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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Saturday, February 04, 2006

A meio da viagem

Ana... conheces aquela sensação quando o barco larga o cais e parte para o mar alto? - diz, finalmente, Leonor ao fim de uma tarde longa de silêncio em que a amiga, conhecendo-a bem como conhece a sua alma, nunca se atreveu a interromper.

No princípio - continua Leonor - saber o que a novidade de algo desconhecido te pode trazer pode entusiasmar-te mesmo que não tenhas escolhido a viagem. O barco lança-se ao mar e tu vais perdendo a terra de vista. E quando a deixas de ver completamente concentras-te na dança das ondas e na linha do horizonte. Quando ficas a conhecer todo o ondular do mar, de manhã, à tarde e à noite desejas ardentemente outra coisa qualquer. É assim que, quando aparece um albatroz naquele deserto marítimo a tua alma voa com ele. Mas o corpo fica preso no convés. E tu não podes sair do barco… depois… depois a meio da viagem o barco começa o seu percurso para terra. Ainda não a vês mas já a sentes, … depois… já não é a imensidão do mar que atrapalha a ânsia de quereres o pé em terra firme. É o tempo que não passa. Os segundos são minutos, os minutos são horas, as horas são dias. Os dias são anos. E quanto mais perto estás do que tu desejas mais o tempo emperra nos ponteiros do relógio.
Ana ouviu. Não diz nada. Leonor cala-se novamente.


da Leonor

25 Comments:

Blogger António said...

Minha querida Leonor!
Um belo texto intimista e cheio de alegorias, um tanto diferente do teu estilo habitual.
Desejo que a tua viagem te deixe coisas muito boas, inolvidáveis.

Beijinhos

3:01 PM  
Blogger António said...

This comment has been removed by a blog administrator.

3:01 PM  
Blogger Caracolinha said...

Tu escreves deliciosamente ... pronto, esta é a parte que não é novidade ... :))))

Este teu texto é fabuloso ... podemos quase sentir o tempo a passar devagar ... "E quanto mais perto estás do que tu desejas mais o tempo emperra nos ponteiros do relógio" - esta frase é a inha eleita.

Beijonhos muito encaracolados minha linda !!!! :)))))

5:47 PM  
Blogger José Gomes said...

Belo Texto.
Boa semana (e bom fim de semana, claro!)
Um abraço

7:22 PM  
Blogger «« said...

Bom texto. Mas deixa-me que te diga que quando olho para trás, vejo que as coisas boas que me aconteceram na vida tiveram a sua génese nesse tipo de sentimento, nessa vontade de não me deixar acostumar à ondulação....olha nem sei o que te diga....mas quando olho e vejo que me acostumo á ondulação....fico com medo

11:14 AM  
Anonymous Anonymous said...

Tanta coisa escondida no meio destas palavras "inocentes". A novidade, essa marota que, a não ter vontade de a saborear sempre, nos pode acostumar a que a consideremos um hábito e cuja ânsia de a deixar queima as entranhas de muitos...Eu guardo todos os mares onde naveguei com muito carinho, mas já tive ânsias de os deixar fugir...Afinal sou um mero ser humano :-) Beijos e excelente, como é teu apanágio.

1:29 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Venho aqui só para te agradecer a visita ao meu canto.
E atenção aos próximos episódios!
Serão surpreendentes!
(além de autor, também tenho a meu cargo o pelouro da Propaganda...eh eh)

Beijokas

2:26 PM  
Blogger lena said...

Leonor este teu texto tocou-me muito, levou-me ao tempo do inicio da minha adolescência, entre o ser menina e moça, nem sei bem, onde senti essa sensação do barco largar o cais e partir para o mar alto, talvez seja a única imagem que não conseguirei esquecer,
ir ao encontro do desconhecido, onde senti perder "a minha terra" de vista era garota, como diziam os meus pais e isso acabava por ser um virar de folha na minha vida, mas não foi, continua presente

viajei neste teu texto maravilhoso e deixei-me ondular nas tua palavras e sentir de novo a imensidão do mar que eu tanto adoro

como me tocou este momento

beijinhos doce menina

lena

2:56 PM  
Anonymous Anonymous said...

Largo para lá
onde irei aportar
partirei para cá
sequer a pestanejar

VP

3:57 PM  
Blogger saltapocinhas said...

A tua viagem já vai a mais de meio... (se percebi bem a comparação).
Depois do Carnaval é que começa mesmo a sensação de "terra à vista". para mim começam pesadelos do género "ai que me esqueci de ensinar os putos a ler!!" e acordo numa aflição tremenda cheia de vergonha e ainda demoro a convencer-me que era um sonho! Compreendo bem a tua pressa, mas deixa o raio do barco ir devagar que estou tão atrasada!!!

9:36 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor

Adorei, adorei este texto!

[A percepção
do mar cobre-nos]

olhar...
a "figura"
que se apresenta - como tempo
sugestão de movimento
o próprio sal
iluminando o voo das ondas

como é preciso
lembrar na noite
às vezes
o nascimento de
outras moradas
qualquer vontade
de prolongar no tempo
...
a água afastando a voz...

Para ti minha amiga
com muito carinho :)

Beijinhos

Boa semana

11:09 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá, Leonor!
Tudo é relativo, depende da personalidade de cada um, no entanto fica a mensagem pronta a ser descodificada.
Um beijinho,

12:00 AM  
Blogger Eva Shanti said...

Acho que a ideia central está aqui: «Quando ficas a conhecer todo o ondular do mar, de manhã, à tarde e à noite desejas ardentemente outra coisa qualquer»

A vida é uma insatisfação constante. Sonhamos com novos desafios, mas ainda estamos a meio de concretizar o nosso sonho e uma série de interrogações e de novos horizontes aparecem do nada.

Vivemos num querer e não querer constante.

Acho eu...

Bjs

12:36 PM  
Blogger augustoM said...

Pois é Leonor, o tempo não é igual para todos e nem mesmo para a mesma pessoa é sempre o mesmo.
É subjectivo à ansiedade ou à recusa. A primeira fá-lo lento a segunda acelera-o.
Um beijo. Augusto

1:27 PM  
Blogger Henrique Santos said...

Eu te mirava pensativo,
e o barco baloiçava, baloiçava,
eu me perdia no horizonte,
e o barco baloiçava, baloiçava,
e eu acordei por finalmente,
e o barco baloiçava, baloiçava,
e eu gritei ao sonho: Acabou!
E, o barco já não baloiçava,
e o encanto daquela viagem,
perdeu-se num baloiçar sem ti!

Bjinhos Ricky

2:43 PM  
Blogger Mocho Falante said...

Sabes...já vivi as sensações que aqui descreves tão bem

beijocas

7:57 PM  
Blogger Leonor said...

para o VP

ola VP.

bonita quadrinha.

gostei da tua participaçao, como sempre.

beijinhos da leonoreta

9:34 PM  
Blogger A .Carlos said...

Olá Leonor,
Esta viagem de barco, o albatroz, o estar preso ao convés, a terra à vista, o tempo que não passa !!!
Um texto, em que o caminho da Vida, nos é representado de uma forma ondulante.
E tantas vezes entramos no barco, e queremos dele sair, porque um albatroz apareceu, ou simplesmente porque a ave que viamos no mastro desse barco, já lá não está !
:)
Uma boa semana para ti
Bjsss
≺ A New Day ≻

3:36 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá Leonoretta!
Vim de viagem. Mas nesta minha viagem, as horas tiveram muito menos minutos e os minutos quase não tiveram segundos. O tempo voou e sem desejar estava novamente no ponto de partida. Senti que o meu "pé firme" era muito mais lá do que cá. E agora fica-me o tempo imenso que me falta para lá voltar. Surpreendi-me com a facilidade com que nos remetemos para as origens. E saboreei aquele gosto pela vida que o calor potencia.
Apetece-me roubar os ponteiros ao relógio para me permitir aproveitar, ainda assim, este tempo todo que me falta até lá. Que tal Leonor, bora nessa??
Beijinhos
Ana Joana

3:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Gosto destes diálogos entre a Ana e a Leonor ...... ;)
E é verdade, qt mais próximo estamos do q desejamos, mais devagar parece q o tempo passa....
Beijos

5:26 PM  
Blogger Leonor said...

para Ana Joana

que bom teres voltado aqui ao sitio e que bom que tudo tenha corrido bem para ti.

beijinhos da leonoreta

8:43 PM  
Blogger António said...

Minha querida amiguinha:
Só venho aqui agradecer a tua visita e o concumitante comentário.
Mas tens a certeza que estás a ler uma tragédia?
Olha que o autor é menino para provocar outra reviravolta.
Tem a mania que é a Aghata Christie.
eh eh

Beijinhos

10:52 PM  
Blogger Isabel Filipe said...

...passei a desejar-te um bom fim de semana.

Bjs

11:31 AM  
Blogger Leonor C.. said...

Sim, eu conheço essa sensação. Primeiro a novidade, depois a habituação, depois o desejar algo diferente e, às vezes, também o remar contra a maré . Viver é como andar sobre as águas. Com o vento, a favor das marés, ou lutando contra vagas alterosas. Às vezes fazem-se viagens de sonho, outras nem tanto.E é aí que os segundos são minutos,e os minutos... Porque é que o ponteiro emperra e não nos deixa saír dali?... Não sei se me entendes...
Há muito tempo que não te via por cá...
Beijinhos e bom domingo.

4:03 PM  
Blogger António Monteiro said...

Apenas quero felicitá-la, não só pelo conteúdo mas, também pela elaboração de todos os textos!
Parabéns e continue!
http://restauros.blogspot.com/

12:30 AM  

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