Ex Improviso

Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Saturday, February 11, 2006

Tentamos as vezes que forem precisas.


Ultimamente a minha mesa anda um caos com fichas do corpo humano, de constelações estrelares e de poliminós. Uma ponta do livro do professor aparece timidamente por baixo dos desenhos das teias de aranha desenhadas pelos miúdos do primeiro ano a fim de interiorizarem a letra T.

- Professora, posso desenhar a aranha? – perguntou de manhã o Luís Carlos nos seus precoces e muito decididos seis anos.
- Desenha! E até podes colocar uma mosca morta pendurada num fio se quiseres.

Ainda estou no intervalo do meu almoço mas a última meia hora dedico-a a arrumar os papéis para prosseguir a parte da tarde. Procuro o ofício que informará o agrupamento da visita de estudo que a escola efectuará na semana seguinte.

Num instante toca para a entrada e no último minuto encontro o bendito papel. Os miúdos são pontuais. Geralmente fazem fila à porta esperando a minha ordem para entrar. Porém, desta vez, a Natércia rompe pela porta esbaforida em direcção à minha secretária. De faces vermelhas a arderem de ansiedade conseguiu dizer por entre a respiração ofegante.

- PROFESSORA!!! O Tony mandou um chuto e a bola foi parar lá a cima à árvore e ficou lá presa e o Bruno quis tirar de lá a bola e mandou um chuto na dele e ficou lá também.

A Modesta, em silêncio, entrega-me um napron de papel feito por ela. dividindo a minha atenção entre ela e a colega.

- O quiê? - disse eu tentando imitar a pronúncia do norte, lendo simultaneamente a dedicatória que a Modesta escreveu para mim a um canto do napron: “para a profeçora”. Costumo mandar escrever os erros ortográficos vinte vezes cada um, mas desta vez não me atrevo. Deixo a oportunidade para a semana seguinte. Não quero esmorecer o afecto da minha aluna.

- Bom! Explica lá melhor. Mas com calma. Com calma. – disse eu.

Ela explicou mais uma vez. Ok, rapaziada. No fim da aula vamos lá tirar as bolas, disse eu.
Quando faltavam dez minutos para acabar a aula, peguei em dois dos rapazes. Passei pela despensa e peguei numa esfregona. Andámos na direcção da suposta árvore.

- Professora, as bolas estão ali. – e o Martinho apontou para o alto.

A árvore era enorme. De ramos completamente despidos pelo Inverno segurava magestosamente duas bolas muito perto uma da outra como se fossem dois ninhos… ou dois ovos.

Fiquei a medir a altura da árvore com os olhos. Senti-me ridícula com a esfregona na mão. Desejei uma rabanada de vento, à boa maneira de Mary Poppins, mas nada. Nem um ventinho soprava.

- Pois é, rapazes. Quis ajudar mas não consigo. Estão muito altas.

No dia seguinte logo pela manhã os miúdos entram triunfantes, dizendo-me que já conseguiram tirar as bolas.
- Como é que conseguiram? – perguntei curiosa.
- Com a bola do Carlos do 4º ano.


da Leonor

33 Comments:

Blogger augustoM said...

Compreendo a tua atitude, depois da cambalhota do outro dia, não se pode arriscar. Mas a imaginação Leonor onde ficou? nem a Ana deu um ajudinha? a miudagem superou-te desta vez. 1 a 0 a favor deles.
Deve ser uma delícia perder estes jogos. Um beijo. Augusto

6:44 PM  
Anonymous Anonymous said...

Excelente texto de afectos...sim porque o que descreves são os teus alunos e as tuas relações com eles.Sabes lidar muito bem com eles e eles aceitam-te com todo o carinho revelado nesse grande pormenor “para a profeçora”. Mais tarde haverá a correcção.Lindo..Bom fim de semana

7:25 PM  
Blogger Caracolinha said...

Não há dúvida que quem tem a nobre arte de ensinar também está sempre a aprender !!!!

Adoro a forma como partilhas estas tuas experiências empre tão enriquecedoras.

Uma beijoca encaracolada para ti minha linda :)

7:54 PM  
Blogger Mocho Falante said...

ora se não é com vinagre que se apanham moscas....

Beijocas

9:22 PM  
Blogger mixtu said...

pois a travessias já me roubou a minha deixa... e se a bola do carlos ficasse lá...

9:23 PM  
Anonymous Anonymous said...

Leonor:

chegar aqui é abrir uma porta com a certeza que haverá sobre a mesa um jarro de flores, versos a mancheias - em cada detalhe que a imaginação permite... ou que a memória retém! Versos em prosa, nascidos do amor que tens por tuas crianças.

Grato por esses momentos. Mui grato.

9:23 PM  
Blogger lena said...

Delicias-me com as tuas histórias, onde trocas mimos e afectos com os teus alunos, sempre cheios de amor e carinho

Como retratas bem o teu dia a dia com os pequenos


Tens muita sensibilidade, Leonor, e escreves com muita emoção

Beijinhos muitos para ti


lena

10:43 PM  
Blogger saltapocinhas said...

ó pá atão tu não sabes cas bolas se tiram com outras bolas? tá-se mesmo a ber que não tás habituada a ter arbores no recreio!
eu também não mando corrigir o erro em "professora", tadinhos!

2:02 AM  
Anonymous Anonymous said...

Olá Leonoreta!
Tentamos sempre que queremos mesmo.
Costumo dizer aos "meus meninos" que há uma diferença entre o querer e o desejar: os desejos inserem-se na competencia das fadas madrinhas e o querer é da nossa inteira responsabilidade. Por isso, qdo queremos mesmo,"tentamos as vezes que forem precisas".As fadas madrinhas....... são muito dificeis de encontrar (eu nunca encontrei nenhuma!).
Beijinhos e boa semana
Ana Joana

11:33 AM  
Blogger Leonor said...

para Ana Joana

ola. viva.

nunca tinha pensado nisso. mas é uma perspectiva engraçada com muita lógica.

sendo assim, tenho querer, quando posso e mando eu mesma, e o desejo tantas vezes possibilitado pelos meus anjos (ou fadas.

beijinhos da leonoreta

11:40 AM  
Anonymous Anonymous said...

Pois...a prespectiva de se juntarem mais bolas à bola era por demais engraçada. Restaria a esperança, vã, se calhar, de a árvore se inclinar perante tanto ornamento. Mas as crianças, com a sua perícia futebolistica deram bem conta do recado. Valeu o teu esforço também. Não teres feito drama do erro constante na dedicatória...foi gesto muito bonito.

cual a inportâmcia de un erru ortográficu cuando ele ce aprezenta envoltu en carimho e amor?

Mais tarde, conforme optaste e muito bem, ele será reparado com carinho também.
Fico deliciado com o que leio. Beijos...

2:25 PM  
Blogger Eva Shanti said...

As crianças não desistem! Têm uma ingenuidade que as leva a tentar tudo e as vezes que forem precisas.

De há um ano para cá, mais ou menos, tenho tentado reavivar essa energia que perdi a certa altura da vida e que me impedia de me aventurar em coisas que gostava de fazer mas que achava que não tinha jeito.

As crianças têm grandes lições para nos ensinar, nós é que nos achamos adultos, com um saber de experiência feito e não ligamos à maior parte desses ensinamentos.

Lenoretta, não deixes de partilhar connosco essa tuas histórias deliciosas!

Bjs

P.S. Ai o ventinho da Mary Poppins!

2:58 PM  
Blogger «« said...

eh eh eh, sabes lembro-me quando jogava basket de ver os mais novos pulando que nem loucos para tirar a bola que ficava presa entre o aro e a tabela. Depois de estarem cansados de tanto pularem, aqui o xico esperto ia com uma bola e pimba...eh eh eh

5:32 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor

O encantamento das tuas histórias...

A dedicação da pequenina Modesta - diz tudo da pessoa - da professora que tu és.

Admirável!

(Cuidado, se tiveres que subir à árvore - quando desceres , desce - naturalmente!:))

Beijinhos

Bom resto de domingo

5:45 PM  
Blogger Henrique Santos said...

Era uma vez uma bola,
que voava, voava...
e mais outra bola,
feita macaca de imitação,
que "feitas aves" se penduram,
à arvore mais alta...
Eis que com voz doutoral,
a "fessora" determinou,
calma, eu vou lá e repreendo-as!
Mas as bolas estavam no ninho,
e o ninho era alto...
.........................
E, foi outra bola lá buscá-las,
e só depois duma reprimenda séria:
Afinal uma bola não canta,
não tem penas, não voa,
porque raio há-de tentar,
ser ave na imaginação,
deste autor, para manifestar,
o seu agrado pelo texto delicioso,
que a mágica da Lianor,
com o toque camoniano,
que lhe é peculiar, ofereceu!

Bjinhos Ricky

6:07 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá minha linda :-), passei só para te dizer que continuo a ler-te com carinho, e desejar-te uma semana cheia de realizações.
Beijokitas
Cris

7:28 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá, Leonor!
Uma coisa podemos concluir: bolas é algo que não lhes falta...felizmente!
Belo texto.
Beijinho

8:38 PM  
Blogger António said...

Minha querida Leonor!
Mais uma vez pegaste num (ou dois) factos acontecidos na tua actividade docente de criancinhas e...surge outro belo texto, pleno de ternura e graça.
Como sempre, gostei de te ler.
Conta-nos mais historinhas destas.
Além do mais, fazem-nos relembrar o nosso tempo de meninice.

Beijinhos

11:21 PM  
Blogger Astri* said...

LOOOOLL... epá as crianças realmente nao desistem. Quem lindo mundo era este quando se era pequenino.. Ai que saudades de uma infancia.

:D adorei leonor
uma boa semana para ti

beijo grande ****

1:28 AM  
Blogger Isabel Filipe said...

...rsss...

episódio engraçado...estou a ver-te de esfregona na mão....

boa semana
beijoka

9:58 AM  
Blogger Leonor said...

para a Cris

Cris!
que maravilha ter-te aqui.

conheci logo a Cris no meio de outras Cristinas.

o minha linda é só teu.
as beijokitas são só tuas.


e ainda bem que gosta do que conto.

beijinhos da leonoreta

8:16 PM  
Blogger A .Carlos said...

Olá Leonor,
Que historia deliciosa :))))
E se a bola do menino Carlinhos, lá tivesse ficado também, certamente que haveria outra bola dum menino Zezinho, que iria tira-las de lá...ou então um fisga, também ajudava...
;)))
Bjss
≺ A New Day ≻

12:32 AM  
Blogger António said...

Leonor querida!
Venho aqui só para te agradecer a visita ao meu post com o episódio XIV da fabulosa novela do Zé Viúvo.
ah ah ah

Beijinhos

3:22 PM  
Anonymous Anonymous said...

Ora bolas... Siga a aula profeçora!

Beijos

4:13 AM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor

Rosas... e um grande beijo cheio de carinho e amizade

11:41 PM  
Anonymous Anonymous said...

Descubra-se um arbusto robusto, de bons e rijos ramos. Descortine-se entre eles um que tenha uma bifurcação, em "y". Depois de cortadinho, ajeitado, arranje-se um pedacinho de couro fino, duas tiras de câmera-de-ar de pneu de carro, apliquem-se no pauzito atadas com umas tiras cortadas ainda mais fininhas. Temos então uma fisga, que com uma pedrinha de calibre a condizer com a força de impacto necessária e no ângulo certo tratará de "desacamar" a bola rebelde. Tirei muitas assim, e por vezes o que tinha sido um jogo de bola tinha passado para outra dimensão, o tiro ao alvo. Outros tempos, electronicless.

VP

9:56 AM  
Blogger Leonor said...

para o VP

electronicless... hum, sim!

pois! nada como uma boa fisga. também tive uma, no tempo em que nada ainda tinha direitos e deveres...
se eu agora usasse uma fisga na escola tinha o agrupamento, os encarregados de educação e outros tantos "amigos" dos professores a porem-me um processo em cima...

mas valeu a ideia, rssss

beijinhos da leonoreta

10:40 AM  
Blogger augustoM said...

Já foste ver as fotografias do jantar que estão no blog do Fernando? Não primam pela qualidade, mas dão para ter uma ideia do que se passou.
Um beijo. Augusto

1:55 PM  
Anonymous Anonymous said...

Mais uma história deliciosa, contada de um modo delcioso, por uma pessoa q deve ser uma professora extraordinária :)
Beijinhos

4:29 PM  
Blogger lena said...

vim reler-te, deixar um beijinho doce para os teus meninos
para ti um bom fim de semana e beijinhos muitos

continua a deliciar-nos com eses teus "improvisos"

lena

9:44 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Estou admirado que não tenhas postado hoje.
Já reparei que o fazes aos sábados, normalmente (pelo menos nos últimos tempos).

Venho agradecer a tua visita.
De facto, um incesto não se esquece.
A Cris disse aquilo para animar o Zé.
Quando estava na moda o "Simplesmente Maria" já eu tinha outras coisas mais importantes com que me distrair. Lembra-te que tenho mais 12 ou 13 anos do que tu...eh eh

Beijinhos

10:25 PM  
Blogger I N T E I R O S said...

Esguios ao búzio, cochichavam distintas ocasiões.

7:10 PM  
Anonymous Anonymous said...

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7:03 AM  

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