O Cabo das Tormentas
Quinta feira à noite o telejornal anuncia alerta laranja para o dia seguinte. Por outras palavras: vinha ai temporal do quase grosso.
Ana ouve a notícia e emudece. Não sabe lidar com as forças da natureza. Quando era pequena, um ciclone quase que a levou, nos seus oito anos pequeníssimos, trinta quilos de ossos e só cabelo, como a levou a Dorothy em o Feiticeiro de OZ. Leonor não dorme com o barulho da chuva que bate no tejadilho dos carros estacionados debaixo da janela do seu quarto.
Toca o despertador. A chuva e o vento ainda se ouvem zangados na rua. O rio está furioso. O cacilheiro parece de papel no meio daquelas ondas adamastoras. Ana olha as que vão subindo até à janela do primeiro andar. O barco inclina-se quatro vezes. Ela não aguenta os balanços que ameaçam acabar com a vida dela naquele instante. Fecha os olhos. Para Leonor a viagem é longa. Tem a certeza que não chegarão a atracar. Esquece-se de rezar. Entrega-se ao seja o que deus quiser.
Ana ouve a notícia e emudece. Não sabe lidar com as forças da natureza. Quando era pequena, um ciclone quase que a levou, nos seus oito anos pequeníssimos, trinta quilos de ossos e só cabelo, como a levou a Dorothy em o Feiticeiro de OZ. Leonor não dorme com o barulho da chuva que bate no tejadilho dos carros estacionados debaixo da janela do seu quarto.
Toca o despertador. A chuva e o vento ainda se ouvem zangados na rua. O rio está furioso. O cacilheiro parece de papel no meio daquelas ondas adamastoras. Ana olha as que vão subindo até à janela do primeiro andar. O barco inclina-se quatro vezes. Ela não aguenta os balanços que ameaçam acabar com a vida dela naquele instante. Fecha os olhos. Para Leonor a viagem é longa. Tem a certeza que não chegarão a atracar. Esquece-se de rezar. Entrega-se ao seja o que deus quiser.
Afinal o cabo das tormentas é ali no Tejo. Camões ter-se-ia enganado?
da Leonor
26 Comments:
Querida Leonor/Ana!
Este teu texto, curto para o habitual, parece-me muito metafórico.
Será que me enganei?
Ahh...gostei muito, como de costume!
Beijinhos
Querida Leonor/Ana!
Parece que me enganei!
Que chatice!
Pareceu-me metafórico.
Obrigado pelos teus comentários.
"Eroticidades"?
É um neologismo por ti acabado de criar...eh eh. Eu diria "erotismos".
Mas nota que não sou mestre de Português...
Beijinhos
Querida Leonor
O Cabo das Tormentas fica sempre onde nós perdemos o norte, rumando a sul, enfrentando as intempéries.
Um beijo
Daniel
Dúplice e duplamente intenso.
A criança, quem a protege senão tu? E sobreviveste tão bem, que, qual Camões, trouxeste até nós a história dos perigos enfrentados para chegar ao outro lado! :-)
A ti nenhum vento leva e só bons ventos trazem! Gostei muito.
Também eu me inspirei com a tempestade.
Um abraço e bom fim-de-semana invernoso.
Passei para deixar saudades...
Minha querida Leonor
É bem verdade o que o Daniel diz - "O Cabo das Tormentas" é onde nós estamos!
Mas as tuas histórias têm sempre aquele "carisma" de
encanto[ar]
Tu e a Ana chegaram bem - isso é que importa. Na sexta-feira fiquei com o jardim quase destruido por completo, pouco restou. Aqui em terra passei o "O Cabo das Tormentas":)))
Beijinhos com muito carinho
BoaSemana
Assim seja. Nada como essa entrega i-racional, de quem deixa o destino nas mãos do criador. Se o temporal se faz senhor da alma, Ele que se entenda com os mergulhos feitos de pele de galinha, arrepios e desafios. Deve ser dessa febre, que de faz o sentir, dos combates de olhos fechados e peito aberto...
(hihi...nos sonhos de pequenice, os dias de temporal (abençoados!) eram sempre a promessa de um feriado, molhado mas consolado...)
Mas não insisto! Levo duas semanas a falar do tempo. Um destes dias, chamam-me meteorologo, e pacifique-se, que ainda não estamos em tempo de concessões à palavra escrita (e neste caso falada) por mera conveniência de agenda.
P´ra semana há mais...( nem que seja ...invernia).
Cada um de nós carrega o seu próprio "Cabo das Tormentas", sempre pronto para surgir quando menos esperamos.
Beijinhos
Ao ler este texto passa-se do Cabo da Tormentas para o Jardim do Eden.
Boa semana, Leonor
Camões não se enganou. O Cabo das Tormentas existe onde o nosso medo existe.
Um beijo. Augusto
Em alturas de aflição todos se refugiam no "seja o que deus quiser"
Já fiz viagens dessas no cacilheiro e confesso que não gostei, mas não me deu para as divindidades. Preguei mais ao capitão do barco. Afinal era ele quem tinha que o levar a bom porto.
Beijinhos
É. Uma chatice a tempestade! Beijos.
Pois é pois é...às vezes até parece que o Tio Luiz Vaz não era grande coisa em geografia
beijocas
Olá Leonoretta,
O que nos vale é que depois da tempestade vem sempre a bonança. E ela cá está, solarenga e tépida. É sábia a natureza que nos dá os contrastes para que valorizemos cada parte da vida. Às vezes de forma mais agreste para que não pensemos que mandamos alguma coisa rssssss
Beijinhos e optima semana, de preferencia mais sequinha
Ana Joana
PARA ANA JOANA
já agora acrescento ao teu comentário... a bonança e o arco íris, a célebre alinaça de que não é agora que o céu nos cairá em cima das nossas cabeças. mas acho que isto é dos gauleses, rsss
beijinhos da leonoreta
Querida Leonor!
Obrigado pelo teu comentário às partes XX e XXI mas, muito mais do que isso, pelo facto de seres das poucas pessoas que tem acompanhado sempre o meu trabalho (porque de um verdadeiro trabalho se trata).
Eu sei que te atrasas quasi sempre um bocadinho, como outras pessoas, mas obviamente que tu e essas outras tem mais que fazer.
E as três partes finais (onde ainda muito irá acontecer) vão sair de rajada, como leste num desabafo que não pude deixar de fazer.
Beijinhos
A televisão também faz muitas tormentas em copos de água, boa semana.
Camões, se calhar enganou-se, ou não, mas nesse local onde se faz nos nossos dias a travessia do tejo, já teve dessas ondas grandes(1755), que fala e que grande destruição fizeram na nossa cidade.
JMC
Que aventura honrosa! Acho verdadeiramente louvável atravessar o Tejo num cacilheiro sob o grito das tempestades! Contudo, não me lembro de ter ouvido falar de nenhum acidente trágico nas condições que refere?
O texto é veraddeiramente envolvente!
Até sempre
Desculpa esta intromissão.
No meu blog, tenho uns chapelinhos muito bonitos, nos quais podes estar interessada.
Vai lá ver e fala comigo!
PARA JMC
é verdade JMC, o terramoto. sempre iminente. nem sequer consigo imaginar o sofrimento daquela gente.
abraço da leonoreta
Querida Leonor!
Venho aqui agradecer a tua visita e dizer que também tinha o hábito de, quando lia um livro, ir espreitar o final antes de lá chegar.
Perdi-o quando comecei a ler a colecção completa da Aghata Christie.
(aqui, não li foi a colecção toda...eh eh)
Beijinhos
Querida Leonor
Passei para te deixar
Um:))
Beijinhos com muito carinho
BomFeriado
Quero deixar um protesto!
As notícias do fim de semana saem à sexta quando há ponte ou feriado!
Ora hoje é Romingo (com os R's de uma sede de semana inteira)!
E mesmo, situando-se o plano ( e fonte neste caso) do prazer, na testa(ou ainda mais por isso), faltou o texto hoje às 10 da manhã. Para a pròxima, poupe-me ao delirium tremens.
(Vou prá metadona! Tenho imensas cronicas mundanas para ler...)
E em último recurso, sempre aparecem umas loiras a falar do tempo...
O mundo varia consoante a pessoa que o vê...Abraço
Olha que eu bem me lembrei de ti nesses dias tempestuosos!
Só andei de barco durante 1 ano lectivo, mas sei o que custa!!
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