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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Friday, April 22, 2005

Choraquelogobebes

"É proibída a entrada a quem não andar espantado de existir"


Quem começa nos meandros da literatura portuguesa logo se depara com a poesia e a prosa de José Gomes Ferreira, acompanhando-as para sempre. Nascido no Porto, conhecido como O Poeta Militante ou O Operário das Palavras, José Gomes Ferreira publicou em 1963 “as Aventuras de João Sem Medo”, o que, segundo o próprio autor, são um “divertimento escrito por quem sempre sonhou conservar a criança bem viva no homem”.


A poesia do romance começa logo na dedicatória aos seus dois filhos, grande louvor ao Homem:
“Para ti Raul José, homem há muito e homem autêntico que aprendeste à tua custa que a verdadeira coragem é a força do coração (…) para ti , Alexandre, ainda criança, mas já com todas as tendências para não te tornares num desses falsos adultos que sujam o mundo e odeiam a imaginação.”


Este “panfleto mágico em forma de romance” foi escrito, portanto para a juventude. Mas o que à primeira vista é apenas uma recreação literária serve também de folheto escrito em estilo satírico ao Portugal do fascismo com o seu atraso em relação ao resto do mundo europeu.
João vive em Chora que logo bebes e farto da humidade e bolor provocados pela choradeira dos seus vizinhos decide saltar o Muro que lhe dá entrada a um mundo diferente que o espanta. É sempre irónico, única forma de que dispõe para sobreviver às mentalidades lamurientas da sua aldeia. E nunca tem medo. Finge que nunca tem medo. Na sua aventura, João descobre a verdade e no fim pretende regressar, capaz de todas as revoluções, não conseguindo, todavia, ser mais do que um combatente.


Voltando à leitura dirigida para a infância, João é o herói ideal que mostra à criança que o medo é um sentimento presente em todos nós mas que pode ser ludibriado. João ultrapassa todos os obstáculos que lhe surgem na frente da maneira que ele acha adequada e não da maneira que os outros lhe sugerem, lembrando um pouco “Eu não vou por aí” in O Cântico Negro de José Régio.
Prestes a abandonar a sua aventura e a regressar à sua aldeia João pergunta ao guarda do Muro – Posso voltar sempre que quiser?



Como é que não poderias voltar João? - pergunto eu - Agora que conheces o mundo dos sonhos vais e voltas sempre que quiseres.

Leonor


5 Comments:

Blogger Fragmentos Betty Martins said...

"As Aventuras do João sem Medo" no imaginário "Viver em Choraquelogobebes" é realmente a criança que vive em todos nós, ou melhor, que devemos lutar para que ela viva sempre em nós!

Beijos

José Gomes Ferreira - Um Homem do tamanho do Século!

Ardil

Nesta mesa
desenhada pelo Keil
onde como e bebo
– ou melhor, bebia –
e às vezes concebo
o que se assemelhe
com a poesia...
... nesta mesa,
à luz acesa
de um candeeiro de pé alto,
sinto agora o sobressalto
de quem ouve fundamente
trovões diversos
do que dantes ouvia
e hoje ninguém sente.
Talvez escreva versos
com outra poesia.

(Enfim estratagemas
para fingir poemas.)

José Gomes Ferreira
22/4/81

4:24 AM  
Anonymous Anonymous said...

"Como é que não poderias voltar João? - pergunto eu - Agora que conheces o mundo dos sonhos vais e voltas sempre que quiseres."
Leonor, esta tua simples pergunta a que tu própria respondes, fez-me lembrar Gedeão e a Pedra Filosofal.
Adoro a tua forma de narrativa.
E mais não digo... está tudo dito! Que tenhas um bom fim de semana.
Abraço.

5:17 PM  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Leonor
Rendo-me às tuas competências pedagógicas. Fossem todos os professores assim, para que a educação e a cultura não fossem algo tolerado, quando não detestado, pelos mais jovens.
Um beijo
Daniel

5:51 PM  
Blogger Leonor said...

Betty,
não conhecia este poema. e mais uma vez, é formidável. cada vez gosto mais dos meus poetas de eleição.

José,
dizeres que gostas da minha forma de narrar realiza-me como escritora. muito obrigado.

daniel,
faço o que posso e o que não posso porque adoro o que faço. eiiiii, quase que tropeço nos trocadilhos.
obrigado

8:16 PM  
Anonymous Anonymous said...

.. desaparecido eventual, mas atento, venerado e gradecido, pois claro. Que bom visitar-te...

10:20 AM  

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