonymous said...

Leonor, doce menina

entrei para te deixar um abraço cheio de carinho

a flor mais linda e um beijo meu para ti, querida amiguinha


lena

9:34 PM  
Anonymous Anonymous said...

Voltei ao texto. Voltei à procura do toque fortuito de braços. O cruzar, que nem a largura regulamentar do corredor, faz desaparecer. Não sabia o que me chamava neste retorno ao texto. Agora sei. Foi a subliminar nota de dor que há no ar.
É que há dias, em que aquele dia calha num dia que o não é. Os feriados, as férias, ou os dias de greve dos barcos.
Percebi isso porque fiquei com pele de galinha no braço... Foi o medo da ausência.

7:38 PM  

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