A circunstância
São oito horas da noite de uma sexta feira de Junho. Há duas que Leonor chegou do norte do país. Para a semana cumpre a sexagésima segunda ou quarta viagem entre o Minho e Lisboa. Mais viagem, menos viagem. Ela podia tê-las contabilizado ao pormenor através dos rebuçados que a hospedeira distribuía aos passageiros a cada viagem mas a meio do tempo perdeu-se em fragmentos neurónicos que se alojavam casualmente em determinados pontos da sua massa encefálica, deixando-lhe todo o resto em branco, sem nenhuma expectativa de sinapse entre eles. Além do mais, a meio do tempo, passou a comer os rebuçados também.
Tomou duche. O cheiro do seu gel, o toque da sua esponja trouxeram-lhe aos poucos a recordação guardada inconscientemente das paredes do seu duche. Abre a gaveta da sua cómoda. Remexe nas suas t-shirts. Escolhe o seu pólo branco de cavas. Troca de mala de mão. Sai para a rua para jantar num restaurante. Aquele lá em baixo, em Cacilhas, na esplanada, virado para o rio.
VP, mais rápido, vê o correio daquele dia com a caixa ainda de porta aberta. Lê um panfleto publicitário de uma excursão e passa-o a Leonor quando esta se chega perto.
- Excursão ao Minho! Queres ir? – pergunta-lhe ele irónico.
Todas os palavrões conhecidos ao longo da vida de Leonor saem da sua boca numa sucessão ininterrupta. Locke diria que a circunstância faz o indivíduo. VP faz um avião do panfleto, sopra no bico para aquecer os motores e mete-o a voar.
Tomou duche. O cheiro do seu gel, o toque da sua esponja trouxeram-lhe aos poucos a recordação guardada inconscientemente das paredes do seu duche. Abre a gaveta da sua cómoda. Remexe nas suas t-shirts. Escolhe o seu pólo branco de cavas. Troca de mala de mão. Sai para a rua para jantar num restaurante. Aquele lá em baixo, em Cacilhas, na esplanada, virado para o rio.
VP, mais rápido, vê o correio daquele dia com a caixa ainda de porta aberta. Lê um panfleto publicitário de uma excursão e passa-o a Leonor quando esta se chega perto.
- Excursão ao Minho! Queres ir? – pergunta-lhe ele irónico.
Todas os palavrões conhecidos ao longo da vida de Leonor saem da sua boca numa sucessão ininterrupta. Locke diria que a circunstância faz o indivíduo. VP faz um avião do panfleto, sopra no bico para aquecer os motores e mete-o a voar.
da Leonor
16 Comments:
ahahahahah!! Sabes, se publicares os palavrões que disseste ao marido ainda te convidam para transformares o teu blog num livro!!
E olha que o teu bem merecia, mesmo sem palavrões!!
beijinhos sua moura!!
VP personificou a sátira, que tantas vezes nos acompanha na vida.
Um beijo. Augusto
Leonor é uma manhã de Domingo, acordei, liguei o pc e sabia que encontraria certamente aqui um post teu, são os meus acordares de domingo, vir ler-te, "Ex improviso", depois sempre que posso vou ver o mar, hoje só o vou poder sentir
venho sempre com curiosidade e com um respeito muito grande, pelas tuas partilhas,
esta é quase uma despedida ao Norte, ao Minho que adoro e conheço, em férias minhas, mas um Minho onde não saberia viver, engraçado, como admiro a sua paisagens, mas de passagem
imaginei esse avião construído de papel e a nostalgia tocou-me pelos aviões que fazia em criança, mas mais pela saudade que tenho da terra onde nasci,
um avião que senti, o barulho dos motores, um arrancar deliciosamente e partir...
belo o teu post como sempre, faz-me pensar e sonhar...
a saudade existe sim e hoje dizes palavrões, amanhã é uma doce saudade que te toca de longe
essa é a tua cidade, a cidade que te toca e que sentes, sabes onde pisas, o que encontras, aí não te faz sentir em casa alheia
acredita que fiquei feliz pela tua colocação, já te tinha dito, a vida transformasse de repente quando nos arrancam dos nossos caminhos, por nós tão conhecidos
hoje alonguei-me, admiro-te muito, pela tua força, pela tua escrita e sim tenho a certeza: o teu blog dava um excelente livro
beijinhos que vão até ti com carinho e deixa que te abrace doce Leonor
lena
Querida Leonor!
Apesar da minha pausa vim aqui deliciar-me com a tua escrita, esse humor irónico de que que tanto gosto.
Mas deixa-me fazer-te uma pergunta.
Tu conheces Caminha? Vila Nova de Cerveira? Valença? Monção? Melgaço? Terras do Bouro? Gerês? Ponte de Lima? Arcos de Valdevez? Ponta da Barca? Paredes de Coura?
Não?
Então vai depressa apanhar o avião de papel e voa nele para conheceres o Minho que não conheces (penso que estiveste perto de Viana e pouco mais visitaste).
Vai por mim, ó Leonor, e pela verdura...eh eh
Beijinhos
Querida Leonor
As terras são as pessoas, como sabemos. A tua reacção diz-me que não foste feliz como querias no Minho. Para além disso, tanta viagem cansa... eu sei o que isso é do tempo da tropa.
Um beijo
Daniel
Acredito que, depois de 60 viagens entre o Minho e Lisboa não tenhas muita vontade de fazer essa excursão! Foi melhor o VP fazer um avião e mandá-lo à vida!
Terias um motivo, Linda, para "mergulhares" naqueles olhares do Minho que a "obrigação de o ver, apenas!" te impediu de conhecer, na plenitude da cor, aroma e sabor ;)
Há um tempo para tudo.
Agora, essa excursão "voou" num aviãozinho de papel...
Reconhece o teu espaço, mima-o, disfruta-o, reconhece-lhe os espaços a que não deste importancia. Mereces, mais do que óbvio.
Não há nada que seja soboreado se não for por prazer.
Qunado nos é imposto, custa a passar como tudo!
Mas vai haver outro tempo.
Então sim, quando o VP abrir a caixa de correio, vais dizer-lhe que queres vir até cá ouvir este Minho bonito.
Vais adorar saboreá-lo, porque vai ser com prazer :-)
Tudo de bom, Leonor Bonita, desta minhota que te adora ler***
... E formosa, nesta escrita, mescla de peculiarmente espontâneo e humoradamente original.
Mais uma excelente texto aqui deixado. Olha a sorte e onde o panfleto publicitário foi ter...Mas, como diz o António, o Minho é tão bonito que muitos gostariam de o conhecer.Bjs
Excelente. Acho que deviam recomendar o teu blogue aquela malta que está no Ministério da Educação. Boa semana
Palavrões à moda do Minho?
Coitado...
Beijinhos
e por pouco não tinha ele que se por a mexer rapidamente.loooll mas que foi bem metida foi
beijocas
Deliciosa escrita cheia de humanidades...volto se não te importares...
Um beijinho "O ALQUIMISTA"
Vou pensar na tua proposta. Dieta faz bem!
Pode voltar se quiseres ler o resto daquele dia.
Beijinhos
:)))
Um beijo, Leonor*
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