Coisas do ler e do escrever
Aprendi a gostar de ler quando comecei a juntar as letras umas às outras. Com o tempo fui descobrindo o que hoje sei, de modo cientifico, e na altura apenas por intuição: que podemos tirar às palavras o seu referencial e interpretá-las segundo muitas formas, dando-lhe outros significados, os significados das nossas carências, dos nossos desejos.
Cedo descobri também a escrita. E cedo descobri também, a censura na pessoa da minha mãe que não percebeu o meu talento precoce em imaginar romances de amor. Os meus primeiros contos, escritos em cadernos magrinhos, foram cruelmente despedaçados e deitados fora para o balde do lixo com a ameaça de que se eu voltasse a entreter-me com parvoíces em vez dos assuntos da escola…
Fiquei profundamente traumatizada mas na altura não conhecia Freud como conheço hoje porque se não ele ter-me-ia acalmado dizendo que estava a passar por um sério complexo de Édipo e que nunca mais teria cura. Precavi-me, deixando de ter coisas escritas e arranjei um ficheiro num dos cantos da minha mente, mais propriamente na zona occipital que dá para o jardim, onde dava azo às minhas imaginações, escondendo-as algures por ali, de modo a ninguém descobri-las, nem quando eu dormia.
Mas a minha grande fase da leitura aconteceu por volta dos vinte anos, prolongando-se pelos quinze anos seguintes. Nunca lendo mais do que um livro de cada vez a fim de não entupir o gargalo da ampulheta do meu entendimento, fui fazendo dos autores os meus amigos. Cada livro era uma conversa. Quando a conversa acabava, mais dia menos dia, voltávamos à mesma conversa. E de todas as vezes que eu e certo autor conversávamos sobre o assunto já conversado, alguns aspectos nunca antes vistos, emergiam. E eu perguntava-lhe: porque não disseste isto da outra vez? Ao qual ele me respondia: foste tu que não ouviste.
Cedo descobri também a escrita. E cedo descobri também, a censura na pessoa da minha mãe que não percebeu o meu talento precoce em imaginar romances de amor. Os meus primeiros contos, escritos em cadernos magrinhos, foram cruelmente despedaçados e deitados fora para o balde do lixo com a ameaça de que se eu voltasse a entreter-me com parvoíces em vez dos assuntos da escola…
Fiquei profundamente traumatizada mas na altura não conhecia Freud como conheço hoje porque se não ele ter-me-ia acalmado dizendo que estava a passar por um sério complexo de Édipo e que nunca mais teria cura. Precavi-me, deixando de ter coisas escritas e arranjei um ficheiro num dos cantos da minha mente, mais propriamente na zona occipital que dá para o jardim, onde dava azo às minhas imaginações, escondendo-as algures por ali, de modo a ninguém descobri-las, nem quando eu dormia.
Mas a minha grande fase da leitura aconteceu por volta dos vinte anos, prolongando-se pelos quinze anos seguintes. Nunca lendo mais do que um livro de cada vez a fim de não entupir o gargalo da ampulheta do meu entendimento, fui fazendo dos autores os meus amigos. Cada livro era uma conversa. Quando a conversa acabava, mais dia menos dia, voltávamos à mesma conversa. E de todas as vezes que eu e certo autor conversávamos sobre o assunto já conversado, alguns aspectos nunca antes vistos, emergiam. E eu perguntava-lhe: porque não disseste isto da outra vez? Ao qual ele me respondia: foste tu que não ouviste.
da Leonor
20 Comments:
Obrigado Cara Leonor. Agora percebo porque é que a vida é um livro. É que cada dia no mesmo lugar, dá cores diferentes ao deus dará! Afinal, são as perguntas que não se fazem...
Querida Leonor!
Está magnífico este teu texto!
O estilo literário é do melhor que tens conseguido, sempre com o humor a ressaltar.
Gostei muito!
(eu continuo com problemas com a porcaria do novo Blogger: já hoje postei mas apaguei de novo pois não ficou bem! Maldita a hora em que resolvi fazer o upgrade!)
Beijinhos
Desde pequeno que me vejo a ler.Após ter lido umas boas, mas mesmo muito boas centenas de livros, continuo a achar um milagre o que se consegue fazer com pouco mais que vinte pequenas letras..Este texto é um pequeno exemplo.
aTÉ Breve
SE DEUS QUISER
PARA ANONIMO
... e assim é!
leonoreta
Minha querida amiga!
Recomendo-te que não mudes já para o New Blogger.
Vais ter de o fazer mas retarda o mais que puderes.
Além de defeitos com que ele fica, está constantemente com avarias.
Uma coisa dantesca!
Beijinhos
Mediante um relato destes em que a interpretação ultrapassa as mazelas da frágil adolescência, e que nos ensinou a ser adultos pensantes defendendo a nossa opinião, mesmo que ela esteja certa apenas para nós... O nosso "disco rígido" guardará para sempre os ficheiros que fomos carregando. Gostei muito
Um beijo meu, bom fim de semana
Pois...
Tantas vezes isso me aconteceu também...
Este teu texto é mais uma lição a reter :-)
Se te ler outra vez haverá coisas que não me tenhas dito?
:-)
Beijinhos
O prazer da escrita e o prazer da leitura andam geralmente associados. Nos teus posts, vê-se que os combinaste de uma forma magistral. Continua a ter cuidado com a ampulheta que referes. Queremos muitos mais posts.
Beijinhos
Por via das dúvidas, para que o post não se perca vai assim identificado.
Querida Leonor!
Estou muito triste!
Se não resolver os graves problemas que tenho no blog (e acho que não), no dia 7, 4ª feira, quando fará 2 anos de existência o "Eu sou louco!", lançarei o "Eu sou louco!(II)".
Se não houver complicações a abrir um novo pois, neste momento, acho que tudo pode acontecer.
Se houver, terei de procurar um novo hospedeiro para o blog.
Beijinhos
Gostei muito do teu texto =)
eu também sempre gostei muito de ler, arranjo sempre tempo para um livro e assim que o começo envolvo-me de tal forma na hirtória que já não vou a lado nenhum sem essa companhia...=)
e escrever então nem se fala, sabe tão bem entrar neste refugio de escrever.
Um beijinho
Também eu trato quem leio, observo ou escuto, por tu.
Para além de te ler e tratar por tu, confesso que de ti também tiro umas lições para melhorar a minha escrita, ou expressão escrita, não sei qual o termo adequado aplicar. Nunca, mas nunca, a escrita me seduziu. Por vezes faço esforços dantescos para a tornar clara e eficiente. Ao ler-te estou a aprender.
Começo a percepcionar que não me dando “marca”, escrever ajuda-me na fluidez da minha oralidade. Se calhar ainda descobrirei outras coisas.
Obrigado Leonor, um abraço!
Olá Leonor
Os livros para mim nunca passaram de veículos para eu saber o que queria, o livro em si não representa muito, é um ser estático com o qual não tenho diálogo, pois o que ele diz nunca é mais do que foi escrito. Li e leio montes de livros, sempre mais pelo conteúdo, a informação de que necessito, para a partir dela procurar por mim mesmo chegar a alguma conclusão que me satisfaça. Pode parecer presunção, mas não é, talvez uma deformação provocada pela curiosidade do saber.
Quanto ao tamanho do texto, é o mínimo que se pode escrever sobre o assunto. Procuro sempre tornar os assuntos o mais sintético possível, mas por vezes há coisas que precisam mesmo ser ditas ou o texto pode ficar sem sentido.
Um beijo. Augusto
Cara Leonor
Ler é um prazer que apareceu com o homem. Creio que os primeiros textos eram pictóricos e remontam aos tempos pré-históricos em que o homem relatava nas paredes das cavernas como tinham sido as suas caçadas e o tipo de animais caçados. Mais tarde essas pinturas passaram a apresentar a figura humana e, ainda mais tarde, escrevia-se no papiro, nas barrinhas de argila, no pergaminho sempre com o objectivo de transmitir conhecimentos aos outros. O livro é , de facto, um veículo para o conhecimento e lido o mesmo há que aplicá-lo, transmiti-lo...
Penso que é isso que tu fazes. De uma forma exímia!
Beijinhos
Minha querida leonor
Os livros___________grandes amigos-companheiros de todas as horas
Cada livro que leio (ao mesmo tempo posso 4/5 e não me perco) é um mundo que "visito" e por vezes faço longas estadias
Os meus dias não teriam sentido sem livros, desde sempre que me vejo rodeada desses amigos
Parabéns pelo teu texto_________como sempre excelente!
Beijinhos com muito carinho
Bsemana
Verdade!! Gostei de te ler. Beijos.
também adoro ler, mas não tenho tempo para ler tanto como gostaria... (a culpa também é um bocadinho - ou bocadão - do computador...)
Por isso não releio livros.
Mas às vezes revejo filmes e é verdade é que entendo coisas que não tinha entendido antes.
Ainda em relação aos livros, tenho uma amiga só depois de ler cada livro 2 vezes é que o considera lido!
Olá, Leonor!
A interpretação da mensagem será sempre um processo de aprofundamento constante.
Nada é definitivo, há sempre algo mais a extrair.
Bjs
Querida Leonor!
Obrigado por teres aparecido no dia do 2º aniversário da minha casinha literária.
Mas...tu já és da casa, também!
E eu também já sou um pouco desta, não é?
O tempo passa...mas viva o futuro!
(mesmo com o Blogger a chatear...ah ah ah)
Beijinhos e um xi-coração muito especial, minha querida amiguinha
olá olá
sabes que nunca é tarde para ver transformada a tua bela imaginação num belo livro que nos iria certamente deliciar a todos
Beijocas
adorei ler esta história que tem muito de verdadeiro e imediatamente fui transportado para uma música de Fernanda Abreu chamada 2 Namorados do álbum Na Paz e de repente dei comigo a ouvi-la porque foi o que me apetece fazer depois de ler as tuas palavras
beijocas
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