Origamis
Sentada no seu canto da marquise, de janela aberta para receber o fresco que começa a correr ao fim da tarde, Leonor arruma fichas do ano lectivo que acabou, num dossier de lombada larga a que deu o nome “para arrumar com calma no dossier respectivo”.
Gil afasta a cortina do seu quarto, uma das saídas daquele canto pequeno onde cada prateleira e cada gaveta minuciosamente arrumadas valem ouro pelo espaço disponível que oferecem.
Gil afasta a cortina e cola a cara no vidro da porta preumindo um zombi. Leonor esboça um sorriso mas finge que não o vê. É brincadeira mas a expressão dele, quieta no seu olhar vítreo, secretamente, assusta-a.
Perante a frustração de não ser reconhecido como o homem das catacumbas, Gil abre a porta e diz em alto e bom som: BOA TARDE!
Vem conversar comigo. Contar o dia de hoje ou o anterior. Coloca as duas mãos no parapeito da janela e olha o verde da paisagem enfeitado pelo melro solitário que habita desde sempre o espaço em frente. A sua contemplação não dura muito tempo. Miudo, rapaz, homem irrequieto, pega numa folha pautada A4.
- Olha para mim! – diz ele, roubando a minha atenção seja a que preço for. – Estimado público, precisamos de um quadrado. – E corta um quadrado. – Depois dobramos o quadrado ao meio. Assim desta maneira. – E roda o quadrado para um enorme suposto público ver bem a dobra . – depois, dobramos o lado esquerdo e seguidamente fazemos o mesmo do outro lado.
- Gil! Não me vais ensinar a fazer um avião. Gil! Pára. Eu sei fazer aviões há anos. E depois daqui desta casa só saem aviões de papel ou pela porta da rua ou pela janela da varanda. Por favor!
- Fazemos mais uma dobra do lado esquerdo e seguidamente…- Gil ignora as súplicas da mãe.
- OH! “CA PACIÊNCIA, PÁ!”. Eu não quero saber de aviões para nada. - grita Leonor. - eu já não posso ver aviões à minha frente.
- Agora desmanchamos tudo! E perante a notável tentativa de erro do estimado público, dobramos metade do lado esquerdo em leque e metade do lado direito… em leque também.
As novas dobragens do origami prenderam a atenção de Leonor. Ali estava uma coisa nova.
- Mais uma dobra para cima. E mais outra. Estimado público… taraaaaaaaaaam!
- Que giro! Um cisne! Tão giro!!! Já posso fazer com os miúdos quando contar o Patinho Feio. – disse Leonor deliciada, admirando o boneco de todos os lados.
- Hã, hã! Pois podes! - O gil gozava a vitória obtida com o meu encantamento, com uma cara pretensiosamente indiferente. Depois explodiu no seu bom humor - MAS É CÁ UMA PACIÊNCIA, PÁ!
da Leonor
Gil afasta a cortina do seu quarto, uma das saídas daquele canto pequeno onde cada prateleira e cada gaveta minuciosamente arrumadas valem ouro pelo espaço disponível que oferecem.
Gil afasta a cortina e cola a cara no vidro da porta preumindo um zombi. Leonor esboça um sorriso mas finge que não o vê. É brincadeira mas a expressão dele, quieta no seu olhar vítreo, secretamente, assusta-a.
Perante a frustração de não ser reconhecido como o homem das catacumbas, Gil abre a porta e diz em alto e bom som: BOA TARDE!
Vem conversar comigo. Contar o dia de hoje ou o anterior. Coloca as duas mãos no parapeito da janela e olha o verde da paisagem enfeitado pelo melro solitário que habita desde sempre o espaço em frente. A sua contemplação não dura muito tempo. Miudo, rapaz, homem irrequieto, pega numa folha pautada A4.
- Olha para mim! – diz ele, roubando a minha atenção seja a que preço for. – Estimado público, precisamos de um quadrado. – E corta um quadrado. – Depois dobramos o quadrado ao meio. Assim desta maneira. – E roda o quadrado para um enorme suposto público ver bem a dobra . – depois, dobramos o lado esquerdo e seguidamente fazemos o mesmo do outro lado.
- Gil! Não me vais ensinar a fazer um avião. Gil! Pára. Eu sei fazer aviões há anos. E depois daqui desta casa só saem aviões de papel ou pela porta da rua ou pela janela da varanda. Por favor!
- Fazemos mais uma dobra do lado esquerdo e seguidamente…- Gil ignora as súplicas da mãe.
- OH! “CA PACIÊNCIA, PÁ!”. Eu não quero saber de aviões para nada. - grita Leonor. - eu já não posso ver aviões à minha frente.
- Agora desmanchamos tudo! E perante a notável tentativa de erro do estimado público, dobramos metade do lado esquerdo em leque e metade do lado direito… em leque também.
As novas dobragens do origami prenderam a atenção de Leonor. Ali estava uma coisa nova.
- Mais uma dobra para cima. E mais outra. Estimado público… taraaaaaaaaaam!
- Que giro! Um cisne! Tão giro!!! Já posso fazer com os miúdos quando contar o Patinho Feio. – disse Leonor deliciada, admirando o boneco de todos os lados.
- Hã, hã! Pois podes! - O gil gozava a vitória obtida com o meu encantamento, com uma cara pretensiosamente indiferente. Depois explodiu no seu bom humor - MAS É CÁ UMA PACIÊNCIA, PÁ!
da Leonor
15 Comments:
Ola minha querida Leonor.. :D passei aqui para deixar um beijinho grande
e um bom fim de semana para ti ***
Delicioso...
Querida Leonor,
Voltei com saudades enormes de ler os teus textos. Começei por este. Um texto recheado de ternura, que me prendeu, dando-me um largo sorriso! O teu Gil é uma surpresa ;-) Em vez de um avião, fez um belo cisne. Para te encantar, um amor de filho!
Vou continuar a ler mais textos... Até já!
Artista sofre com a incompreensão do público.
Um beijo. Augusto
Leonor, que bom te ouvir, amiga! É desses retalhos de vida que muitas vezes retiramos forças para superar os momentos difíceis. Ao reteres tais eventos mágicos, levas ao longe a mágica do pequeno Gil.
Um abraço fraterno, extensivo aos teus queridos.
Mais uma vez a Leonor e o Gil encontraram-se na amizade que os une.
Desta vez nas tuas terras, nas tuas raizes, no meio daqueles que gostas...
Para quê um avião se tens um cisne feito pelo teu patinho Gil.
Delicioso, Leonor.
Boas f+erias e espero que o calor te faça esquecer os dias frios do Norte.
Um abraço
Olá Leonor:
Uma lição para a vida.
Gostei da visita e prometo voltar.
Um beijo,
Leonor, a contadora de histórias...
Ás vezes as coisas acabam por não ser aquilo que pareciam ao inicio. Boa semana.
Querida Leonor!
Mas que pedacinho da tua vida tão delicioso.
E sempre, sempre, o teu sentido de humor, muito "british", que eu adoro.
Não faças pausas...eh eh
Beijinhos
LOL. Gostei. Origami Rules Dude. Boa semana
Bonita história! Quem diria que de um avião se faria um cisne?
Com paciência tudo se faz.
um beijo
So para te deixar um beijinho, vou de ferias voltarei para a semana :)
Van
Curiosamente, a música que mais me fascina é a dos anos 60. E tenho muitos gostos semelhantes com os teus.
beijos
não sei fazer nada com papel, a não ser o avião e o barquinho...Emprestas-me o teu filho??
Cool blog, interesting information... Keep it UP »
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