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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Friday, February 02, 2007

Coisas do ler e do escrever

Aprendi a gostar de ler quando comecei a juntar as letras umas às outras. Com o tempo fui descobrindo o que hoje sei, de modo cientifico, e na altura apenas por intuição: que podemos tirar às palavras o seu referencial e interpretá-las segundo muitas formas, dando-lhe outros significados, os significados das nossas carências, dos nossos desejos.

Cedo descobri também a escrita. E cedo descobri também, a censura na pessoa da minha mãe que não percebeu o meu talento precoce em imaginar romances de amor. Os meus primeiros contos, escritos em cadernos magrinhos, foram cruelmente despedaçados e deitados fora para o balde do lixo com a ameaça de que se eu voltasse a entreter-me com parvoíces em vez dos assuntos da escola…

Fiquei profundamente traumatizada mas na altura não conhecia Freud como conheço hoje porque se não ele ter-me-ia acalmado dizendo que estava a passar por um sério complexo de Édipo e que nunca mais teria cura. Precavi-me, deixando de ter coisas escritas e arranjei um ficheiro num dos cantos da minha mente, mais propriamente na zona occipital que dá para o jardim, onde dava azo às minhas imaginações, escondendo-as algures por ali, de modo a ninguém descobri-las, nem quando eu dormia.

Mas a minha grande fase da leitura aconteceu por volta dos vinte anos, prolongando-se pelos quinze anos seguintes. Nunca lendo mais do que um livro de cada vez a fim de não entupir o gargalo da ampulheta do meu entendimento, fui fazendo dos autores os meus amigos. Cada livro era uma conversa. Quando a conversa acabava, mais dia menos dia, voltávamos à mesma conversa. E de todas as vezes que eu e certo autor conversávamos sobre o assunto já conversado, alguns aspectos nunca antes vistos, emergiam. E eu perguntava-lhe: porque não disseste isto da outra vez? Ao qual ele me respondia: foste tu que não ouviste.
da Leonor

20 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Obrigado Cara Leonor. Agora percebo porque é que a vida é um livro. É que cada dia no mesmo lugar, dá cores diferentes ao deus dará! Afinal, são as perguntas que não se fazem...

9:48 AM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Está magnífico este teu texto!
O estilo literário é do melhor que tens conseguido, sempre com o humor a ressaltar.
Gostei muito!
(eu continuo com problemas com a porcaria do novo Blogger: já hoje postei mas apaguei de novo pois não ficou bem! Maldita a hora em que resolvi fazer o upgrade!)

Beijinhos

10:58 AM  
Blogger Cusco said...

Desde pequeno que me vejo a ler.Após ter lido umas boas, mas mesmo muito boas centenas de livros, continuo a achar um milagre o que se consegue fazer com pouco mais que vinte pequenas letras..Este texto é um pequeno exemplo.

aTÉ Breve
SE DEUS QUISER

11:50 AM  
Blogger Leonor said...

PARA ANONIMO

... e assim é!


leonoreta

12:48 PM  
Blogger António said...

Minha querida amiga!
Recomendo-te que não mudes já para o New Blogger.
Vais ter de o fazer mas retarda o mais que puderes.
Além de defeitos com que ele fica, está constantemente com avarias.
Uma coisa dantesca!

Beijinhos

2:17 PM  
Anonymous Anonymous said...

Mediante um relato destes em que a interpretação ultrapassa as mazelas da frágil adolescência, e que nos ensinou a ser adultos pensantes defendendo a nossa opinião, mesmo que ela esteja certa apenas para nós... O nosso "disco rígido" guardará para sempre os ficheiros que fomos carregando. Gostei muito

Um beijo meu, bom fim de semana

7:36 PM  
Anonymous Anonymous said...

Pois...
Tantas vezes isso me aconteceu também...
Este teu texto é mais uma lição a reter :-)
Se te ler outra vez haverá coisas que não me tenhas dito?
:-)


Beijinhos

10:16 PM  
Anonymous Anonymous said...

O prazer da escrita e o prazer da leitura andam geralmente associados. Nos teus posts, vê-se que os combinaste de uma forma magistral. Continua a ter cuidado com a ampulheta que referes. Queremos muitos mais posts.
Beijinhos

Por via das dúvidas, para que o post não se perca vai assim identificado.

11:17 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!

Estou muito triste!
Se não resolver os graves problemas que tenho no blog (e acho que não), no dia 7, 4ª feira, quando fará 2 anos de existência o "Eu sou louco!", lançarei o "Eu sou louco!(II)".
Se não houver complicações a abrir um novo pois, neste momento, acho que tudo pode acontecer.
Se houver, terei de procurar um novo hospedeiro para o blog.

Beijinhos

10:15 AM  
Blogger happiness...moreorless said...

Gostei muito do teu texto =)
eu também sempre gostei muito de ler, arranjo sempre tempo para um livro e assim que o começo envolvo-me de tal forma na hirtória que já não vou a lado nenhum sem essa companhia...=)

e escrever então nem se fala, sabe tão bem entrar neste refugio de escrever.

Um beijinho

12:28 PM  
Anonymous Anonymous said...

Também eu trato quem leio, observo ou escuto, por tu.
Para além de te ler e tratar por tu, confesso que de ti também tiro umas lições para melhorar a minha escrita, ou expressão escrita, não sei qual o termo adequado aplicar. Nunca, mas nunca, a escrita me seduziu. Por vezes faço esforços dantescos para a tornar clara e eficiente. Ao ler-te estou a aprender.
Começo a percepcionar que não me dando “marca”, escrever ajuda-me na fluidez da minha oralidade. Se calhar ainda descobrirei outras coisas.
Obrigado Leonor, um abraço!

8:41 PM  
Blogger augustoM said...

Olá Leonor

Os livros para mim nunca passaram de veículos para eu saber o que queria, o livro em si não representa muito, é um ser estático com o qual não tenho diálogo, pois o que ele diz nunca é mais do que foi escrito. Li e leio montes de livros, sempre mais pelo conteúdo, a informação de que necessito, para a partir dela procurar por mim mesmo chegar a alguma conclusão que me satisfaça. Pode parecer presunção, mas não é, talvez uma deformação provocada pela curiosidade do saber.
Quanto ao tamanho do texto, é o mínimo que se pode escrever sobre o assunto. Procuro sempre tornar os assuntos o mais sintético possível, mas por vezes há coisas que precisam mesmo ser ditas ou o texto pode ficar sem sentido.
Um beijo. Augusto

9:41 PM  
Blogger Isamar said...

Cara Leonor

Ler é um prazer que apareceu com o homem. Creio que os primeiros textos eram pictóricos e remontam aos tempos pré-históricos em que o homem relatava nas paredes das cavernas como tinham sido as suas caçadas e o tipo de animais caçados. Mais tarde essas pinturas passaram a apresentar a figura humana e, ainda mais tarde, escrevia-se no papiro, nas barrinhas de argila, no pergaminho sempre com o objectivo de transmitir conhecimentos aos outros. O livro é , de facto, um veículo para o conhecimento e lido o mesmo há que aplicá-lo, transmiti-lo...
Penso que é isso que tu fazes. De uma forma exímia!
Beijinhos

7:06 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Minha querida leonor

Os livros___________grandes amigos-companheiros de todas as horas

Cada livro que leio (ao mesmo tempo posso 4/5 e não me perco) é um mundo que "visito" e por vezes faço longas estadias

Os meus dias não teriam sentido sem livros, desde sempre que me vejo rodeada desses amigos

Parabéns pelo teu texto_________como sempre excelente!

Beijinhos com muito carinho
Bsemana

7:17 PM  
Blogger Maria Carvalho said...

Verdade!! Gostei de te ler. Beijos.

9:20 PM  
Blogger saltapocinhas said...

também adoro ler, mas não tenho tempo para ler tanto como gostaria... (a culpa também é um bocadinho - ou bocadão - do computador...)
Por isso não releio livros.
Mas às vezes revejo filmes e é verdade é que entendo coisas que não tinha entendido antes.
Ainda em relação aos livros, tenho uma amiga só depois de ler cada livro 2 vezes é que o considera lido!

9:22 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá, Leonor!
A interpretação da mensagem será sempre um processo de aprofundamento constante.
Nada é definitivo, há sempre algo mais a extrair.

Bjs

12:12 AM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Obrigado por teres aparecido no dia do 2º aniversário da minha casinha literária.
Mas...tu já és da casa, também!
E eu também já sou um pouco desta, não é?
O tempo passa...mas viva o futuro!
(mesmo com o Blogger a chatear...ah ah ah)

Beijinhos e um xi-coração muito especial, minha querida amiguinha

3:54 PM  
Blogger Mocho Falante said...

olá olá

sabes que nunca é tarde para ver transformada a tua bela imaginação num belo livro que nos iria certamente deliciar a todos

Beijocas

7:45 PM  
Blogger Mocho Falante said...

adorei ler esta história que tem muito de verdadeiro e imediatamente fui transportado para uma música de Fernanda Abreu chamada 2 Namorados do álbum Na Paz e de repente dei comigo a ouvi-la porque foi o que me apetece fazer depois de ler as tuas palavras

beijocas

8:41 PM  

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