Ex Improviso

Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Friday, June 29, 2007

Pela trigéssima sexta vez

Aconteceu mais uma vez. Pela trigésima sexta vez aconteceu outra vez. Juro que não sei como acontece e amedronta-me pensar quantas mais vezes poderá acontecer. É uma sensação horrível de abandono que eu não desejo a ninguém. Fico revoltada comigo mesma. Odeio-me. Felizmente nunca entro em pânico. Acontecer-me logo a mim! A mim que tenho um sítio para cada coisa e cada coisa nunca sai desse sítio.

Penso naquela forma do tempo, Kronos malvado, que passa impiedosamente por mim, no seu tic tac, sem querer saber. Lentamente, o meu estado de desespero conduz-me a outro estado, o da resignação. É Kayros que toma conta de mim agora. Perdi a noção da passagem do outro tempo, e vivo o momento presente que se estende por horas. Saltei para a criatividade do meu íntimo e sou alma.

Busco palavras para músicas, para contos, para respostas.
- Porque deixo ficar as chaves em casa? - grito desesperada.

Leonoreta

Thursday, June 21, 2007

Fragmentos dela, dele e às vezes dos outros (11)

O afecto aumenta com pequenas descobertas que surgem devagar. Não tinham pressa. Inventaram aquela dimensão à sua medida: histórias dentro de outra história. Nem queriam que fosse de outra maneira. Estava bem assim

- Vês aquele pedaço de rio? – Perguntou ele.
- Onde? - Ela não percebeu a pergunta dele.

No meio do espaço ermo, escasso de vegetação, erguia-se um quadrado aberto de cimento branco, suposta janela surrealista enquadrando a paisagem, bocado de rio em movimento. As águas de um rio nunca são as mesmas dissera Heraclito.

Ela vestia uma blusa branca mais ou menos transparente que lhe deixava ver mais ou menos o corpo.

-Estás muito bonita. A transparência da blusa lembra anos 60. - disse ele.

Ela sorriu. Ela gostava da música dos anos 60. Alguma irreverência desse tempo ainda lhe brotava no espírito.

“Puff the Magic Dragon, came across the sea”. Agora a música dos Peter, Paul and Mary não lhe saia da cabeça.

Sentaram-se na areia fina e aquecida pelo sol da tarde. Abrigados pela duna, o mar ficava-lhes fora da vista.

Mais tarde, os dois veriam que não é por acaso que os jardins são verdes porque a cor verde se completa com a cor azul do céu mesmo quando este ameaça ficar cinzento. O verde transforma o tempo do momento no momento sem tempo. Pingos de chuva da manhã, armazenados nas folhas das árvores, continuavam, teimosamente, a cair pela tarde fora.

- Ainda temos uma questão para resolver.- disse ele.

O sexto sentido dela deixou-lhe adivinhar o que seria mas nada lhe dava a certeza. Deixara de ter certezas. Mas alguma vez as tinha tido?

Leonoreta

Friday, June 15, 2007

Cinco livros e outros tantos

A Isabel do blog Bom Dia Isabel

http://bomdiaisabel.blogspot.com/

propôs-me o seguimento da seguinte corrente: dizer quais foram os últimos cinco livros que eu li.
Como já lhe disse, até gosto destas correntes porque as vejo como jogos que quebram a rotina de cada blog. O problema é responder ao convite com brevidade. Ainda tenho que dar seguimento a um Meme também proposto pela Isabel.

Sem querer desiludi-la novamente, aqui estou, já, já, para dizer quais os últimos cinco livros que li ultimamente.

Isabelinha, minha querida amiga que temos em comum o cheiro das amendoeiras e dos medronheiros das serras algarvias, tenho lido tantos livros ultimamente e de rajada e tão de rajada que tenho de apontar o que já li para não requisitá-los outra vez na biblioteca.

Tenho apenas sete dias para ler um livro. Escolho-os de lombada fina para apreender depressa o seu conteúdo. Todavia, se a pouca espessura do livro oferece economia de palavras, cada palavra nele contida transporta-me para conhecimentos que nunca mais acabam em brain storming, alguns frustrando-me pela ignorância.
A senhora da biblioteca, puro coração de ouro, deixa-se subornar pelo meu olhar desconsolado de quem escorre pingos de chuva e renova-me vezes sem conta o pedido do livro. Para veres, Isabelinha, a gravidade do caso, a minha ficha no computador de biblioteca tem a minha fotografia e eu corro o risco de ma publicarem na portaria, no bar, e na repografia da universidade.

Aqui, na biblioteca do sítio onde moro, já não convenço ninguém. Fiquei com três livros durante cinco meses e cancelaram-me futuras requisições pelo mesmo tempo. Pedi por favor, implorei, quase que chorei, mas qual quê!! Nem um laivo de complacência da parte do funcinário que por acaso é o presidente é o presidente da biblioteca.

Claro que depressa dei a volta ao assunto. Ainda no mesmo dia, fiz os meus pais (os dois) portadores de um cartão de leitor e só tive de esperar que quem me negou o pedido se afastasse do balcão. O outro funcionário não sabia de nada.

Bom! Mas vamos aos livros.

Poema Pedagógico de Antón Makarenko – uma pedagogia desenvolvida da existência que surge após a revolução de 1917 na união soviética.

Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire – mais pedagogia

As técnicas de Freinet de Celestin Freneit – mais pedagogia

Ser Pessoa de Carl Rogers – mais pedagogia

A inteligência social de Daniel Golleman – psicologia
a par destes debruço-me por obrigação (mas uma obrigação divertida) da profissão à leitura de um livro infanti por semana. E então foi:
Agora não Duarte - muito bom
Um piolho com miudos - delirante
Marta come a sopa - giríssimo
O nabo gigante - formidável
João porcalhão - fantástico


E como tenho de passar o testemunho a cinco blogs pensei
e "prontos".
Leonoreta

Thursday, June 07, 2007

Morar no campo

Os meus pais moram no campo. Sítio húmido no Inverno e solarengo no Verão, onde uma vegetação aleatória e rebelde de flores amarelas e algumas vermelhas cobre um terreno baldio enorme. Eucaliptos dominam o reino das árvores existente.

- Que flores são aquelas? – pergunta a Ana.
- Quais? As vermelhas? Para mim, flores vermelhas no campo são sempre papoilas. – respondi.

Mas não eram papoilas.

Hoje o espaço aéreo estava repleto de pássaros que voavam em despique de árvore em árvore e alguns a pique a rasarem o chão em brincadeiras de Primavera.

- Que pássaros são aqueles? – pergunta a Ana.
- Quais? Aqueles pequenitos? Para mim, os pássaros no campo são todos pardais. – respondi.

Mas não eram pardais.



leonoreta