A meio da viagem
Ana... conheces aquela sensação quando o barco larga o cais e parte para o mar alto? - diz, finalmente, Leonor ao fim de uma tarde longa de silêncio em que a amiga, conhecendo-a bem como conhece a sua alma, nunca se atreveu a interromper.
No princípio - continua Leonor - saber o que a novidade de algo desconhecido te pode trazer pode entusiasmar-te mesmo que não tenhas escolhido a viagem. O barco lança-se ao mar e tu vais perdendo a terra de vista. E quando a deixas de ver completamente concentras-te na dança das ondas e na linha do horizonte. Quando ficas a conhecer todo o ondular do mar, de manhã, à tarde e à noite desejas ardentemente outra coisa qualquer. É assim que, quando aparece um albatroz naquele deserto marítimo a tua alma voa com ele. Mas o corpo fica preso no convés. E tu não podes sair do barco… depois… depois a meio da viagem o barco começa o seu percurso para terra. Ainda não a vês mas já a sentes, … depois… já não é a imensidão do mar que atrapalha a ânsia de quereres o pé em terra firme. É o tempo que não passa. Os segundos são minutos, os minutos são horas, as horas são dias. Os dias são anos. E quanto mais perto estás do que tu desejas mais o tempo emperra nos ponteiros do relógio.
No princípio - continua Leonor - saber o que a novidade de algo desconhecido te pode trazer pode entusiasmar-te mesmo que não tenhas escolhido a viagem. O barco lança-se ao mar e tu vais perdendo a terra de vista. E quando a deixas de ver completamente concentras-te na dança das ondas e na linha do horizonte. Quando ficas a conhecer todo o ondular do mar, de manhã, à tarde e à noite desejas ardentemente outra coisa qualquer. É assim que, quando aparece um albatroz naquele deserto marítimo a tua alma voa com ele. Mas o corpo fica preso no convés. E tu não podes sair do barco… depois… depois a meio da viagem o barco começa o seu percurso para terra. Ainda não a vês mas já a sentes, … depois… já não é a imensidão do mar que atrapalha a ânsia de quereres o pé em terra firme. É o tempo que não passa. Os segundos são minutos, os minutos são horas, as horas são dias. Os dias são anos. E quanto mais perto estás do que tu desejas mais o tempo emperra nos ponteiros do relógio.
Ana ouviu. Não diz nada. Leonor cala-se novamente.
da Leonor
25 Comments:
Minha querida Leonor!
Um belo texto intimista e cheio de alegorias, um tanto diferente do teu estilo habitual.
Desejo que a tua viagem te deixe coisas muito boas, inolvidáveis.
Beijinhos
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Tu escreves deliciosamente ... pronto, esta é a parte que não é novidade ... :))))
Este teu texto é fabuloso ... podemos quase sentir o tempo a passar devagar ... "E quanto mais perto estás do que tu desejas mais o tempo emperra nos ponteiros do relógio" - esta frase é a inha eleita.
Beijonhos muito encaracolados minha linda !!!! :)))))
Belo Texto.
Boa semana (e bom fim de semana, claro!)
Um abraço
Bom texto. Mas deixa-me que te diga que quando olho para trás, vejo que as coisas boas que me aconteceram na vida tiveram a sua génese nesse tipo de sentimento, nessa vontade de não me deixar acostumar à ondulação....olha nem sei o que te diga....mas quando olho e vejo que me acostumo á ondulação....fico com medo
Tanta coisa escondida no meio destas palavras "inocentes". A novidade, essa marota que, a não ter vontade de a saborear sempre, nos pode acostumar a que a consideremos um hábito e cuja ânsia de a deixar queima as entranhas de muitos...Eu guardo todos os mares onde naveguei com muito carinho, mas já tive ânsias de os deixar fugir...Afinal sou um mero ser humano :-) Beijos e excelente, como é teu apanágio.
Querida Leonor!
Venho aqui só para te agradecer a visita ao meu canto.
E atenção aos próximos episódios!
Serão surpreendentes!
(além de autor, também tenho a meu cargo o pelouro da Propaganda...eh eh)
Beijokas
Leonor este teu texto tocou-me muito, levou-me ao tempo do inicio da minha adolescência, entre o ser menina e moça, nem sei bem, onde senti essa sensação do barco largar o cais e partir para o mar alto, talvez seja a única imagem que não conseguirei esquecer,
ir ao encontro do desconhecido, onde senti perder "a minha terra" de vista era garota, como diziam os meus pais e isso acabava por ser um virar de folha na minha vida, mas não foi, continua presente
viajei neste teu texto maravilhoso e deixei-me ondular nas tua palavras e sentir de novo a imensidão do mar que eu tanto adoro
como me tocou este momento
beijinhos doce menina
lena
Largo para lá
onde irei aportar
partirei para cá
sequer a pestanejar
VP
A tua viagem já vai a mais de meio... (se percebi bem a comparação).
Depois do Carnaval é que começa mesmo a sensação de "terra à vista". para mim começam pesadelos do género "ai que me esqueci de ensinar os putos a ler!!" e acordo numa aflição tremenda cheia de vergonha e ainda demoro a convencer-me que era um sonho! Compreendo bem a tua pressa, mas deixa o raio do barco ir devagar que estou tão atrasada!!!
Querida Leonor
Adorei, adorei este texto!
[A percepção
do mar cobre-nos]
olhar...
a "figura"
que se apresenta - como tempo
sugestão de movimento
o próprio sal
iluminando o voo das ondas
como é preciso
lembrar na noite
às vezes
o nascimento de
outras moradas
qualquer vontade
de prolongar no tempo
...
a água afastando a voz...
Para ti minha amiga
com muito carinho :)
Beijinhos
Boa semana
Olá, Leonor!
Tudo é relativo, depende da personalidade de cada um, no entanto fica a mensagem pronta a ser descodificada.
Um beijinho,
Acho que a ideia central está aqui: «Quando ficas a conhecer todo o ondular do mar, de manhã, à tarde e à noite desejas ardentemente outra coisa qualquer»
A vida é uma insatisfação constante. Sonhamos com novos desafios, mas ainda estamos a meio de concretizar o nosso sonho e uma série de interrogações e de novos horizontes aparecem do nada.
Vivemos num querer e não querer constante.
Acho eu...
Bjs
Pois é Leonor, o tempo não é igual para todos e nem mesmo para a mesma pessoa é sempre o mesmo.
É subjectivo à ansiedade ou à recusa. A primeira fá-lo lento a segunda acelera-o.
Um beijo. Augusto
Eu te mirava pensativo,
e o barco baloiçava, baloiçava,
eu me perdia no horizonte,
e o barco baloiçava, baloiçava,
e eu acordei por finalmente,
e o barco baloiçava, baloiçava,
e eu gritei ao sonho: Acabou!
E, o barco já não baloiçava,
e o encanto daquela viagem,
perdeu-se num baloiçar sem ti!
Bjinhos Ricky
Sabes...já vivi as sensações que aqui descreves tão bem
beijocas
para o VP
ola VP.
bonita quadrinha.
gostei da tua participaçao, como sempre.
beijinhos da leonoreta
Olá Leonor,
Esta viagem de barco, o albatroz, o estar preso ao convés, a terra à vista, o tempo que não passa !!!
Um texto, em que o caminho da Vida, nos é representado de uma forma ondulante.
E tantas vezes entramos no barco, e queremos dele sair, porque um albatroz apareceu, ou simplesmente porque a ave que viamos no mastro desse barco, já lá não está !
:)
Uma boa semana para ti
Bjsss
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Olá Leonoretta!
Vim de viagem. Mas nesta minha viagem, as horas tiveram muito menos minutos e os minutos quase não tiveram segundos. O tempo voou e sem desejar estava novamente no ponto de partida. Senti que o meu "pé firme" era muito mais lá do que cá. E agora fica-me o tempo imenso que me falta para lá voltar. Surpreendi-me com a facilidade com que nos remetemos para as origens. E saboreei aquele gosto pela vida que o calor potencia.
Apetece-me roubar os ponteiros ao relógio para me permitir aproveitar, ainda assim, este tempo todo que me falta até lá. Que tal Leonor, bora nessa??
Beijinhos
Ana Joana
Gosto destes diálogos entre a Ana e a Leonor ...... ;)
E é verdade, qt mais próximo estamos do q desejamos, mais devagar parece q o tempo passa....
Beijos
para Ana Joana
que bom teres voltado aqui ao sitio e que bom que tudo tenha corrido bem para ti.
beijinhos da leonoreta
Minha querida amiguinha:
Só venho aqui agradecer a tua visita e o concumitante comentário.
Mas tens a certeza que estás a ler uma tragédia?
Olha que o autor é menino para provocar outra reviravolta.
Tem a mania que é a Aghata Christie.
eh eh
Beijinhos
...passei a desejar-te um bom fim de semana.
Bjs
Sim, eu conheço essa sensação. Primeiro a novidade, depois a habituação, depois o desejar algo diferente e, às vezes, também o remar contra a maré . Viver é como andar sobre as águas. Com o vento, a favor das marés, ou lutando contra vagas alterosas. Às vezes fazem-se viagens de sonho, outras nem tanto.E é aí que os segundos são minutos,e os minutos... Porque é que o ponteiro emperra e não nos deixa saír dali?... Não sei se me entendes...
Há muito tempo que não te via por cá...
Beijinhos e bom domingo.
Apenas quero felicitá-la, não só pelo conteúdo mas, também pela elaboração de todos os textos!
Parabéns e continue!
http://restauros.blogspot.com/
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