Fragmentos dela, dele e às vezes dos outros (5)
Depois de resolverem as questões pendentes, uma vez por semana, ficavam sempre a conversar um pouco, nunca mais de meia hora até ser tempo de cada um ir às suas vidas particulares.
O tema das conversas pouco interessava mas versava sempre alguma coisa interessante para os dois: algum livro que tinham lido, algum filme que tinham visto, alguma coisa que tinham feito, alguma coisa que cada um planeava fazer. Mas dos sentimentos que cada um sentia pelo outro nunca se dizia nada.
Ele falava mais. Ela ouvia mais. Mas a partilha existia. A troca não se perdia. Depois era o arrumar dos papéis nas pastas mas sempre com a conversa continuada, interrompida por algumas trivialidades. Era a comunhão do método, de afinidades. Por vezes, nada se impõe. Tudo existe num fluir espontâneo.
Tempo de acabar ali e de começar além. Para trás, as paredes imaculadamente brancas do escritório, o soalho de taco castanho cor de mel cuidadosamente encerado, o quadro de uma paisagem desmaiada na baguete de metal dourado - uma ponte sobre um rio - a secretaria desarrumada preguiçosamente com bolas de papel inutilizado, acerto de ideias de uma semana. No fim a sensação de que algo corria bem sem contratempos, até que outra semana viesse na esperança de transformar aquela hora e pouco na eternidade.
da Leonor
25 Comments:
Querida Leonor!
Está magnífico este teu fragmento!
Como um encontro para tratar de questões pendentes se transformava num momento de encanto.
O que não faz a afinidade entre duas pessoas!
Um fragmento dele e dela, sós, ontem e amanhã.
Beijinhos
Peças do quotidiano que travam a vontade de ir mais além do que...
"Fragmentos" pragmáticos, sem risco, diferentes de mim.
A vida também é assim.
Leonor, estamos em presença de um romance em capítulos? O climax aumenta com o fluir das emoções que tendem a transformar-se em sentimentos. Aguardo a continuação. Acho a ideia óptima.
Um beijo. Augusto
Leonor uma excelente momento, muito bem descrito, em mais um dos "fragmentos"
consegui visualizar e extraordinariamente estar presente no escritório ...
uma empatia que deixa o primeiro passo num adiar constante, semana a semana sem se desenrolar o novelo, transformado em emoções reprimidas pela falta de coragem
o adiar de uma vida, conversas banais e o mais importante fica sempre por dizer
um hoje, um amanhã, um depois...
será que o encanto se quebra?
difícil prever e o tempo passa sem darmos por isso
adoro vir ler-te, mas isso já tu sabes, doce Leonor,
fico encantada com cada uma das tuas partilhas, sempre surpreendentes e que acabam por ser verdadeiras, algures em algum lugar
obrigada, minha querida amiga Leonor
abraço-te com ternura, um abraço apertadinho
beijinhos para ti
lena
Um belíssimo fragmento! Gostei. Beijos.
Na febre da vida, que faz dos frames, (metódicos no ritmo, descontrolados na razão que faz as razões) a percepção dessa invenção ditatorial que é o tempo, o sentir único “daquilo”, pode ser o mergulho na eternidade (ou dito doutra forma, a ausência de frames como paisagem para todo o sempre)
Se a imagem se converter em quadro e se escapulir na direcção do universo, ela viajará para todo o sempre, sem perturbações de cor ou cheiro. E a felicidade repetitiva daquele momento, é o sempre para sempre. Como as noites de natal da infância, ou as tardes soalheiras das férias de 3 meses...
Os artistas, são os inventores do prazer cúmplice, na negação do tempo. E boa boa, é também que o fazem na negação do espaço. Hum........a única coisa perturbadora, é que sempre que penso assim, fico com vontade de fumar outra vez....
Nota:
Leonor, tenha um bom fim de semana, e uma Quaresma tranquila. Nestes dias de tempos modernas, tão desabregados nos "teres", uma Quaresma penitente, é sempre um execício de musculação da alma.
Muito obrigado pela oportunidade que dá, (de ler os pedaços de bom pensamento que vai semeando.
"desbragados"...
ai, ai ... desculpe, desculpem...
Querida Leonor!
Venho só agradecer o teu comentário ao meu texto da janela sobre o (pequeno) mundo.
E obrigado pela excelente massagem que deste no meu ego.
ah ah ah
Beijinhos
PARA ANÓNIMO
fez um belíssimo comentário que lhe agradeço mil vezes. um quadro de palavras fabuloso que me leva a pensar no meu humilde texto como bom.
porque se não for o caso, o seu comentário assim o tornou.
abraço da leonoreta
Mais um fragmento, o quarto da vida dele, da vida dela e talvez de outros. Vidas! Neste caso,partilhas/ cumplicidades de dois profissionais do mesmo ofício.E perpassa por aqui, algo mais que prevejo possa enveredar pelos caminhos sinuosos mas doces, belos, fantásticos do coração. Um fala mais, outro ouve mais, condição "sine qua non" para que aquilo que sentem um pelo outro saia da boca de cada um e acabe, muito provavelmente por lhes colar os lábios.
Será Leonor?
Beijinhos
essa da impassibilidade tem , com certeza, uma explicação.
E assim se vão fazendo amizades profundas que, inesperadamente, se transformam num amor solidamente construído sem que os verdadeiros protagonistas disso se apercebam! Estas pequenas partilhas, pregam-nos saborosas partidas de amor!. Saber ouvir é uma qualidade muito importante. Falar é mais fácil do que ouvir.Eles completavam-se.
Irão estes encontros derivar numa linda história de amor?
Um post muito interessante. Em fragmentos!
Continuarei a visitar-te.
Beijinhos
mais um texto que me deliciou...continua assim que ainda vou a uma sessão tua de autógrafos na FNAC
Beijocas
Maravilhosa fracção de texto elaborada com muita clareza e de sentimento muito puro.
Afinal qual é a razão para que duas pessoas não mantenham o seu vínculo de afinidade?
Um beijinho
do Pepe.
-uma ponte sobre um rio-
Sobre o que fôr, as pontes são objectos fascinantes, ligam as partes
Querida Leonor
Ler-te é sempre um momento de grande prazer
Veio-me à memória o filme - "As Pontes de Madison County"
A dor de um amor perdido que ecoa para todo o sempre, a oportunidade de se realizar um sonho mas ser impedido pela realidade
Sorte de quem já teve a sua Ponte de Madison.
Beijinhos com muito carinho
BSemana
Li todos estes episódios que tens escrito...
estou a ficar apaixonada pela história =)
Um beijinho
Olá Leonoretta,
Meia hora, uma vez por semana. Que importam as outras 167,5?
Aquela meia, sim. Tem tudo e tanto que se quer preservar. Como se fosse magia: se revelada perde o encanto. Calada, mas não menos partilhada, vai enchendo, enchendo,enchendo até que um dia.... se põe a voar, a voar, a voar. Lá em cima, começa a esvaziar, esvaziar. E aquela meia hora deixa de ser diferente das restantes até que outras se diferenciem.
Excelente descrição. Quase posso sentir aquele ligeiro roçar de braço "ingénuo" e "por acaso" quando nos cruzamos!
Beijinhos
Ana Joana
Querida Leonor!
Obrigado pela tua visita aos meus novos blogs do Sapo.
Mas já deu para perceber que o Sapo é fraquinho: dá muitos erros de página e é muito lento.
Beijinhos
Querida Leonor
A minha mensagem escrita “à minha maneira”______nos sentires que eu traduzo_________na palavra.
Um grito selvagem________a mulher cantou
deliciou e não assustou a vasta plateia________que a admirou
nas mãos________cordas de nós feitos______escondidos
e falsos sorrisos_________aplaudiram
tenha o peito cingido por uma écharpe de seda
todo o seu corpo estava preso nas malhas ______de um belo vestido
bem medido.cuidado.civilizado
bailava a plena liberdade _________ em seus olhos
o que as malhas não tinham força para prender
e se soltou das grades_______________a voz
FELIZ DIA! QUE TODOS OS DIAS SEJAM DIAS DA MULHER!
Beijo com muito carinho
Depois de ter terminado com o "Postaias da Novalis" a 5 de Fevereiro, para me dedicar mais à astrologia, tenho aproveitado este tempo para desenvolver mais os conceitos evolutivos dos signos do zodíaco, como base elementar desta nossa reencarnação.
Aqui fica o convite para conhecer melhor o signo onde está o seu sol de nascimento, podendo também copiar o dos seus familiares e amigos.
Copie-os para o word, para melhor poder reflectir sobre o signo mais importante do seu zodíaco.
Agradeço comentários no sentido de melhorar os textos, aprofundando-os.
Um abraço,
António Rosa
boa noite, leonor. um feliz dia para si. neste dia de todas nós. beijinhos.
Leonor, doce menina
entrei para te deixar um abraço cheio de carinho
a flor mais linda e um beijo meu para ti, querida amiguinha
lena
Voltei ao texto. Voltei à procura do toque fortuito de braços. O cruzar, que nem a largura regulamentar do corredor, faz desaparecer. Não sabia o que me chamava neste retorno ao texto. Agora sei. Foi a subliminar nota de dor que há no ar.
É que há dias, em que aquele dia calha num dia que o não é. Os feriados, as férias, ou os dias de greve dos barcos.
Percebi isso porque fiquei com pele de galinha no braço... Foi o medo da ausência.
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