Fragmentos dela, dele e às vezes dos outros (18)
Era outra vez Natal. Quando ela era pequena gostava do Natal. O Natal era-lhe sinónimo de prendas. A mãe colocava-as junto da árvore à medida que elas iam aparecendo lá em casa. Esta é da tia para o pai. Esta é da mãe para ti. Ela não abria nenhuma caixa. Sempre fora obediente. Além disso, gostava de ver os embrulhos de papel vistoso e fita larga e torcida, mas numa curiosidade quase mórbida queria saber antes do dia destinado ao desfazer dos laços o que lhe tinham comprado. Nunca abria uma caixa mas instigava a mãe de modo sistemático, insistentemente. De que cor é? É quadrado? Tem cabelos? Diz a primeira letra. E agora quantas letras tem?
A mãe trocava-lhe as voltas mas o que ela queria era o soslaio do olhar, o passo em falso no sorriso.
- Dá-me uma prenda de Natal. Faz-me um desenho. – disse ele.
- Não é fácil fazer um desenho. Para mais, eu não sei desenhar. – disse ela.
Ela desenhava como as crianças. Todos os seus traços eram naif. Contudo, ela fê-lo.
Uma clareira no meio de uma floresta, um céu azul sem nuvens. Apenas três pássaros ao longe. Ele e ela de frente um para o outro, sentados no chão, na partilha de uma merenda.
Ele olhava o desenho.
- Não vais pendurá-lo por cima da mesa de cabeceira? – perguntou-lhe ela ironicamente.
- Nota que não te vou fazer uma critica, apenas uma constatação. É sem duvida um espírito infantil o que preside ao desenho. Adoptaste o Universo das crianças porque constitui um espaço de fuga. "A arte da fuga" é uma constante nos artistas que só varia no modo e nas preferências. Imaginário infantil e até a própria arte de não dizer mas, sugerir, como acontece nos teus textos, faz me lembrar o Pessoa quando diz: "a arte é uma confissão de que a vida não basta". A ti não só não te basta como ainda por cima te aflige.
Ela ouvia-o de sobrolho franzido. Um dia quis experimentar saltar para a vida e para as pessoas numa transparência de fazer doer. Quando quis retroceder era tarde demais.
A mãe trocava-lhe as voltas mas o que ela queria era o soslaio do olhar, o passo em falso no sorriso.
- Dá-me uma prenda de Natal. Faz-me um desenho. – disse ele.
- Não é fácil fazer um desenho. Para mais, eu não sei desenhar. – disse ela.
Ela desenhava como as crianças. Todos os seus traços eram naif. Contudo, ela fê-lo.
Uma clareira no meio de uma floresta, um céu azul sem nuvens. Apenas três pássaros ao longe. Ele e ela de frente um para o outro, sentados no chão, na partilha de uma merenda.
Ele olhava o desenho.
- Não vais pendurá-lo por cima da mesa de cabeceira? – perguntou-lhe ela ironicamente.
- Nota que não te vou fazer uma critica, apenas uma constatação. É sem duvida um espírito infantil o que preside ao desenho. Adoptaste o Universo das crianças porque constitui um espaço de fuga. "A arte da fuga" é uma constante nos artistas que só varia no modo e nas preferências. Imaginário infantil e até a própria arte de não dizer mas, sugerir, como acontece nos teus textos, faz me lembrar o Pessoa quando diz: "a arte é uma confissão de que a vida não basta". A ti não só não te basta como ainda por cima te aflige.
Ela ouvia-o de sobrolho franzido. Um dia quis experimentar saltar para a vida e para as pessoas numa transparência de fazer doer. Quando quis retroceder era tarde demais.
Leonoreta
18 Comments:
E é outra vez Natal. Como o tempo passa! Há lá melhor prenda do que um desenho? E uma observação cuidada do mesmo traz-nos sempre uma mensagem. Normalmente de amor, amizade, alegria....
Bom Natal! Não deixes desembrulhar as prendas embora , de soslaio, tentem adivinhá-las.
Beijinhos.
Excelente abordagem do espírito do Natal.
Desejo-te tudo de bom, Leonor!
Um Feliz Natal!
Que o verdadeiro Espírito de Natal te encha de Felicidade.
Bjs
arte é...
curioso que eu sou uma grande criança, até no desenhar :)
feliz natal
abrazo europeo
Leonor com um grande beijo desejo as Boas Festas e a toda a família.
Augusto
Ó, minha menina... Que lindo salto para dentro, para um espaço de fuga que não pode fugir!... Que bonito natal escrito!
Vim aqui para te desejar o melhor! Neste Natal, para o Novo Ano que aí vem, por toda a Vida!
Um grande abraço, Leo!
Minha amiga,
As tuas narrativas continuam a ter o condão de me surpreender.
Neste Natal deixa-me compartilhar contigo esta missiva:
Esta mensagem não é para aqueles de quem me lembrei, mas para aqueles que pretendo NUNCA esquecer!
Um NATAL cheio de PAZ e muita SAÚDE!
Boas Festas e um abraço muito especial.
José Gomes
Venho deixar os votos de um bom Natal e desejos que o Ano Novo chegue carregadinho de coisas boas e que possam ser gozadas com Paz e boa saúde. Beijinhos
Leonor: envio os meus votos sinceros de BOAS FESTAS.
Um Natal Feliz e um Bom Ano de 2008, especialmente com muita saúde.
Um Abraço.
Por cá passa da meia-noite, Amiga. É véspera de Natal. Que a Espiritualidade Maior esteja contigo, sempre.
Um abraço fraterno e saudoso.
Feliz Natal e um Bom Ano de 2008.
Bjs
Passei para desejar um Bom Natal e um óptimo 2008!
E para dizer que adoro as tuas histórias!
Bjs
Querida Leonoreta, que tenhas um Natal muito doce e que 2008 continue a ser mais uma ano a oferecer-nos maravilhosa escrita e que sejas bafejada com tudo de bom
beijoca
Festas Felizes
Assim na Terra
Como no Coração!
Até sempre!
Um Santo Natal
Alegremente
olá boa noite, peço desde já desculpa pela intromissão, mas sou um estudante da faculdade de ciências e psicologia da educação da universidade de lisboa e gostaria, se fosse possivel, ajudar-me com informações sobre os povos celta iberos, visto que já soube que fez um trabalho sobre os mesmos, obrigado desde já, luis brissos
esse texto... quase te ouvi falando, de ti para tu mesma. mas ouvi, tenho certeza. com sotaque e tudo!... num determinado momento, vontade de rir. noutro, nem tanto. senti algo quente nos olhos. e na alma.
um beijo, Amiga.
querida amiguinha, querida Leonor
estive atenta a todas as tuas partilhas, as palavras essas ficaram embargadas
não gosto da época que passou, refugiei-me um pouco. gosto de um natal permanente, porque é todos os dias que me lembro das pessoas, de as mimar, de lhes dizer o quanto são importantes para mim, de lhes desejar o melhor
gostei destes fragmentos, é um prazer ler-te e a arte é mesmo uma confissão..., como tão bem escreveu Pessoa
o meu carinho de sempre, a mesma ternura que tenho por ti, o meu abraço amigo e beijinhos doces
lena
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