Ex Improviso

Mínimo sou, mas quando ao Nada empresto a minha elementar realidade, o Nada é só o Resto. Reinaldo Ferreira

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Dizem que sou como o sol mas com nuvens como na Cornualha

Saturday, April 29, 2006

Como negar a imanência

Leonor envolve as postas de pescada pela farinha enquanto o óleo na frigideira vai ganhando a temperatura ideal para as fritar. Gil, que ultrapassou a sua altura desde que fez os dez anos, aproxima-se dela por trás, tira-lhe o prato do peixe enfarinhado das mãos e pousa-o em cima da mesa. Vira a mãe para ele e , abraçando-a diz-lhe:

- Mami, gosto tanto de ti que quando ris eu rio também.
- Oh, Gil. – responde enternecida Leonor, enlaçada naquele abraço. o óleo vai aquecendo.

- Mami, gosto tanto de ti que quando choras eu choro também. – continuou o Gil
- Oh Gil. – Leonor sente-se aconchegada no abraço ternurento do filho. O óleo vai queimando.

- Mami…
- Sim…
- Fica rica para eu ficar também.

Leonor afastou o Gil, sentindo-se traída por ter acreditado nos sentimentos puros daquela solidariedade filial maternal para depois ter sido apanhada na flagrância do materialismo manifesto do desejo do vil metal.

Gil, afastado bruscamente, não apagou o riso. Continua afastado, mas de braços abertos.

- Mami… é a vida: a transcendência versus imanência. Mami… eu sou imanente: eu existo, sou fixo, perdurável, como, durmo, e a comida e o resto não cai das árvores como no Jardim do Éden.

- Enganaste-me! – Leonor começa a fritar o peixe.
- Não! É tudo verdade!


Da Leonoreta

Saturday, April 22, 2006

Ritmos e Ciclos

Comprei o Borda D’Água! Não resisti. Acho graça àquele almanaque que fala sobretudo de agricultura. Não que me interesse propriamente pela época oportuna de semear salsa, coentros e rabanetes em vasos que colocaria junto à janela da minha marquise onde estendo a roupa mas porque fala também de outras coisas, entre as quais, de ritmos e ciclos que orientam a vida das pessoas.

Segundo o referido livrinho, distribuído pela Editorial Minerva, pela módica ou pela exorbitante quantia de 1 euro e 25 cêntimos, consoante se a pessoa é miserabilista ou perdulária, o ano, para o mais comum dos mortais, não começa no 1º de Janeiro mas no dia do seu aniversário.

Explicando melhor: a Primavera e o Verão são os seis meses que se seguem logo imediatamente ao dia do aniversário e são meses de muita produtividade e de júbilo porque, salvo dois ou três dias negativos que surgem pelo meio, tudo corre pelo melhor. Aproveita-se então para colocar em prática desejos, sonhos e projectos pendentes pois as suas possibilidades de realização são quase certas.

Depois… surgem o Outono e o Inverno que trazem nuvens cinzento carregado pelo que o melhor é ficar quieto e, dar graças a Deus, se conseguirmos levantarmo-nos de manhã e deitarmo-nos à noite, visto que, como diz Mário Mata “há dias em que um homem de manhã que não pode sair à tarde nem voltar de madrugada”.

Assim…(sempre depois do dia do aniversário)

pelos 30 e 36 dias a pulsão é muito positiva.
Pelo 45 dia cuidado com dois dias negativos que podem colocar a nossa vida de pantanas.
Entre os 60 e 75 dias volta a ser uma época positiva.
Pelo 90 dia surgem tensão e dificuldades.
O 120 dia é a melhor época do ano porque começa o verão.
Pelo 135 dia "watch out again" ou ainda, "Hang on!"
Porém, pelo 144 dia começa uma altura muito auspiciosa.

Todavia, pelo 180 dia surgem as dificuldades com a entrada no Outono.
E daí para a frente é tudo a decair. Não saiam da cama. Metam atestados, baixas, e não vão trabalhar.

Resta-nos esperar ansiosamente pelo dia de anos outra vez.
da Leonoreta









Monday, April 17, 2006

Caça ao Ovo

Há quem diga que sou eléctrica. As modernas psicologias dirão que sou hiperactiva. Mas quem me conhece bem, afirma peremptoriamente, sem vacilar, que sou selvagem.

E assim, nas reuniões mensais do Conselho Escolar, onde se redefinem as actividades mensais para o mês seguinte, problemas surgidos na escola e por surgir, de acordo prévio com a coordenadora, eu assisto à reunião com um olho no burro e o outro no cigano. Por outras palavras, ao mesmo tempo que ouço a leitura da acta anterior, a leitura de circulares e os pareceres sobre outros assuntos, corrijo ditados e redacções.

Salvo na reunião que sou eu a fazer a acta. E mesmo assim, a minha hiperactividade faz-se sentir. Todavia, controlo-a mais ou menos bem contando até cinquenta o que perfaz o bonito número de dois mil e quinhentos. Pelo que, chegada a dois mil e quinhentos, ouço e digo: muito bem! Ponto um já está. Siga o ponto dois.

Discutia-se o programa da Homilia Pascal, dia de ensaio na igreja e respectiva missa, na presença da representante da associação de pais. Os meninos do 4º ano lêem as Escrituras. Porque é o seu último ano na escola…

- Em princípio. – disse eu, marcando erros ortográficos com o marcador amarelo, provocando uma pausa silenciosa, contudo, ligeira. A representante da associação continuou.

… porque é o último ano dos meninos e porque tem sido sempre assim. Serão escolhidos mais dois meninos por cada sala para levar a cruz, o pão, a fruta e a bíblia.

- O que é que se dá aos meninos? – perguntei, qual moura caída de pára quedas em terra de celtas.

- O presidente da junta dá sempre coelhinhos de chocolate no fim da missa e amêndoas no último dia de aulas.

- Já agora, que falamos de patrocínios, preciso de ovos de chocolate para fazer uma caça ao ovo no último dia. – pedi descaradamente, ou à junta ou à associação, uma vez que os dinheiros não existem na escola.

- O que se tem comprado são os coelhos e as amêndoas. Nunca se fez uma caça ao ovo.

- Então, provavelmente, é uma boa altura para variar um pouco, senão a tradição sempre tão vincada gera rotina e desmotivação. – o meu debate com a representante animava-se a cada palavra.

- O presidente dá sempre os coelhos e as amêndoas. Tenho a certeza que não dará mais nada.

Percebi, pela omissão, que a associação também não estava disposta a colaborar com a compra de uns sete sacos de ovos de chocolate, tendo em conta que só seria preciso um ovo por cada aluno.

- Não faz mal. Eu compro os ovos e faço o jogo com a minha turma. – continuei a corrigir ditados. O que era permitido à representante da associação chegou ao fim. Ela retirou-se e a reunião seguiu com o pessoal docente.

Dois dias antes das aulas terminarem, a Armanda pergunta-me se já comprei os ovos.

- Ainda não! – disse eu.
- Queres comprar para todos? – perguntou-me.
- Dá-me o dinheiro. – pedi-lhe sem meias medidas.

No último dia, fechámos as três turmas na biblioteca supervisionados pela paciência da dona Dores que os conhece a todos não só da escola como também das redondezas, enquanto eu, a Isabel e a Armanda escondíamos os ovos por entre as ervas do recreio da escola. As minhas colegas, puristas, agachavam-se a cada ovo que escondiam, quase tocando o chão com os joelhos, enchendo as unhas de terra. Eu atirava-os pelo ar, divertindo-me a vê-los a voar.

- Leonor! Que estás a fazer? – perguntava Isabel, divertida.
- A espalhar os ovos, pois então.

Isabel experimenta também, e a seguir a Armanda. Soltámos os miúdos para alívio da auxiliar. Todos gostaram da caça ao ovo. E por acaso, o Jorge, filho da representante da associação disse-me, junto da mãe que assistiu a tudo, que o jogo tinha sido “boé da fixe”. Eu sabia que iria ser, Jorge.


Da Leonor

Tuesday, April 11, 2006

Cultural Mente

Pois é!
De repente, a uma quinta feira, uma dor insuportável ataca-me o lado direito, logo abaixo do peito. Nunca me tinha acontecido e deixei passar uns dias para ver senão era reumático. Sim! Porque o reumático é o grande bode expiatório de tooooooooooooooodas as doenças. Ao fim de dois dias a dor persistia e, na terça feira seguinte à tal quinta feira, lá fui eu ao médico. Exames para aqui, exames para ali. E mais uns remédios.

- Isso dói? Perguntei-lhe desconfiada dos exames.
- Minha senhora, se calhar dói menos que essa dor que aí tem.

Há perguntas abertas que convidam ao diálogo. Porém, não era o caso daquela a que, cuja resposta, me calou de uma vez.

Fim de semana à porta. E na camioneta, com direcção a Lisboa, a dor agudizou-se. A minha cor desvanecia. Gotas de suor corriam pela testa. Arrepios de frio invadiam-me a coluna vertebral. Esforçava-me por não vomitar devido ao cheiro de Chanel nº 5 de uma senhora com o rosto bem empoado de pó de arroz. Se bem que não preciso de problemas de vesícula para me agoniar com esse aroma.

No dia seguinte, a dor continuou. Não podia respirar fundo porque, cada vez que o fazia, a marafada dava alfinetadas incríveis e tal facto fez-me reparar que respirava fundo mais vezes do que eu pensava.

O VP arrastou-me para o hospital mesmo depois de lhe prometer doses reforçadas de batatas fritas e em vez de um ovo a cavalo no bife, levaria dois. No hospital, fui atendida com relativa urgência. Deram-me uma fita amarela, ou seja, entrei às 16h e saí às 22h e 30m, ameaçando numa voz em tom de La na clave de Sol que eu tiraria do braço o adesivo que segurava o balão de soro já completamente vazio.

Concluindo, era vesícula sim senhor…e ainda mais… pedra no rim também. Muito bem!

Esta conversa toda tem por intuito explicar a minha ausência àqueles que já sabem que publico aos sábados e fazem a gentileza de me visitar e lerem as palavras que solto por aqui.

Mas esperem! Ainda não acabou. Entre as minhas visitas ao médico de família e às urgências do hospital fiz um site (Cultural Mente) dedicado à publicação de eventos culturais de todo o país com a intenção de quem ler as referidas publicações, participar nelas, se estiver interessado.

Por exemplo, estou a lembrar-me de um possível concurso literário na Biblioteca de Almada que começa hoje e termina dois meses depois, ou ainda, as noites de Poesia de Vermoím que o José Gomes organiza na cidade do Porto, ou ainda o movimento literário da Comunidade de Leitores da Cultur Gest em Lisboa. E olhem que não é só divulgar. É também dizer de vossa justiça a vossa opinião sobre tais eventos. Esse é o ponto mais importante do tal site.

E aqui vai o link.

http://groups.msn.com/CulturalMente/pginainicial.msnw


E já estou melhor. Obrigado pelas vossas palavras de preocupação e conforto.

Da Leonor

Saturday, April 01, 2006

Sempre alerta para servir

O Gil é o meu caçula.

Fez a sua entrada nos escuteiros aos seis anos. Passou pelos Lobitos, Exploradores, Pioneiros e Caminheiros. Finalmente fez a sua promessa de chefe.

Durante a sua passagem por cada um dos estágios esforçava-se por merecer as respectivas insígnias, exibindo-as com orgulho na camisa, perdendo-as a cada nova promessa.

O rapazinho de barba é o Ricardo. As outras miúdas são a Sara e a Andreia. Estão juntos desde o princípio fazendo a mesma caminhada. Penso que são bonitas estas amizades que vêm desde a infância.

da Leonor