Ex Improviso

Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Wednesday, August 24, 2005

O meu olhar



Tenho o meu sítio de lazer numa varanda envidraçada. Dois móveis compõem o meu escritório: um armário com prateleiras e gavetas e uma mesa de tamanhos reduzidos, como se de uma casa de bonecas fizessem parte.

Escritório ou estúdio, como quiserem, embora a palavra escritório seja a mais apropriada na medida em que se trata de um local onde existe uma estante com livros e uma secretária e não a palavra estúdio porque eu não sou nem pintora, nem escultora , e nem arquitecta.

Esta questão de saber usar a palavra certa para descrever determinado lugar, objecto ou sentimento é muito importante. Convém saber exactamente o seu significado para que não haja sentidos dúbios.

Assim, passo a explicar melhor: como o meu escritório tem um espaço de dois metros quadrados, onde só cabe as referidas estante e mesa e onde me vejo obrigada a reduzir papéis e livros às obras essenciais, eu prefiro chamar o local de o meu sítio.

Tenho a mesa junto a uma janela através da qual olho amiúde para a rua, cabeça apoiada no braço esquerdo, caneta dançarina nos dedos da mão direita, distraindo o meu olhar na difusão de verdes que coloram as folhas das árvores que povoam o espaço em frente, recreio da escola onde fiz o ensino primário.

As árvores são uma coisa extraordinária. Nascem, crescem, morrem. Comem, bebem, vivem. Será que gritam quando alguém sulca no seu tronco um coração com a ponta de um canivete? Será que riem quando novos pardalinhos eclodem timidamente dos ovinhos? será que tremem de frio à noite?

Ano após ano, sempre no mesmo sítio, arborizando. Se há almas presas ao chão então devem ser as árvores. Não se podem defender das maldades que lhes fazem. Não se podem defender, por exemplo, das pessoas que lhes pegam fogo.

Fecho a janela. Se a deixo aberta não páro de olhar para o verde que me descansa os olhos e não escrevo nada.
da Leonor

25 Comments:

Blogger José Gomes said...

Foi um prazer ser transportado por ti ao teu sítio.
Pelos teus olhos fui levado à janela, vi os pássaros, a tua secretária, os livros... e imaginei a desarrumação devido à falta de espaço que acontece nestes espaços.
Parece que senti o baloiçar calorento dessas árvores que descreveste.
Já tinha saudades destas viagens através dos teus olhos.
Um abraço.

12:28 PM  
Blogger Caracolinha said...

Adoro esta música dos Simply Red ... as recordações que ela me traz de tempos que foram vividos como deveiam ser naquela altura !!!!

Que bonita mais este teu relato, e como me identifico contigo nessa "ausência" que provocam em nós as coisas belas ... acontece-me o mesmo também quando olho o mar...

Beijinho minha querida ~:o)

12:37 PM  
Blogger Isabel Filipe said...

Um lindo texto Leonor...

gostei de o ler....

Bjs

1:35 PM  
Blogger Leonor C.. said...

Foi bom saber como é o teu sítio. Eu também tenho o meu, no quarto do meu filho. Herdei a secretária, o computador e tudo o mais desde que foi para a casa dele. Venho aqui muitas vezes para ver se já voltaram de férias as pessoas que, sem saberem, me fazem muita companhia. Foi bom encontrar-te!
Beijinhos

Leonor

1:59 PM  
Blogger Leonor said...

ze
para dizer a verdade ja sentia a tua falta aqui nos coments, rs, afinal tens sido uma visita assidua desde o primeiro dia do Ex.
mas olha... rsss, o meu sitio nao está desarrumado. tudo tem um sitio certo que nunca poderá ser mudado.


caracolinha
tambem distraio o meu olhar nas ondas do mar como o senhor palomar de italo calvino... e de resto distraio-me com tudo, mas tu sabes, tu sabes, senhora da psicologia que nao nos distraimos, concentramos é a nossa atençao longe...


frog
saber que sentiste o meu sitio realiza-me como escritora. obrigado.


isabel
gosto que gostes dos meus textos.


andorinha
a net é um vicio de afectividade...



abraço da leonor

3:04 PM  
Blogger «« said...

antes de mais nada bravo por teres conseguido fazer "poesia" de um assunto tão normal....foi muito bonito ler.

Contudo, colocar uma estande de frente para a janela, pode fazer bem aos olhos e áa mente, porque permite observar o que descreveste e muito mais...mas faz mal à vista, caso passes muito tempo no local, porque a luz deve sempre entra pelo lado (direito para os canhotos e esquerdo para os destros)...este foi um comentário brincalhão 8só a segunda parte.Mas eu ADOREI O TEXTO

4:19 PM  
Blogger Alexandre de Sousa said...

Não deixa de ser fascinante partilhar o nosso espaço de todos os dias com os amigos desconhecidos.

5:24 PM  
Anonymous Anonymous said...

Como tantos já disseram, mas é a pura verdade: como é gostoso conhecer um pouco mais as pessoas que gostamos, sejam elas virtuais ou não. Mas não és virtual, bem sei. Meu coração o diz. Um beijo fraterno, desse teu irmão das bandas de cá, abaixo da linha do equador.

6:59 PM  
Blogger M.P. said...

Olá, Leonor! Pois eu também tenho um dito cujo escritório mesmo face à rua com uma janela rasgada de lado a lado e, em frente, tenho um jardim que tem árvores agora gigantes com uns braços longos quase a tocar o passeio (raras vezes vêm cuidar delas!)que servem de abrigo a rolas, melros, pardais e quejandos onde almas caridosas (???) despejam todas as manhãs pão que os alimenta. Dentro estou literalmente envolta por pilhas de papéis, cds, dvds por cima da mesa, por baixo do computador, ao lado da estante (a rebentar pelas costuras!) também num espaço relativamente exíguo mas a que chamo o MEU "estaminé"! É aqui que passo grande parte do meu tempo, a trabalhar, a resmungar, a .. a...!
Sinto-me bem neste caos que reflecte o minha atrapalhação interior interior..lol! Por tudo isto... percebo-te lindamente! ;)**

8:09 PM  
Blogger Astri* said...

Oh, afinal consegui chegar ao teu refugio. :D Dá-me cheiro a paz.

Como sempre uma muita boa escolha na musica... :D

Voltei *******


PS: sim sou eu naquela foto ranhosa a sorrir. LOLOL :D

1:16 AM  
Anonymous Anonymous said...

Mesmo sem escreveres nada, sente-se o que escreves ( e pensas ).
No meu sitio, que também não é escritório, há tantos papeis, livros, revistas, por arrumar, que é um Susto. E como o computador não está lá, mas fora de casa, não imaginas a falta que ele lá faz.
Um abraço

8:46 AM  
Blogger Carlos Gil said...

Bonito, bonito, bonito. Mantém-se o (bom) hábito de te visitar para ler palavras que valem uma viagem - há cliques saborosos, e, este...
Beijoka

1:54 PM  
Blogger augustoM said...

Leonor, no meu caso a palavra certa para descrever o nosso lugar, não é nem escritório nem estúdio, pois elas definem uma função demasiado específica. Chamo-lhe refúgio, pois é lá que me refugiu de tudo, para me entregar só a mim mesmo e a tudo que acho importante, sem correr o risco do ridículo de gostar de falar em voz alta com Socrates.
Um beijo. Augusto

1:54 PM  
Blogger th said...

E NÃO É QUE ESTIVE CONTIGO À JANELA...? estava uma brisa fresca, a luz do entardecer já faz adivinhar o Outono, que é a estação dos meus encantos! prometo voltar...th

4:32 PM  
Blogger António said...

Minha querida!
Eu não estive a ler uma descrição do teu pequeno sítio de trabalho.
Eu estive a ver uma pintura do local, com uma linda senhora lá dentro, braço esquerdo no parapeito e nele apoiada a cabeça pensativa, olhando o infinito sob a forma de copas de árvore verdes.

O meu estaminé também tem cerca de 2 metros quadrados. Mas sem janela...buááááááá...

Jinhos

9:50 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá,Leonor!
Depois de ler e saborear o magnífico texto que escreveste,só me resta dizer de uma forma muito simples o seguinte:
Este texto é de uma beleza estonteante! Até parece que estava a ver diante de mim tudo o que estavas a narrar, tal a arte que manifestas na tua escrita!
Gostei imenso!
Beijinho,
A.J.Faria

11:20 PM  
Blogger «« said...

enquanto estive no executivo da minha escola...resolvia o problema apostando forte numa boa iluminação e sensibilizando os colegas para identificarem esses tipos ( os meus dois filhos são canhotos....com pais destros...se o mais novo perceb-se porque ao ser adoptado pode ter trazido isso geneticamente...a mais velha não...eh h)

12:14 AM  
Anonymous Anonymous said...

Lindo!A forma como escreves e descreves esse teu sitio é uma beleza.Tratas a palavra por tu e sabes transmiti-la como ninguém.Descreve esse verde enquanto o é e essas árvores que gritam para não serem queimadas.Beijinhos

12:55 AM  
Blogger saltapocinhas said...

O meu espaço é maior mas tb não sei que nome lhe dar: era o quarto da minha filha que transformei em escritório mas onde mantenho a cama (para descansar!) e o guarda-roupa. Como passo aqui muito tempo o meu marido diz "a tua toca"...Talvez seja um bom nome.

1:55 AM  
Blogger Menina Marota said...

Desculpa invadir assim o teu sítio, mas pairei por aí, conseguindo imaginar-te com o teu sorriso doce, a olhar o arvoredo, dentro do teu refúgio, a escreveres as palavras que te saem da alma…
Olhei as tuas palavras e vi-me dentro do quadro que descreves… nessa pintura suave, mas que nos faz perceber um pouco a serenidade da tua alma…
Aqui do meu “refúgio” te envio um grande abraço carinhoso e um sorriso do tamanho do mundo… ;)

9:05 AM  
Anonymous Anonymous said...

Dois dias sem escrever ?
Tenho saudades...

9:56 AM  
Anonymous Anonymous said...

Um pedido.
A letra U, dos links está vazia.
Espreita o http://unchainedmelody.blogs.sapo.pt.
Se gostares...linka

9:59 AM  
Blogger Leonor said...

Raquelinha
Que bom se te dou essa sensação de paz. Tentarei que seja de alegria tambem. Aquela “ranhosa” da foto é linda.


Ze (travessa)
Mas o meu sitio é muito arrumadinho, rsssssssssss, a sério. E senti-me lisonjeada com a tua vontade de ler mais coisas minhas.


Carlos
Tu não me envaideças, tu vê lá que depois eu fico difícil de aturar.


Augusto
Suponho que fales alto com sócrates, o filosofo de Atenas e não com sócrates, o primeiro ministro….com o primeiro entramos naquela maiêutica fascinante, com o segundo ficamos enredados nas perguntas e nas respostas


Theo
É tão bom quando vens aqui


António
E não podes abrir um buraco na parede? Ou então como se fazia antigamente, olha que resulta, colocares uma paisagem verdinha na parede…..


Faria
E eu fiquei muito contente por teres apreciado o meu texto.


Miguel
Pelo menos tentaste para mudar alguma coisa.


Agostinho
Viste no texto o meu apelo impotente contra os incêndios.


Saltapocinhas
Todos nos temos um espaço e todos nos lhe damos um nome especifico. Estamine, sitio, toca, refugio, formidável……….rssssssssss


Marota
Saltaste para a minha descrição como a mary poppins salta para dentro do quadro…. Então consegui magia.


abraço da leonor

1:48 PM  
Blogger António said...

Agora já tem a foto da paisagem!
Muito bem!

Não posso abrir buraco na parede porque é um cubículo interior.

Beijinhos, querida amiga

2:03 PM  
Blogger saisminerais said...

já nem tenho coragem de descreve o meu espaço, sitio, ou como lhe queiramos chamar! a bagunça que vejo de cds até a barriga quase nua do meu pc com o barulho infernal da ventoinha a tentar arrefecer a mente do da maquina infernal! que aqui se situa do meu lado direito! nem sei se é bom ou mau para a vista! mas sei que para os ouvidos e cerbro, coitados! quanto tempo vão aguentar? melhor seria descrever com uma foto, os pois neste sitio já se fez de tudo um pouco e agora faz-se um pouco de tudo. é sim senhor, reina a confusão, enquanto souber onde encontrar o botão que liga o pc e aliviar um pouco o teclado, porque o monitor tinha uma nota que dizia; nunca colocar nada em cima! cumpro à risca... Leonor queres trocar?
jinhos do Alexandre

3:32 AM  

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