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Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Friday, September 07, 2007

Os quatro efes de defesa

Temos no cérebro uma estrutura subcortical situada no sistema límbico, no lobo temporal, chamada amígdala.

Por coincidência, esta estrutura tem o mesmo nome de outras estruturas, de forma arredondada, localizadas na garganta que, acredita-se, sirvam para ajudar a evitar infecções.

A outra amígdala, a do cérebro, tem uma função diferente. Ela analisa automaticamente os perigos de uma situação e alerta-nos para esses perigos a fim de darmos uma resposta airosa.

Vou dar um exemplo: entro no metro. Está apinhado de gente. Pessoas comprimidas umas contra as outras. Odores nojentos dos sovacos empestam o ar que se respira.

De repente, entra um leão fugido do jardim zoológico. A amígdala daquelas pessoas age rapidamente e numa corrida precipitada largam as carruagens em direcção à saída mais próxima. Atropelam-se pois! Mas isso que importa? Já se atropelavam antes de haver algum leão que as ameaçasse.

Porém, a minha amígdala, perante tal situação, quer alertar-me mas tem alguma dificuldade em fazer-me sair de um estado de apatia forçada devido ao congestionamento físico a que fui sujeita. Apesar de tudo lá consegue pôr-me a pensar nos quatro EFES teorizados pelos neurologistas ingleses.

Fujo? (Flight)
Não consigo. Estou petrificada (Freeze)
Luto? (Fight) Sim, claro. Se para fugir é demasiado tarde, então luto com o leão. Afinal eu tenho um curso de domadora de leões: calma, que o bicho é manso, penso eu.

Vejo o leão avançar na minha direcção. Arregalo os olhos. Um som fininho, contínuo, invade os meus ouvidos. Desmaio (Faint).

Acordo no hospital. Não tenho ferimentos. O leão não me quis pelo cheiro nauseabundo da minha roupa por andar em transportes públicos às cinco da tarde.

Leonoreta

26 Comments:

Blogger Isamar said...

Um post interessantíssimo. Como costumam ser os teus posts! E quanto aprendo neles! Desconhecia a existência desta amígdala mas penso que, perante um perigo iminente, a minha amígdala me deixaria ficar petrificada e seguiria o percurso dos quatro efes. Sabes, já lá vão muitos anos, menina de faculdade, entrei no metro a hora de ponta e saí de lá desmaiada pelos braços de uma santa alma que me conduziu para sítio seguro e me amparou até recuperar os sentidos. Ainda hoje estou para saber quem foi. Olha a recordação que este post me trouxe!Não mais gostei desse transporte.
Ontem postei a minha primeira fotografia na net. A aprendizagem prossegue pelo que, em breve, terás um presentinho. Tu e algumas amigas mais.
Beijinhos minha doce amiga.

10:31 PM  
Blogger SilenceBox said...

Muito interessante, este post! E, ao mesmo tempo, muito cómico! Um leão no metro? lolol... Que bela imaginação! Acho que a minha amígdala me mandava a fugir, pondo-me a correr a sete pés, em vez de me paralisar e desmaiar... ;-)
beijinhos e bom fim de semana!

11:05 PM  
Anonymous Anonymous said...

Sempre a aprender, os mistérios infindáveis do nosso cérbero,
Agora quanto à frase do seu texto, ‘O leão não me quis pelo cheiro nauseabundo da minha roupa por andar em transportes públicos às cinco da tarde.’, explicado
A luz da Psicologia à portuguesa, teria a seguinte conclusão, ‘há males que vêem por bem’.

Bom fim de semana

JMC

10:28 AM  
Blogger SEMPRE said...

A sua naturalidade encanta-me. E também a sua postura sociável e comunicativa. Por isso a escolhi para um dos 10 da minha corrente da amizade.

1:50 PM  
Anonymous Anonymous said...

brilhante. sem espinhas.

6:41 PM  
Blogger Leonor said...

PARA JMC

ola JMC.´
é verdade, rss
nós portugueses, temos a habilidade de fundamentar a realidade com o senso comum, melhor que qualquer fundamentaçao cientifica.

abraço da leonoreta

8:05 PM  
Blogger Leonor said...

PARA ANONIMO

olá, olá!
obrigado pela sua presença. senti-lhe a falta.

abraço da leonoreta

8:07 PM  
Blogger . said...

Muito diferente...lol :)

7:17 PM  
Blogger Haddock said...

amígdalas no cérebro??
essa é boa!!
santa ignorância, a nossa...
por isso quando fomos operados a elas tínhamos tantas dores de cabeça e depois insistiam que comessemos gelados!! e nós só gostávamos de "perna de pau", que estava esgotado...

(somos um bocadinho para o parvo, mas bem intencionados... ah, e somos mais para as humanidades)

9:42 PM  
Anonymous Anonymous said...

São sonhos , simples sonhos ...
Serão nossos eternos companheiros .

Aqui deixo o convite para passares pelo meu humilde albergue .

9:42 PM  
Blogger Eremit@ said...

então é em consequência dessa outra amígdala que desconhecia que muitas vezes já saí dos transportes públicos antes de chegar ao destino antes que o último F me dominasse ou o outro "fight" mas implicaria correr certas pessoas dos transportes...
Há uma anedota que mete uma multidão e um leão. nessa multidão há um côxo. Começa tudo ao fugir, mas uma alma
atenta e generosa, com pena do côxo grita um aviso: "Olhem o cõxo, olhem o côxo..."
O côxo não entende o.."cuidado" e introduz, à portuguesa, um outro "F"...
Fraterno abraço e bom fim-de-semana

10:15 PM  
Blogger augustoM said...

Boa dica! Quando quisermos afastar indesejáveis, toca a andar em transportes públicos, porque o mau cheiro não é exclusivo do Metro.
Um beijo. Augusto

1:25 PM  
Blogger rui said...

Olá Leonor

Com a dose certa de bom humor, misturado com a fantasia e o real, eis o resultado: um bom texto!

Gostei

Abraço

2:32 PM  
Blogger Paula Raposo said...

Um excelente texto!! Beijos.

11:05 AM  
Blogger Pepe Luigi said...

Leonoreta,
És verdadeiramente fantástica! Esta tua crónica que lemos num ápice e se engrandece na mente é de um verdadeiro realismo surreal.
Parabéns pelo teu poder de captação e ao mesmo tempo pelo rigor no conceito da explanação.

Um beijinho
do Pepe.

6:22 PM  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Leonor
A imaginação leonina não tem preço :) sonham em ganhar, mas falham (o 5º F). Bolas, não sei porque me deu para este comentário tão futeboleiro, deve ser do tempo... :)
Um beijo
Daniel

7:09 PM  
Blogger deep said...

o corropio, as urbes , a vida e a resposta de cada um....aceitar, acatar, tolerar, lutar, revoltar...ou fugir. Cada umc om seus meios e armas e o juizo de cada tempo e espaço...

um abraço

11:29 AM  
Anonymous Anonymous said...

Venho agradecer a visita e, deixo estas três linhas do novo poema , que dedico a todas as mulheres , e a nós homens que as amamos .

"Em fragrância na água cristalina
Gotículas salpicam-na maravilhadas
O sensual corpo de mulher menina"

Continuação de boa semana .

7:17 PM  
Blogger Mocho Falante said...

ahahahahahahahahaha

esta tua imaginação é de deixar de orgulho qualquer fissura de Silvius ou fissura de Rolando

beijocas

10:52 PM  
Blogger Eremit@ said...

Aproveito para dizer que publiquei um novo post e deixar um fraterno abraço.

11:03 PM  
Blogger happiness...moreorless said...

Gosto da tua imaginação =) e achei interessante a história!

beijinho e bom fim de semana*

10:53 AM  
Blogger lena said...

Leonor,amiguinha linda

os efes, como os soubeste bem usar, neste texto tão interessante, numa mistura do real onde a fantasia lhe deu um toque especial

bem conseguído minha amiga linda, o que escreves tem sempre o condão de me prender.

adoro ler-te, adoro-te por seres mesmo especial

abraço-te muito com carinho e ternura. abraço-te até te sentir

beijos doce amiga


lena

11:33 PM  
Blogger José Gomes said...

Depois de ler o artigo anterior não resisti a ler este... e estou de boca aberta! De amígdala só conhecia a da garganta e das cenas que fiz quando as tiraram!!!! A cena do cheiro pestilento dos sovacos não é só exclusivo do Metro... muitas vezes na rua é de cair para o lado!!!
Agora essa do leão e do final que deste para a história... só mesmo tu!!!
Um abraço,
José Gomes

8:48 AM  
Blogger APC said...

Eheheheheh... To faint, ou como fazer-nos de mortos... Que também costuma ser uma boa defesa no reino animal. Quando o Verão ameaça, aparecem-me em cima da secretária, encostada à janela que, as mais das vezes, está entreaberta, uns insectozinhos minúsculos que não fazem mal a ninguém. De vez em quando aproximo, cuidadosamente, a ponta de uma caneta a um deles... E não é que aqueles dissimuladões paralizam de imediato, deixando-se rodar sobre si mesmos e acabando por ficar de patas para o ar? E chegam a permanecer nesse fingimento tempos a fio! Ora, se não é de quem não tem mais nada para fazer, hem? - agora acho que estou a falar de mim! :-S

Pois bem. Gostei muito de te ler (escreves com uma graça e uma graciosidade bem tuas!), e de saber que tudo correu bem no hospital. Sim, porque assim que li que acordaras num, pensei logo: - Ó, céus!... Ela que não me tenha ali entrado com uma amigdalite, ou poderá estar bem arranjada!...

... ... ...

Beijinhos!***

12:32 AM  
Blogger APC said...

PS - Por acaso também sempre achei que aquela estação de metro do Jardim Zoológico um dia podia dar bronca! :-P

12:33 AM  
Blogger SILÊNCIO CULPADO said...

Pois mas nunca fiando. O leão enjoado com os cheiros nauseabundos pode interessar-se por quem, embora contaminada, tenha resquícios de outros odores mais voluptuosos e atractivos.

9:52 PM  

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