Mete a mão no saco
Mesmo que gostemos muito do nosso trabalho, nele existe sempre algo que dispensamos de bom grado. Como professora, não gosto de avaliar os meus alunos. Não gosto de catalogar o Bruno como o melhor aluno da sala e a Diana como a pior. Apesar de ser um facto que as duas crianças apresentem capacidades cognitivas diferentes, na verdade, as aprendizagens não se fazem de maneira igual e se algumas coisas podem escapar ao Bruno, outras a Diana apreendeu.
Deste modo, penso que a avaliação das competências adquiridas é a parte mais séria do processo ensino aprendizagem e tem que ser feita com muita consciência. Meu deus! Estou a vomitar o que aprendi na universidade.
Como avalio o meu aluno? Pelo trabalho, pelo empenho, pelo interesse, pela atenção, pela vontade que mostrou em participar e em melhorar os seus erros. Se o ritmo lento da Diana não a levou tão longe como levou ao Bruno, levou-a a meio do caminho e é isso que eu vou ter em conta quando a avaliar.
Mas o pior chega quando tenho de escrever num espaço de cerca de quinze centímetros por quatro uma redacção que, simultaneamente, diga ao aluno que não está mal e diga ao encarregado de educação que o seu educando podia estar melhor.
Levo tempo a escolher as palavras certas para que ninguém fique comprometido, particularmente, eu. Porque se é certo que nenhuma aprendizagem é nula também é certo que umas aprendizagens se fazem melhor que outras.
As avaliações implicam a reunião com os encarregados de educação e um discurso bem preparado da professora para que aqueles não demorem muito tempo a entender que todos (professora, encarregado de educação e aluno) têm funções a cumprir para que tudo se realize no sentido esperado. Mesmo assim, não escapo a quatro horas de conversa, divididas por dois dias.
Nunca autorizo a presença do aluno nas reuniões, a não ser na última, em que ele sabendo que já passou de ano, tem realmente a confirmação. Mas não é por causa disso que o quero presente. Há a surpresa de todos “meterem a mão no saco dos ditados” que pode ir desde um chocolate a uma borracha ou um cromo. Durante o ano só “metia a mão no saco” quem tinha 0 erros.
- Cuidado com a aranha morta que eu coloquei ai ontem. – vou sempre avisando.
Eles gritam apavorados, retirando a mão do saco repentinamente. Depois, continuamos a brincadeira.
Até agora nunca retive um aluno. Prefiro “puxar” por ele depois do Natal até ao fim do ano lectivo para que transite, sabendo interpretar um texto e fazendo as quatro operações com aquela sensação de que é bom aprender e saber fazer. Não sou eu que vou carregar uma criança com o estigmatizante rótulo de “burro” para toda a sua vida.
Sinto a vontade dos pais em meter a mão no saco também. Um dia deixo-os experimentarem.
da Leonor
Deste modo, penso que a avaliação das competências adquiridas é a parte mais séria do processo ensino aprendizagem e tem que ser feita com muita consciência. Meu deus! Estou a vomitar o que aprendi na universidade.
Como avalio o meu aluno? Pelo trabalho, pelo empenho, pelo interesse, pela atenção, pela vontade que mostrou em participar e em melhorar os seus erros. Se o ritmo lento da Diana não a levou tão longe como levou ao Bruno, levou-a a meio do caminho e é isso que eu vou ter em conta quando a avaliar.
Mas o pior chega quando tenho de escrever num espaço de cerca de quinze centímetros por quatro uma redacção que, simultaneamente, diga ao aluno que não está mal e diga ao encarregado de educação que o seu educando podia estar melhor.
Levo tempo a escolher as palavras certas para que ninguém fique comprometido, particularmente, eu. Porque se é certo que nenhuma aprendizagem é nula também é certo que umas aprendizagens se fazem melhor que outras.
As avaliações implicam a reunião com os encarregados de educação e um discurso bem preparado da professora para que aqueles não demorem muito tempo a entender que todos (professora, encarregado de educação e aluno) têm funções a cumprir para que tudo se realize no sentido esperado. Mesmo assim, não escapo a quatro horas de conversa, divididas por dois dias.
Nunca autorizo a presença do aluno nas reuniões, a não ser na última, em que ele sabendo que já passou de ano, tem realmente a confirmação. Mas não é por causa disso que o quero presente. Há a surpresa de todos “meterem a mão no saco dos ditados” que pode ir desde um chocolate a uma borracha ou um cromo. Durante o ano só “metia a mão no saco” quem tinha 0 erros.
- Cuidado com a aranha morta que eu coloquei ai ontem. – vou sempre avisando.
Eles gritam apavorados, retirando a mão do saco repentinamente. Depois, continuamos a brincadeira.
Até agora nunca retive um aluno. Prefiro “puxar” por ele depois do Natal até ao fim do ano lectivo para que transite, sabendo interpretar um texto e fazendo as quatro operações com aquela sensação de que é bom aprender e saber fazer. Não sou eu que vou carregar uma criança com o estigmatizante rótulo de “burro” para toda a sua vida.
Sinto a vontade dos pais em meter a mão no saco também. Um dia deixo-os experimentarem.
da Leonor
27 Comments:
olá
Boa semana.
Tudo de bom para a tua vida.
Querida Leonor
É bem verdade. A avaliação é a menos querida das actividades dum professor. Mas serve também para que possas dar mais atenção (sem esquecer os outros) aos que têm mais dificuldades. Sei que o consegues com sucesso, parabéns! Ser professor é uma missão, não uma profissão...
Um beijo
Daniel
Querida Leonor!
Desta vez fizeste um texto mais formal e mais sério, fugindo ao que é o teu habitual.
O que não quer dizer que não seja um post rico de conteúdo e bem escrito.
Beijinhos
Doce Leonor,
senti-me feliz por te ler, por saber que és assim, maravilhosa, precisávamos mais professoras com esse teu carinho e dedicação,
envolveste-me nesses riscos e como os compreendo,
deixei uma carreira, por não conseguir "julgar" será avaliar,
é para mim mais fácil ensinar do que chegar ao fim de um ano e dizer em poucas palavras o que esteve menos bem, se todos ao seu doce caminhar cumpriram,
também nunca retive um aluno, mas a minha vocação não pendia para esse lado, sinto-me bem assim
o carinho que tenho pelos professores é muito grande, mas é maior os carinho que tenho por cada criança, que sentia como um prolongamento de mim numa sala de aula
obrigada por seres assim, especial e cada vez que te leio mais te admiro, pela tua força
os teus meninos certamente se orgulham da professora que tiveram e não se vão esquecer facilmente, acredito que nem tu te vais esquecer deles, é sempre assim, quando se gosta, gosta
um beijo com carinho e o meu abraço cheio de ternura
lena
É a pior parte sim. Também porque nos avaliamos imenso enquanto avaliadores. E porque há algo que sempre nos escapará no todo: a potencialidade dos indivíduos... Que é aquilo que os levará a aprender mais do que lhes démos, e a aplicar as competências no momento em que tal lhes seja exigido.
Existe uma coisa que em psi se discute: ZDP - Zona de Desenvolvimento Proximal. De forma simples (mais que isso, simplista), representa o "ponto" em que o indivíduo (no teu caso, a criança) está capaz de saber, fazer ou ser, "se apenas qualquer coisa"... Qualquer coisa que lhe dês, faças ou sejas.
Com esse qualquer coisa que lhes dás para além de tudo o mais, poderão vir a poder muito mais do que tu vês. E avaliar sentindo isso, acreditando nisso e amando isso é tão pouco, não é?
:-)
Um abraço.
Como gostei.Alunos como a Diana e o Bruno devem admirar-te pelo que és.Compreendo o dilema e partilho tudo que dizes.Abraço
Olá Leonor, abordas um dos maiores problemas da nossa sociedade, a discriminação em função do objectivo, não tendo em consideração, que nem todos nasceram com as mesmas capacidades, ou pelo menos com as capacidades requeridas para atingir esse objectivo. Deve ser muito difícil avaliar alunos, usando “tabelas de avaliação pré estabelecidas”, sobrepondo a objectividade à subjectividade.
Uma criança que se esforça por aprender, deverá ter menos nota que outra mais bafejada pela mãe Natureza, sem necessitar desse esforço, alcança melhores resultados?
Temos um problema de consciência perante o valor que damos à inteligência. Valorizar a inteligência, é uma forma de descriminação, que não posso admitir, sejam quais forem as razões. Se a aceitarmos na escola, então temos de aceitar na vida, e nesta, não passamos de uns burros, comparados com as mentes brilhantes dos cientistas.
Concordo que deve ser muito difícil penalizar o aluno, que tendo empregue todo o seu empenho e entusiasmo, mas devido ao grau seu cognitivo, vê frustrado todo seu esforço. Porquê têm de haver campeões?
Enquanto mantiveres as “tabelas” perto do teu coração, serás sempre uma grande professora.
Um beijo. Augusto
Gostei muito do blog e dos sentimentos/preocupações expressos.
A educação, lato sensu, é tudo isto!...
Visita o meu blog e critica. Preciso de alguém a dizer mal!...
No meu tempp não havia modernices dessa da retenção, não sabia chumbava que era pra aprender. Hoje é uma alegria. Boa semana. Gostei do post.
Concordo consigo quando diz que "avaliar" é a parte mais séria do processo ensino aprendizagem.
Também não gosto de catalogar os "nossos" meninos.
Gostei do Blog. Aproveito para desejar Boas Férias!
Fernanda
Li, gostei, admirei...
Concordo consigo por não gostar de "avaliar", esta é a pior fase para o professor.
Fernanda
querida leonor,
espero que esteja tudo bem contigo
vim actualizar a minha leitura semanal do teu blog, deves estar quase de férias, certo?
beijinhos grandes,
alice
yaya...
deixa lá experimnetá-los
besitos
Olá Leonor:
Gostei da resposta rápida e da capacidade de fazer uma amizade.
De Lisboa...??? Qual a zona...???
Já trabalhei em Chelas.
Beijocas,
Fernanda
Não, não escorreram... mas chegaram em quantidade suficiente para toldar minha visão... o presente texto, amiga... porque, à proporção que eu lia, vinha-me à memória fragmentos de outros textos, transbordantes de amor por todos os teus alunos.
Você é uma pessoa mui bacana, Leonor. Dá para perceber claramente (no que escreve) a tua generosidade para com aqueles que te cercam.
Pra ti e para o VP (que aprendi a gostar através de tuas palavras) um abraço fraterno.
Leonor é essa a parte menos agradavel do ensino... mas acredito na competência e como tal sei que serás capaz de avaliar os nininhos sem causar traumas, nem ferir susceptibilidades.
Mas eu acho que se faz um grande alarido à volta da avaliação... pk no fundo e se reparares bem... desde que nascemos começa uma avaliação rigorosa ao ser humano... então pk a surpresa?
Beijo-te.....................
Viva Leonor:
De 1983 a 1993 trabalhei na Escola n.º 9 de Chelas. Inaugurei, na altura, essa escola.
Adorei lá trabalhar, gostei da amizade ali feita e só vim para este lado porque, na altura, a Praça do Areeiro estava em obras e demorava-se uma eternidade para cá chegarmos.
Beijocas,
Fernanda
também não gosto de avaliar, é a parte chata desta profissão... Mas já "chumbei" muitos alunos...se no fim do 2.º ano não souberem ainda ler, tem mesmo de ser. Mas normalmente continuo com eles na mesma turma e continuam a ser meus alunos (um mal nunca vem só, ihihih)
a sabedoria elevada ao máximo expoente, com um denominador comum: seriedade!
Adorei, não sou professor, mas sei avaliar! Nota Máxima!
Gostaria de ter a certeza que todas as avaliações são assim cuidadas.
Gostaria de ter a certeza que todos os alunos mais lentos na aprendizagem, têm um Mestre a puzar por eles no ano novo...
Mas como não tenho a certeza, louvo os que cumprindo as suas tarefas, conseguem ser DIFERENTES E ESPECIAIS!! Como a Leonor!
Posso meter a mão ao saco?? :))
Van
Gostei do seu blog e da sua preocupação com a avaliação. É mesmo um assunto sério. Acho k os pais também íam gostar de pôr a mão no saco. Vale a pena esperimentar...
Mais um excelente "texto educativo" que merece reflexão quanto a avaliações dos alunos. Claro que todos têm capacidades diferentes. Um aluno pode ser tão bom a matemática e ser péssimo a Portugues. Há uns alunos que aprendem mais devagar mas isto não quer dizer que sejam maus alunos... Há muitos alunos, que mesmo aprendendo devagar, chegam a ser "melhores" do que os que avançam depressa. ;-)
Pelo que acabei de ler, gostaria muito que tivesses sido Professora de um dos meus filhos. Talvez tudo tivesse sido diferente. O Professor é parte fundamental na motivação. Um beijo.
tocou-me particularmente este texto. é um texto adulto de quem sabe e quer fazer bem.
Querer fazer bem é que é essencial, já se sabe, e é importante que muitas pessoas queiram de facto fazer bem.
Nós e os nossos filhos viveríamos muito melhor e, sem dúvida, com outro olhar nos olhos uns dos outros se mais pessoas quisessem fazer bem.
Perdoe-me a invasão mas, não podia deixar de espreteitar através da sua janelinha, apenas para deixar um breve comentário:
Tenho uma amiga que também é professora, cujo nome é Eleonor(a), parecido ao seu.Lendo o seus comentários, embora suspeito por estar a defender uma profissão na qual tenhos muitos outros amigos mas,confesso dizer: ser professor(a) nos dias de hoje implica ter tantas aptidões e profissões secundárias quanto imaginação, entre outras, naturalmente; tem de ser "na escola" Super-Mãe, pai, actor, sociólogo, psiquiatra, gestor financeiro, economista, sim porque o ordenado de professor não compensa as dores de cabeça. Bom... melhor mesmo é descarregar no blog os seus bons comentários ao invés de enviarmos cartas, solicitações e sugestões ao Ministério da Educação e aos sucessivos governos deste país que anda aos abanões porque, no que toca a educação, quem vai gerir esta pasta, normalmente são figuras políticas surdas, as vezes mudas, CEGAS e mancas também; quando se trata de se constatar a realidade dos professores in-loco arranjam tão depressa uma muleta e um capote.
Recomendarei à minha estimada amiga que dê uma olhadela no seu blog para que ela aprenda alguns bons truques e , para..., como dizem os nossos irmãos brasileiros "tocar a vida pra frente." sem muitos sobressaltos.
Voltarei ao seu blog se me permitir. Gostei!!
Atenciosamente.
Vaguer
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