Ex Improviso

Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

My Photo
Name:
Location: Lisboa, Portugal

Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Saturday, November 11, 2006

O texto à volta do texto

De repente, autores que, timidamente, eu tinha sentado a conversarem a um canto da minha memória, levantam-se e fazem mesa redonda bem no meio da minha percepção mental activa.

Chomsky, Vigotsky, Saussurre, Piaget, Brunner, Morin, Popper, Durkeim…

Descobri Scholes. Robert Scholes. Em Protocolos de Leitura. Um dos livros impingidos para nele trabalharmos o texto e suas textualidades.

Antes de me debruçar sobre o fio orientador já indiciado pelo título deleito-me muito tempo com cada palavra da dedicatória.

Penso nas dedicatórias como o texto afectivo do texto que se segue. Tem de ser feita com muito cuidado e por isso o carinho colocado em cada palavra, cuidadosamente escolhida, torna-se racional, mas jamais despojada da emoção inicial.

Em Protocolos de Leitura a dedicatória começa assim:

“Dedicado a Jo Ann Schott Putnam – Scholes.

Toda a história de uma vida nestes nomes e ainda bem que o meu vem em último lugar!”

(não a vou colocar aqui a dedicatória completa. Apenas as partes que constituem um texto dentro do texto da minha vida como diria Roland Barthes.)

Depois Scholes acaba a dedicatória, supostamente à esposa que morreu, com um poema de um amigo comum aos dois. Escreverei somente o primeiro verso.

“Amarga só por ti me é a morte”.

Poderia comentar. Não comento. Leio somente as palavras e guardo-as. Como guardei as palavras de José Gomes Ferreira, há muitos anos, na dedicatória que fez na primeira edição das “Aventuras de João Sem Medo”.

“ para os meus dois filhos: (que distavam um do outro cronologicamente vinte anos)

Para ti, Raul José, homem há muito – e homem autêntico – que aprendeste à tua custa que a verdadeira coragem é a força do coração.
Para ti, Alexandre, ainda criança, mas já com todas as tendências para não te tornares num desses falsos adultos que sujam o mundo e odeiam a imaginação.”


E mais não há a dizer. Somente ler. Somente “ouvir”.

Da Leonor

21 Comments:

Blogger António said...

Querida Leonor!
Um post bem diferente do habitual.
Serão influências do mestrado?
Tem um toque intelectual, q.b..
É bonito, o texto.
Gostei!

Beijinhos

2:16 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Queres surpreender?
Força!
Surpreeende!
ah ah ah

Beijinhos

6:54 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá, Leonor!
Como sempre, é sempre um enorme prazer ler os teus textos!
Que tenhas um bom fim de semana!
Bjs

6:56 PM  
Blogger Daniel Aladiah said...

Querida Leonor
E há livros que nunca poderiam ter dedicatória, porque seria incompreendida pelos destinatários, caso do meu...
Contudo, sempre se dedicam as palavras a cada leitor, pois este fará delas o seu proveito, apesar do que elas dizem...
Um beijo
Daniel

9:48 PM  
Blogger M.P. said...

Bonito o que escreveste!
Gosto da maneira como trabalhaste a frase dando-lhe um som que pode ser ouvido pelos teus leitores.
Eu ouvi-te!
Beijinho

10:49 PM  
Anonymous Anonymous said...

Não foi desta. (e o desta, pressupões a velada mas segura esperança na ocorrência certa, a despeito que sem data, mas mais coisa menos eminente). Mas há formas gritantes de (este de autenticamente aos gritos) celebrar o enriquecimento. E já me dói a garganta de tanta berraria, (mais que a pulmonada, que o fôlego não esmorece) nesta celebração que dura há uma semana. Nunca antes a mim, a contradição aparente, (resolvida que se fez), revelou tanta luz, como estas matinas de sábado, prometidamente soalheiras. Ele há coisas do diabo. Estamos sempre a tempo de ficar ricos.
(dedico esta dedicatória, à fonte da riqueza)

1:19 AM  
Blogger Zé-Viajante said...

E os desejos de um bom fim de semana.

8:38 AM  
Blogger augustoM said...

Uma dedicatória encerra em si um acto de amor ou de gratidão, onde as palavras escolhidas procuram estabelecer uma ponte entre o autor e o destinatário, por isso, há dedicatorias que são autenticos monumentos ao relacionamento humamno.
Um beijo. Augusto

10:19 AM  
Blogger Maria Carvalho said...

Sem mais!! Coisas que só se lêem e se sentem...Beijos.

10:22 AM  
Anonymous Anonymous said...

Olá Leonor,
E hoje falas de uma qualidade tão determinante para a vida de cada um de nós: a gratidão.
É grato quem sabe receber. (Esse é o verdadeiro rico). Sabe receber quem valoriza o que está a ser-lhe dado ou disponibilizado.

E tanto tanto que há a dizer sobre este tema!

Este é mais um dos teus belos textos que eu venho receber semanalmente com prazer e geralmente com muita ternura.

Beijinhos e uma optima semana para ti e Cª.

Ana Joana

1:46 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Aqui estou eu com o agradecimento da praxe.
Então não esperavas por este ataque fulminante da Ana Maria?
Ela é uma mulher dos diabos...eh eh.
Dominadora!
Lembraste quando pôs o marido infiel (o Francisco) na rua?

Beijinhos para ti

2:53 PM  
Blogger saltapocinhas said...

Não conheço o livro, mas a julgar pela dedicatória parece interessante... Recomendas?

7:32 PM  
Blogger Leonor said...

PARA ANA JOANA

ola ana
este é a segunda resposta que te dou porque a primeira foi-se...

concordo contigo quando falas de gratidao e nunca tinha visto isso dessa maneira. por isso gosto de conversar com as pessoas.
acerca da concordancia, proust dizia mais ou menos isto - ideias boas sao aquelas que apresentam o mesmo grau de confusao das minhas.

quanto a paciencia perguntei ao vp. de facto, o que torna o empreendimento interessante é a nova perspectiva que os professores, fantasticos, dao aos temas que ja conheces.
mas creio que é assim desde a primaria. é o grau de dificuldade...

beijinhos da leonoreta

7:43 PM  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querida Leonor

Adorei este teu post.
Fizeste-me lembrar alguns nomes (grandes), nomes que foram e serão sempre uma grande referência para mim.
Embora passe algum tempo que não os leio, as mensagens estão cá – “vivem na cabeça” activamente:) – e têm uma actuação muito importante na minha vida diariamente - saltam quando é necessário

Eu gosto muito de Vigotsky. Ele diz e muito bem, que temos capacidade de produzir o aparecimento de novas maneiras de pensar e onde a intermediação de outros podem desencadear o processo de modificação de esquemas de conhecimentos que se tem.

Construindo-se novos saberes estabelecidos pela aprendizagem escolar. Recebendo intervenções pertinentes nesse espaço, a mente humana pode, em outras e novas oportunidades, desenvolver esse mesmo esquema de procedimentos, aprendendo de maneira autónoma.

Beijinhos com muito carinho
BoaSemana

9:25 PM  
Anonymous Anonymous said...

És generosa, Leonor. Teu coração comporta o mundo, mas sentes o peso desse mundo. E mais não digo, a não ser que te percebo como alguém muito, muito especial - que aprendi a gostar -, inicialmente pelos textos, depois, aos poucos, por tudo que havia/há par'além dos mesmos, amiga-irmã.
Um abraço fraterno, extensivo ao VP.
(2ª feira. O dia amanheceu nublado. Cá dentro anseio pela chuva, pois hoje, apesar de não ser Gene Kelly, sinto que poderia dançar na chuva. rss)

11:39 AM  
Anonymous Anonymous said...

Um comentário não deixa de ser uma dedicatória que estranhos te deixam. Se é de gratidão, de admiração, de cortesia...
Os meus são de um misto de tudo, não porque fique bem fazê-lo, mas porque o sinto e revelo.
A frase acerca do menino que não se espera que seja um adulto que suja a [sua ou não...] existência é muito forte e uma esperança que alimento no que toca à minha prole. Há livros que nos encharcam os sentidos... Há dedicatórias que são livros dentro dos mesmos. Alguém escreveu que tu sabes ler e escreveu muito bem! Eu ainda espero conseguir um dia essa dádiva, essa maravilha...
Este texto é diferente, muito bem escrito como os demais mas mais adulto e com as habituais mensagens que neles depositas de uma maneira muito subtil mas sempre forte.
Adorei!!!
beijinhos...

12:49 PM  
Blogger Mocho Falante said...

lindo Leonor lindo...é fantástico as coisas que partilhas por aqui

beijocas e obrigado

7:19 PM  
Blogger Barão da Tróia II said...

Um excelente exemplo do "ouvir" a ler, porque a ler este teu post, estou a ouvir um pouco da tua alma, gostei.

2:17 PM  
Blogger António said...

Querida Leonor!
Esta visita é só para agradecer o teu comentário lá no meu canto.
Amanhã cá estarei para ler o teu novo post.

Beijinhos

2:01 PM  
Blogger APC said...

É... Por vezes (poucas vezes) a palavra consegue, de forma muito próxima à perfeição, dizer do mais profundo de alguém que se avém com a vida num momento. Ela vai ao poço do sentimento de si, e regressa com uma amostra da substância mais genuína de que é feito quem a pensa e a profere, coroando assim tudo o que se não disse, a coberto do que foi dito, marcando-nos, deliciosamente...

Linguístas, psicólogos, sociólogos, antropólogos... A todos esses chamas para verem, e mais viriam (de toda a parte, toda classe ou condição) para a roda humana que se forma em redor da compreensão de mensagens especiais que intuitivamente o Homem traduz... Porque as verdadeiramente bem expressadas, são as que são perfeitamente entendíveis, na sua profundidade, completude e beleza.

É assim que um ser humano comunica com os restantes através de uma via privilegiada. Não é para todos, porque escasseiam os que o consigam fazer.

Dêm de comer a um povo, defendam-no da doença e dos perigos. Depois dêem-lhe cultura, para que possa saber e fazer por si. Por fim, convidem a sua alma a falar com as outras, para que ele possa Ser.

Dedicatórias dessas São-no. E são de quem o É!

Um abraço.

3:25 AM  
Blogger APC said...

Reparaste que fiz do Durkheim um antropólogo, erradamente? :-*

3:28 AM  

Post a Comment

<< Home