"Ele nunca errou. Ele nunca voou"
Leonor lê as primeiras palavras do romance que Ana começou a escrever.
“O maior desgosto da vida de Lucinha foi ouvir aquelas palavras do seu companheiro de vinte e poucos anos de relação: Não sou teu. Não te pertenço. Ninguém é de ninguém.
A partir dai, Lucinha sentiu que perdera o rumo e que a sua vida dava uma volta nunca prevista”.
- Hummm… todo o texto tem um texto por trás… Steinbeck? – perguntou Leonor
- Que presunção a minha imitar Steinbeck. E daí não sei.
- Claro. O autor raramente reconhece as suas influências. em As Vinhas da Ira há uma frase formidável que será capaz de resumir todo o romance.
- Qual?
- “Ele nunca errou. Ele nunca voou”
- Pois. Se ele tivesse voado teria errado.
- Axiomático. É o que geralmente acontece a quem tem a audácia de voar. O erro é mais que certo.
“O maior desgosto da vida de Lucinha foi ouvir aquelas palavras do seu companheiro de vinte e poucos anos de relação: Não sou teu. Não te pertenço. Ninguém é de ninguém.
A partir dai, Lucinha sentiu que perdera o rumo e que a sua vida dava uma volta nunca prevista”.
- Hummm… todo o texto tem um texto por trás… Steinbeck? – perguntou Leonor
- Que presunção a minha imitar Steinbeck. E daí não sei.
- Claro. O autor raramente reconhece as suas influências. em As Vinhas da Ira há uma frase formidável que será capaz de resumir todo o romance.
- Qual?
- “Ele nunca errou. Ele nunca voou”
- Pois. Se ele tivesse voado teria errado.
- Axiomático. É o que geralmente acontece a quem tem a audácia de voar. O erro é mais que certo.
-----------------------------------------------------------------------
Devido aos mapas mentais, esquemas conceptuais – schematta, como dizem os italianos - que formamos na nossa cabeça à medida que vamos conhecendo a realidade, qualquer palavra nos transporta para outra ou outras realidades.
O “não sou teu”, lembra-me também que a gramática russa não tem pronomes pessoais, isto é, se eles têm um lápis, não dizem, “este lápis é meu”. Dizem: “este lápis está perto de mim”.
Ou seja, o lápis pode ser de quem for que isso não interessa porque se estiver perto de mim, eu uso-o independentemente do facto de ele não me pertencer.
Será que foi por esta compartilha, indiciada por uma cultura gramatical, que nasceu o comunismo naquele sítio?
Estou só a especular…
Da Leonor
17 Comments:
Querida Leonor!
Surpreendeste-me com este texto em que, em vez da habitual história condimentada com o teu habitual humor, fazes uma reflexão (embora evasiva) sobre a posse de alguém ou alguma coisa por alguém.
E vais muito mais longe, sem dizeres tudo...antes dizendo muito pouco.
O resto é para ler nas entrelinhas.
Uma boa introspecção!
Beijinhos
Querida Leonor
Havia a necessidade de que ele fosse dela, de onde se depreende que ela acreditava que era dele... pois, é bom amar e dar-mo-nos aos outros, mas quando os sentimentos esfriam...
Um beijo
Daniel
Olá Leonoretta,
Que todo o texto tem um texto por trás e que este é uma vida, isso sem duvida.
Que a gramática russa se aplicará aos lápis na questão do uso pela proximidade, tudo bem. Não me parece, que nos costumes se aplique às relações pessoais: são monogamicos e tanto quanto é dado ver, vivem dentro desse conceito - de uma maneira geral e salvaguardando as escapadelas que sempre existem.
Curiosa (será?) é a relação que se estabelece entre os três factos rssss: a origem dos textos, o conteudo dos textos e a necessidade de encontrar algures, em qq ponto do universo - até pode ser na russia - algo que transforme em coerencia uma citação que transborda dor. Ou, a nossa necessidade inadiavel de encontrar justificações para tudo, como se elas existissem!
Um bom fim de semana e
Beijinhos
Ana Joana
PARA ANA JOANA
ah! ana joana!
já te disse que sou uma dreamer? e uma believer?já tinhas reparado que o era?
sou..........
serei sempre.
por isso acredito que há uma justificação para tudo. se não a encontro... não é porque ela nao existe... é porque eu nao consigo encontrá-la.
beijinhos da leonoreta
Querida Leonor!
Só te quero agradecer a visita e comentário.
Vou ter de fazer uma alteração ao texto.
Já!
Esqueci-me das rabanadas!!!!
Beijinhos
Leonor um olá meu!
ler-te é sempre um grande prazer e acabo por sair sempre enriquecida,
conceitos de cada um,
ninguém é de ninguém, a posse faz mal muitas vezes, cada um sabe de si, é a vantagem da liberdade
abraço-te carinhosamente, pois faz tempo que não marcava por aqui a minha passagem, mas andei e ando ainda um pouco ausente deste mundo da blosfera, mas sempre consigo um tempinho para te ler
um beijo, menina linda e virei sempre
lena
Quem não voa não erra. Óbvio. Bom Natal e bom Ano Novo para ti. Bjs.
Que texto tão interessante! Adorei mesmo o teu texto :)
Muitos beijos :)
(talento... não diria, gosto de fotografar, às vezes lá sai algo mais ou menos...)
Sabe bem chegar aqui para ler estes belos posts carregados de originalidade...
beijocas
Este texto não é teu... é partilhado. E ainda bem que asim é.
Uma boa semana.
Zé
"Este lápis é meu" à maneira russa "este lápis está ao pé de mim". Descodificando o russo. Tudo o que está ao alcance da minha mão, posso surripar, logo tudo é meu.
Leonor, Um Feliz Natal e que o próximo Ano Novo, seja um ano de realização os teus sonhos.
Um beijo. Augusto
Mas... Muito bem! :-)))
Muito inspirada, sim senhora!
Aqui estamos, num registo diferente, com um raciocínio interessante, uma originalidade que se não fica por ela, a nú e só, mas que sabe começar e pender no ar... Para que a apanhemos.
Apetecía-me ser mazinha e dizer que há por aí muito russo, para quem o que está perto deles já é deles, e vão logo tentando deitar a mão (lololol), mas longe de mim estragar o ambience natalício! ;-)
Vim deixar-te um abraço, e o votos de uma Vida Feliz, Natal e Passagem de Ano incluídos.
Li e parei para reflectir. Ninguém é de ninguém. Ninguém tem nada. Seria bom que estivéssemos perto de todos e de tudo de que gostamos. Seríamos bem mais felizes se assim pudéssemos viver.
Um Santo e Feliz Natal.
Beijos
qual marx qual quê!
A essencia do comunismo tem de ser mesmo essa! Se eles não podem dizer "meu" não pode haver propriedade privada, não é??
Um Natal cheio de Luz,
Paz e Amor Universal,
e que possamos sentir
as bênçãos e a Luz de Cristo
em todos os momentos de nossa vida,
e assim construirmos um mundo melhor.
Leonor: os meus votos sinceros de um Feliz Natal com muita saúde e alegria.
Beijinhos.
:)
Não me lembro como vim aqui parar; depois de só ler este texto torna-se impossivel resistir a um comentário:)
Uff sem comentários, o melhor é ler tudo e depois comentar, é...
Mais um texto formidável! é obvio que quem não voa, não erra. Os erros fazem parte da Vida, é com eles que aprendemos a viver melhor. Devemos voar sem medo e aceitar os erros para a posterior maturidade.
Post a Comment
<< Home