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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Saturday, November 25, 2006

O Cabo das Tormentas

Quinta feira à noite o telejornal anuncia alerta laranja para o dia seguinte. Por outras palavras: vinha ai temporal do quase grosso.

Ana ouve a notícia e emudece. Não sabe lidar com as forças da natureza. Quando era pequena, um ciclone quase que a levou, nos seus oito anos pequeníssimos, trinta quilos de ossos e só cabelo, como a levou a Dorothy em o Feiticeiro de OZ. Leonor não dorme com o barulho da chuva que bate no tejadilho dos carros estacionados debaixo da janela do seu quarto.

Toca o despertador. A chuva e o vento ainda se ouvem zangados na rua. O rio está furioso. O cacilheiro parece de papel no meio daquelas ondas adamastoras. Ana olha as que vão subindo até à janela do primeiro andar. O barco inclina-se quatro vezes. Ela não aguenta os balanços que ameaçam acabar com a vida dela naquele instante. Fecha os olhos. Para Leonor a viagem é longa. Tem a certeza que não chegarão a atracar. Esquece-se de rezar. Entrega-se ao seja o que deus quiser.

Afinal o cabo das tormentas é ali no Tejo. Camões ter-se-ia enganado?
da Leonor

26 Comments:

Blogger António said...

Querida Leonor/Ana!
Este teu texto, curto para o habitual, parece-me muito metafórico.
Será que me enganei?
Ahh...gostei muito, como de costume!

Beijinhos

3:53 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor/Ana!
Parece que me enganei!
Que chatice!
Pareceu-me metafórico.

Obrigado pelos teus comentários.
"Eroticidades"?
É um neologismo por ti acabado de criar...eh eh. Eu diria "erotismos".
Mas nota que não sou mestre de Português...

Beijinhos

5:36 PM  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Leonor
O Cabo das Tormentas fica sempre onde nós perdemos o norte, rumando a sul, enfrentando as intempéries.
Um beijo
Daniel

7:20 PM  
Blogger APC said...

Dúplice e duplamente intenso.
A criança, quem a protege senão tu? E sobreviveste tão bem, que, qual Camões, trouxeste até nós a história dos perigos enfrentados para chegar ao outro lado! :-)
A ti nenhum vento leva e só bons ventos trazem! Gostei muito.
Também eu me inspirei com a tempestade.
Um abraço e bom fim-de-semana invernoso.

8:30 PM  
Blogger amigona avó e a neta princesa said...

Passei para deixar saudades...

7:45 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Minha querida Leonor

É bem verdade o que o Daniel diz - "O Cabo das Tormentas" é onde nós estamos!

Mas as tuas histórias têm sempre aquele "carisma" de
encanto[ar]

Tu e a Ana chegaram bem - isso é que importa. Na sexta-feira fiquei com o jardim quase destruido por completo, pouco restou. Aqui em terra passei o "O Cabo das Tormentas":)))

Beijinhos com muito carinho
BoaSemana

11:10 PM  
Anonymous Anonymous said...

Assim seja. Nada como essa entrega i-racional, de quem deixa o destino nas mãos do criador. Se o temporal se faz senhor da alma, Ele que se entenda com os mergulhos feitos de pele de galinha, arrepios e desafios. Deve ser dessa febre, que de faz o sentir, dos combates de olhos fechados e peito aberto...

(hihi...nos sonhos de pequenice, os dias de temporal (abençoados!) eram sempre a promessa de um feriado, molhado mas consolado...)

Mas não insisto! Levo duas semanas a falar do tempo. Um destes dias, chamam-me meteorologo, e pacifique-se, que ainda não estamos em tempo de concessões à palavra escrita (e neste caso falada) por mera conveniência de agenda.

P´ra semana há mais...( nem que seja ...invernia).

11:49 PM  
Blogger MT said...

Cada um de nós carrega o seu próprio "Cabo das Tormentas", sempre pronto para surgir quando menos esperamos.

Beijinhos

5:44 AM  
Blogger Zé-Viajante said...

Ao ler este texto passa-se do Cabo da Tormentas para o Jardim do Eden.
Boa semana, Leonor

10:09 AM  
Blogger augustoM said...

Camões não se enganou. O Cabo das Tormentas existe onde o nosso medo existe.
Um beijo. Augusto

1:28 PM  
Anonymous Anonymous said...

Em alturas de aflição todos se refugiam no "seja o que deus quiser"
Já fiz viagens dessas no cacilheiro e confesso que não gostei, mas não me deu para as divindidades. Preguei mais ao capitão do barco. Afinal era ele quem tinha que o levar a bom porto.
Beijinhos

2:32 PM  
Blogger Maria Carvalho said...

É. Uma chatice a tempestade! Beijos.

3:17 PM  
Blogger Mocho Falante said...

Pois é pois é...às vezes até parece que o Tio Luiz Vaz não era grande coisa em geografia

beijocas

2:11 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá Leonoretta,

O que nos vale é que depois da tempestade vem sempre a bonança. E ela cá está, solarenga e tépida. É sábia a natureza que nos dá os contrastes para que valorizemos cada parte da vida. Às vezes de forma mais agreste para que não pensemos que mandamos alguma coisa rssssss

Beijinhos e optima semana, de preferencia mais sequinha

Ana Joana

5:03 PM  
Blogger Leonor said...

PARA ANA JOANA

já agora acrescento ao teu comentário... a bonança e o arco íris, a célebre alinaça de que não é agora que o céu nos cairá em cima das nossas cabeças. mas acho que isto é dos gauleses, rsss

beijinhos da leonoreta

8:47 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Obrigado pelo teu comentário às partes XX e XXI mas, muito mais do que isso, pelo facto de seres das poucas pessoas que tem acompanhado sempre o meu trabalho (porque de um verdadeiro trabalho se trata).
Eu sei que te atrasas quasi sempre um bocadinho, como outras pessoas, mas obviamente que tu e essas outras tem mais que fazer.
E as três partes finais (onde ainda muito irá acontecer) vão sair de rajada, como leste num desabafo que não pude deixar de fazer.

Beijinhos

9:58 PM  
Blogger Barão da Tróia II said...

A televisão também faz muitas tormentas em copos de água, boa semana.

8:47 AM  
Anonymous Anonymous said...

Camões, se calhar enganou-se, ou não, mas nesse local onde se faz nos nossos dias a travessia do tejo, já teve dessas ondas grandes(1755), que fala e que grande destruição fizeram na nossa cidade.

JMC

4:12 PM  
Blogger Aldina Duarte said...

Que aventura honrosa! Acho verdadeiramente louvável atravessar o Tejo num cacilheiro sob o grito das tempestades! Contudo, não me lembro de ter ouvido falar de nenhum acidente trágico nas condições que refere?

O texto é veraddeiramente envolvente!

Até sempre

4:18 PM  
Anonymous Anonymous said...

Desculpa esta intromissão.
No meu blog, tenho uns chapelinhos muito bonitos, nos quais podes estar interessada.
Vai lá ver e fala comigo!

8:22 PM  
Blogger Leonor said...

PARA JMC

é verdade JMC, o terramoto. sempre iminente. nem sequer consigo imaginar o sofrimento daquela gente.

abraço da leonoreta

8:42 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Venho aqui agradecer a tua visita e dizer que também tinha o hábito de, quando lia um livro, ir espreitar o final antes de lá chegar.
Perdi-o quando comecei a ler a colecção completa da Aghata Christie.
(aqui, não li foi a colecção toda...eh eh)

Beijinhos

10:42 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor

Passei para te deixar

Um:))

Beijinhos com muito carinho
BomFeriado

2:58 AM  
Anonymous Anonymous said...

Quero deixar um protesto!
As notícias do fim de semana saem à sexta quando há ponte ou feriado!
Ora hoje é Romingo (com os R's de uma sede de semana inteira)!
E mesmo, situando-se o plano ( e fonte neste caso) do prazer, na testa(ou ainda mais por isso), faltou o texto hoje às 10 da manhã. Para a pròxima, poupe-me ao delirium tremens.
(Vou prá metadona! Tenho imensas cronicas mundanas para ler...)
E em último recurso, sempre aparecem umas loiras a falar do tempo...

5:35 PM  
Blogger José Manuel Dias said...

O mundo varia consoante a pessoa que o vê...Abraço

7:15 PM  
Blogger saltapocinhas said...

Olha que eu bem me lembrei de ti nesses dias tempestuosos!
Só andei de barco durante 1 ano lectivo, mas sei o que custa!!

2:46 PM  

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